PRESIDENTE
MARCELO REBELO DE SOUSA ORA FALHOU
QUER NO
PAPEL DE COMPETENTE PROFESSOR MARCELO
QUER NO
PAPEL DE MÍTICO PROFESSOR MARTELO DA
TV
Brasilino
Godinho
18 de Setembro de 2018
01. Ontem transmitida pela
agência Lusa e escrita nos jornais e dita nas televisões e rádios, a seguinte
declaração do Presidente da República:
"Eu, como professor, tenho a certeza que
os professores de Portugal são dos melhores do mundo, porque têm esperança,
porque transmitem essa esperança, porque olham para o futuro e porque estão
disponíveis.
Esta é uma afirmação do Presidente Marcelo
proferida durante o cerimonial de arranque do ano lectivo em Celorico de Basto.
A meu ver, infeliz e sem sentido de objectividade.
De tamanha desconformidade que a ela cabe propriedade de aplicação da expressão
popular romana: “sem pé, nem cabeça.” E que surpreende ser de autoria de um
cidadão mui inteligente e brilhante professor catedrático da reputada
Universidade de Lisboa.
02. O Presidente Marcelo começou por evocar a sua
qualidade de professor para dizer da sua “certeza que os professores de Portugal são
dos melhores de mundo”. Desde
logo: há que perguntar como chegou a tão apressada e inconsistente conclusão?
A resposta envolvida na vacuidade de uma
representação mental abstracta, veio de supetão: são melhores “porque têm
esperança, porque transmitem essa esperança, porque olham para o futuro e
porque estão disponíveis”. Fantástica a utilidade da esperança… Felicidade
suprema: eles, professores portugueses sortudos, coleccionam esperanças…
Presidente Marcelo dixit! Registe-se!...
Mas, de imediato, observe-se que
o Professor Marcelo também está possuído da certeza de que os outros
professores do mundo serão uns desgraçadinhos e não devem aspirar a serem
melhores que os seus colegas portugueses, dado que não têm esse maravilhoso
predicado da esperança, que sublinhe-se, é apresentado orbi et orbi como
exclusivo apanágio dos docentes de Portugal. Por outro lado, eles, estrangeiros
de má sorte, estão impossibilitados de transmitir aquilo que não têm (as
esperanças). Pior para eles: nem sequer usufruem da visão do futuro, por
manifesta e desinfeliz falta de esperança – a qual sobra resplandecente nos
professores potugueses, segundo assevera o convencido e convincente Presidente
Marcelo
E, certamente, por a esperança
faltar aos professores do mundo, é de presumir que nem estarão disponíveis para
o que der e vier. Uma desgraceira para eles, num mundo avaro – uma felicidade para
os colegas lusos, radiantes, no deslumbrante Portugal.
Fiquei surpreendido com a
informação do Professor Marcelo de que os professores de Portugal se realizam
na vida profissional ao ponto de serem classificados como dos melhores do
mundo, por (quem imaginaria?) terem absurdas esperanças… Só que não indicou
qual a natureza dessa misteriosa amálgama de esperanças. Além de que eles
transmitem essas esperanças: nas a quem? E em que circunstâncias?
Mais intrigante é o facto
apontado pelo Presidente Marcelo de que eles, os professores,
olham para o futuro. Não seria recomendável que
também olhassem para o passado?... E como poderão eles ignorar o triste e
detestável presente? Mas pergunto eu: que futuro? Acaso um porvir venturoso, supondo
estarem a visioná-lo no horizonte que os rodeia, quando se dão ao trabalho de tentar
observá-lo com as potentes lentes de longo alcance de que, porventura,
concedendo-se o benefício do problemático optimismo, serão privilegiados
detentores?
De salientar que, como afirma o Presidente Marcelo, os professores estão disponíveis e também
por essa confortável paz de alma, eles são dos melhores do mundo. Aos
professores dirijo meus votos: não percam essa paz de alma… Poupem Sua
Excelência. Com vista a evitarem-lhe o dissabor de, para o ano, ele vir
informar a malta de que os professores portugueses são dos piores do mundo;
porque perderam as famigeradas esperanças… vade
retro Satana!
03. Em síntese: não sendo possuído de certezas como
o é o Presidente da República, sobretudo quando encarna a pessoa do Professor
Marcelo e a condição de comentador e professor Martelo das televisões, digo que
julgo terem os professores ficado surpreendidos – tanto, quanto eu - com a
classificação de melhores do mundo; exactamente porque atendendo (quem diria?)
à excelência do multifacetado conjunto de esperanças que lhes foi atribuído, na
extraordinária, espantosa e histórica, intervenção do Presidente Marcelo;
certamente havida em momento de incrível inspiração de Sua Excelência.
Mais importa anotar que o Presidente Marcelo é
livre de pensar seja lá o que for; mas mesmo, focando-me na sua qualidade de
professor, atrevo-me a considerar que ele não tem a certeza (que apregoou) de que os professores portugueses serão
dos melhores do mundo. Ainda, por cima partindo de tão enganosa e absurda argumentação/fundamentação.
Aliás, eles nunca se empenharam em qualquer disputa correspondente a semelhante
apuramento classificativo da sua valiosa actividade profissional. Nem dele
precisam! Para creditarem seu meritório trabalho a Bem da Nação. Importa que o
Poder e o povo reconheça o valor da actividade docente e dignifique o
respectivo magistério. Com procedimentos consistentes e adequados.
Igualmente releva a circunstância de que os
professores não estão em condições de transmitirem quaisquer esperanças, por
que eles nem têm esperanças de um bom ou regular futuro para as suas
actividades profissionais, para a progressão das carreiras e colocações
definitivas nas escolas das proximidades dos seus lares e para uma existência
tranquila. E a maioria da população portuguesa não ignora esse clima de
insegurança, de desesperança, de inquietação e até de indignação, que prevalece
na classe dos professores de todos os escalões do Ensino.
Quanto a estarem disponíveis – não para acalentar
as esperanças idealizadas pelo Presidente da República, mas para exercerem o
professorado, claro que estão – nisso acertou o Presidente Marcelo. Só que é a
profissão deles e têm direito ao exercício correspondente e a ajustada
remuneração. Além de terem prementes exigências de que não podem prescindir:
comer, vestir, calçar, residência, tratar da manutenção da família, educar os
filhos, e assegurarem-se de dignas condições de vida na decorrência do
dia-a-dia da sua existência que, geralmente, é de sobressalto e inquietação. A
realidade da situação e de suas múltiplas condicionantes, força-os à inevitável
disponibilidade aludida pelo Presidente da República. Uma verdade de Senhor De
La Palisse…
04. Concluindo: As esperanças várias sobre um
futuro risonho e atraente que, eventualmente, seriam tidas pelos professores e
milhões de portugueses, há muito que foram de vela em Portugal.
Daí, que reitero: O presidente Marcelo Rebelo de
Sousa, ontem, em Celorico de Basto, falhou. Precisamente, na descabida,
exagerada, incongruente, e floreada prenda oferecida aos professores, como se
fosse prémio de consolação; que, aliás, dele não estavam carecidos ou
desejosos.
Quem disser o contrário estará mergulhando num
abismo de fingimento, de irrealismo, e de falsidade. A mal da Nação.
Nota: Sublinhados e negritos
introduzidos pelo autor.
Esta crónica foi escrita com
activo repúdio do malfadado e detestável Novo Acordo Ortográfico.
Informação de última hora:
A esta crónica acrescentarei uma ADENDA que será publicada a 20 de
Setembro de 2018.
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