Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quinta-feira, setembro 20, 2018



PRESIDENTE MARCELO REBELO DE SOUSA ORA FALHOU
QUER NO PAPEL DE COMPETENTE PROFESSOR MARCELO
QUER NO PAPEL DE MÍTICO PROFESSOR MARTELO DA TV
                             
Brasilino Godinho 
18 de Setembro de 2018 

01. Ontem transmitida pela agência Lusa e escrita nos jornais e dita nas televisões e rádios, a seguinte declaração do Presidente da República:
 "Eu, como professor, tenho a certeza que os professores de Portugal são dos melhores do mundo, porque têm esperança, porque transmitem essa esperança, porque olham para o futuro e porque estão disponíveis.
Esta é uma afirmação do Presidente Marcelo proferida durante o cerimonial de arranque do ano lectivo em Celorico de Basto.
A meu ver, infeliz e sem sentido de objectividade. De tamanha desconformidade que a ela cabe propriedade de aplicação da expressão popular romana: “sem pé, nem cabeça.” E que surpreende ser de autoria de um cidadão mui inteligente e brilhante professor catedrático da reputada Universidade de Lisboa.

02. O Presidente Marcelo começou por evocar a sua qualidade de professor para dizer da sua “certeza que os professores de Portugal são dos melhores de mundo”. Desde logo: há que perguntar como chegou a tão apressada e inconsistente conclusão?
A resposta envolvida na vacuidade de uma representação mental abstracta, veio de supetão: são melhores “porque têm esperança, porque transmitem essa esperança, porque olham para o futuro e porque estão disponíveis”. Fantástica a utilidade da esperança… Felicidade suprema: eles, professores portugueses sortudos, coleccionam esperanças… Presidente Marcelo dixit! Registe-se!...
Mas, de imediato, observe-se que o Professor Marcelo também está possuído da certeza de que os outros professores do mundo serão uns desgraçadinhos e não devem aspirar a serem melhores que os seus colegas portugueses, dado que não têm esse maravilhoso predicado da esperança, que sublinhe-se, é apresentado orbi et orbi como exclusivo apanágio dos docentes de Portugal. Por outro lado, eles, estrangeiros de má sorte, estão impossibilitados de transmitir aquilo que não têm (as esperanças). Pior para eles: nem sequer usufruem da visão do futuro, por manifesta e desinfeliz falta de esperança – a qual sobra resplandecente nos professores potugueses, segundo assevera o convencido e convincente Presidente Marcelo
E, certamente, por a esperança faltar aos professores do mundo, é de presumir que nem estarão disponíveis para o que der e vier. Uma desgraceira para eles, num mundo avaro – uma felicidade para os colegas lusos, radiantes, no deslumbrante Portugal.
Fiquei surpreendido com a informação do Professor Marcelo de que os professores de Portugal se realizam na vida profissional ao ponto de serem classificados como dos melhores do mundo, por (quem imaginaria?) terem absurdas esperanças… Só que não indicou qual a natureza dessa misteriosa amálgama de esperanças. Além de que eles transmitem essas esperanças: nas a quem? E em que circunstâncias? 
Mais intrigante é o facto apontado pelo Presidente Marcelo de que eles, os professores,
olham para o futuro. Não seria recomendável que também olhassem para o passado?... E como poderão eles ignorar o triste e detestável presente? Mas pergunto eu: que futuro? Acaso um porvir venturoso, supondo estarem a visioná-lo no horizonte que os rodeia, quando se dão ao trabalho de tentar observá-lo com as potentes lentes de longo alcance de que, porventura, concedendo-se o benefício do problemático optimismo, serão privilegiados detentores?
De salientar que, como afirma o Presidente Marcelo, os professores estão disponíveis e também por essa confortável paz de alma, eles são dos melhores do mundo. Aos professores dirijo meus votos: não percam essa paz de alma… Poupem Sua Excelência. Com vista a evitarem-lhe o dissabor de, para o ano, ele vir informar a malta de que os professores portugueses são dos piores do mundo; porque perderam as famigeradas esperanças… vade retro Satana!

03. Em síntese: não sendo possuído de certezas como o é o Presidente da República, sobretudo quando encarna a pessoa do Professor Marcelo e a condição de comentador e professor Martelo das televisões, digo que julgo terem os professores ficado surpreendidos – tanto, quanto eu - com a classificação de melhores do mundo; exactamente porque atendendo (quem diria?) à excelência do multifacetado conjunto de esperanças que lhes foi atribuído, na extraordinária, espantosa e histórica, intervenção do Presidente Marcelo; certamente havida em momento de incrível inspiração de Sua Excelência.
Mais importa anotar que o Presidente Marcelo é livre de pensar seja lá o que for; mas mesmo, focando-me na sua qualidade de professor, atrevo-me a considerar que ele não tem a certeza (que apregoou) de que os professores portugueses serão dos melhores do mundo. Ainda, por cima partindo de tão enganosa e absurda argumentação/fundamentação. Aliás, eles nunca se empenharam em qualquer disputa correspondente a semelhante apuramento classificativo da sua valiosa actividade profissional. Nem dele precisam! Para creditarem seu meritório trabalho a Bem da Nação. Importa que o Poder e o povo reconheça o valor da actividade docente e dignifique o respectivo magistério. Com procedimentos consistentes e adequados.
Igualmente releva a circunstância de que os professores não estão em condições de transmitirem quaisquer esperanças, por que eles nem têm esperanças de um bom ou regular futuro para as suas actividades profissionais, para a progressão das carreiras e colocações definitivas nas escolas das proximidades dos seus lares e para uma existência tranquila. E a maioria da população portuguesa não ignora esse clima de insegurança, de desesperança, de inquietação e até de indignação, que prevalece na classe dos professores de todos os escalões do Ensino.    
Quanto a estarem disponíveis – não para acalentar as esperanças idealizadas pelo Presidente da República, mas para exercerem o professorado, claro que estão – nisso acertou o Presidente Marcelo. Só que é a profissão deles e têm direito ao exercício correspondente e a ajustada remuneração. Além de terem prementes exigências de que não podem prescindir: comer, vestir, calçar, residência, tratar da manutenção da família, educar os filhos, e assegurarem-se de dignas condições de vida na decorrência do dia-a-dia da sua existência que, geralmente, é de sobressalto e inquietação. A realidade da situação e de suas múltiplas condicionantes, força-os à inevitável disponibilidade aludida pelo Presidente da República. Uma verdade de Senhor De La Palisse…

04. Concluindo: As esperanças várias sobre um futuro risonho e atraente que, eventualmente, seriam tidas pelos professores e milhões de portugueses, há muito que foram de vela em Portugal.
Daí, que reitero: O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, em Celorico de Basto, falhou. Precisamente, na descabida, exagerada, incongruente, e floreada prenda oferecida aos professores, como se fosse prémio de consolação; que, aliás, dele não estavam carecidos ou desejosos.                                                                    
Quem disser o contrário estará mergulhando num abismo de fingimento, de irrealismo, e de falsidade. A mal da Nação.

Nota: Sublinhados e negritos introduzidos pelo autor.
Esta crónica foi escrita com activo repúdio do malfadado e detestável Novo Acordo Ortográfico.            

Informação de última hora:   
A esta crónica acrescentarei uma ADENDA que será publicada a 20 de
Setembro de 2018.