A PROBLEMÁTICA DO ORÇAMENTO
Brasilino
Godinho
Octogenário que sou tenho
presente no meu espírito um dado impressivo de uma realidade que permanece
imutável desde o século XIX: o Orçamento do Estado é flor que não se cheira e
desperta sempre reacções alérgicas que, nos últimos anos, se têm acentuado
devido ao ingrediente austeridade que lhe foi introduzido e nele provocou um
odor insuportável para muitos cidadãos que, de todo, não podiam (nem podem) ignorá-lo
ou afastarem-se dele.
Mas quando vem à tona a
problemática do Orçamento importa tomar consciência de que ele não é só
detestável pelo mau cheiro que afecta, sobremaneira, pituitárias mais sensíveis;
pois que, geralmente, pela matéria que lhe confere estrutura anatómica de
funcional aplicação, provoca graves danos colaterais no tecido social português
que se reflectem na quotidiana vivência dos portugueses das classes mais
desfavorecidas.
Por isso, de forma objectiva há
que assinalar ser o Orçamento, por via de regra vigente desde o século XIX, uma
coisa malsã. Temida antes de surgir mais ou menos enfeitado com roupagens de
tons esbatidos a tenderem para o cinzento; e odiada, pós registo de criação
oficial. Para além do ódio também suscita sofrimento e lágrimas a muitos
cidadãos.
Relativamente ao Orçamento
faço-lhe apreciação sob dois ângulos:
- o primeiro, como sentindo em
mim próprio o sofrimento alheio e as lágrimas das vítimas de tal coisa malsã e
a impotência de nada poder evitar ou atenuar os terríveis efeitos que ela gera
em parte apreciável da nação portuguesa;
- o segundo, tentando ultrapassar
- por pouco que seja - tão penoso circunstancialismo e trazer alguma boa
disposição, ainda que momentânea, a todos os deserdados da sorte. Para alcançar
esse agradável objectivo de contraposição, recorro à ironia, à metáfora e à
mordacidade.
A Bem do Povo!
Que sofre! Que labuta! Que é
explorado! Que é enganado! Que é humilhado!
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal