DO MEU ACTIVO DE SER VIVENTE
HEI POR BEM DAR TESTEMUNHO
Parte I
Brasilino Godinho
28/Maio/2020
No meu activo de ser vivente hei, por conveniência
de ilustração, de retornar ao tempo da minha incipiente apreensão de
consciência dessa impressiva condição de existência.
E nela me contemplando, com a vivacidade que me é
reconhecida em correspondência e harmonia com os viçosos 89 anos de vida
terrena, que se completarão no próximo mês de Outubro e ainda habilitado com a
particularidade de ser detentor da soberba condição de paciente da “peste
grisalha”, e sem jamais, que me recorde, ter andado na lua, ou simplesmente
perdido por obscuros ares nunca antes navegados; afirmo que tive uma vida
multifacetada e anoto que a muitas coisas assisti no transcurso de tão
extensiva realidade física e existencial da criatura brasiliana que sou e é
patente à vista desarmada ou através das oculares lentes bem armadas na cara de
qualquer um indígena que se cruze comigo nas andanças que prossigo diariamente…
- com natural exclusão destes três meses em que tenho estado em reclusão de
quarentena.
Sem delonga, concretamente, reporto-me
ao ano de 1938, tendo nessa altura a idade de 8 anos, precisamente quando
aprendi a ler e a escrever na escola primária da Várzea Grande na cidade de
Tomar, ensinado pelo professor Faustino Jacinto Costa, e ensaiava leccionar as
primeiras letras à linda empregada doméstica Arminda, da família vizinha do 2.º
andar do prédio da Rua Joaquim Jacinto, onde ambos tínhamos pousos de
residência, satisfazendo os seus anseios de saber o que estava impresso na
primeira página das edições quotidianas do Diário de Notícias e as legendas das
fotos do general Francisco Franco que eram juntas com os relatos da evolução da
Guerra Civil de Espanha.
De modo que eu soletrando e
praticando leitura, também “ensinava” as primeiras letras à bela moça. Terá
sido com ela a meu lado, por muitas vezes, rindo com as minhas observações, que
o Brasilino Godinho deu arranque e radicalização de fascínio pelo belo sexo? Transcorridas
inúmeras luas, passadas dezenas de anos, devo admitir publicamente que, nessa
altura de invulgares circunstâncias, tal estado de veneração pelas mais belas
flores da Natureza, se firmou avassaladoramente no meu espírito e se mantém
vigorosamente até à presente data.
E por que falei de coisas a que
junto loisas de tempos recuados ao século XX, em plena vigência do Estado Novo
que há expirado de velhice e necrose incurável, naturalmente o meu pensamento
tendeu a confrontá-las com aqueloutras que se nos deparam todos os dias na
actual vigência da república partidocrática.
Para início de descritiva
enunciação, dir-se-ia que panorâmica, do português espaço sociocultural, circunscrito
ao meu tempo existencial, aponto personagens, actividades, eventos,
acontecimentos e situações de relevante interesse e representatividade da época
do regime fascista português e do correlativo estádio sociocultural; uns,
outros e aqueloutras, todos, sublinho, fixados em posição de destaque no meu vasto
acervo memorial.
Claro que época do salazarismo
compreendida no século XX e contada a partir do ano de 1938.
Anoto que hoje é o dia 28 de Maio
de 2020.
E ao que julgo saber, ninguém nos
órgãos da Comunicação Social fez menção de que hoje perfaz 94 anos sobre a data
(28 de Maio de 1926) do início em Braga, da chamada Revolução Nacional que
instaurou a Ditadura Militar e proporcionou a ascensão do maçon António
Oliveira Salazar à chefia do Governo, por chamamento de outro maçon general
António Fragoso Carmona, presidente da República Portuguesa. Assim se
desencadeou um processo de instauração e consolidação do complexo Estado
Maçónico, designado de Estado Novo (certamente para não se confundir com o
Estado Velho, da Primeira República, também ele de matriz maçónica) que vigorou
até ao dia 25 de Abril de 1974, concebido e moldado segundo os interesses, os
desígnios e a mentalidade de Oliveira Salazar. Vale a pena referir que escassos
anos após a data (25 de Abril de 1974) da Revolução dos Cravos, alguém escreveu
em texto publicado na imprensa que o regime do Estado Novo tinha sido o apogeu
de um Estado maçónico, em Portugal.
Aproveito o ensejo para dizer que
de facto o Estado Novo foi um Estado dominado pela Maçonaria e que naquela
altura em que assim foi classificado haveria sentido em fazer público
reconhecimento do seu apogeu funcional.
Contrariamente ao que possa
parecer o Estado maçónico não colapsou com a Revolução dos Cravos. Logo no dia
25 de Abril de 1974 se iniciou a recomposição maçónica sob outra matriz
operacional. O primeiro chefe do Governo Provisório, Professor Doutor Adelino
da Palma Carlos era maçon e todos os presidentes das direcções da RTP que se
foram sucedendo na função presidencial usufruíam de um estatuto comum: filiados
na maçonaria. E no que toca a pessoal ministerial nem vale a pena perder tempo
e ocupar largo espaço a mencioná-los.
Abreviando considerações,
escrevo: A República Portuguesa é hoje um Estado Maçónico completamente cingido
às directivas das várias fraternidades que procuram entre si repartir os
instrumentos do Poder e exercer determinante influência em todos os sectores da
sociedade portuguesa: Estado, Governo, Assembleia da República Autarquias, Magistratura
Judicial, Tribunais, Forças Armadas, Polícias, Universidades, Escolas, Academia
de Ciências, Igreja, Ordens Profissionais, Profissões Liberais, Bancos, Indústria,
Comércio.
Nalguns casos a Maçonaria reparte
poder e influência com a Opus Dei. O que sucede com extremo cuidado de não suscitarem
entre si querelas ou desentendimentos que extravasem para o exterior das duas
organizações secretas.
Como já tem sido anunciado
publicamente por alguns grão-mestres: A Maçonaria é um Estado, dentro do
Estado.
(Continua na Parte II)
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