A PARÓDIA DA PARADA DE MARIAZINHA
Brasilino Godinho
07-12-2016
Nas últimas semanas muito escrevi
sobre a PARADA DA PARÓDIA MARCELINA,
que está em curso.
Hoje, no presente acto de
escrita, mal parecia que me alheasse da PARÓDIA
DA PARADA DE MARIAZINHA.
Este divertimento eleitoral é um
misto de folclore político, de desporto eleitoral e de arte poética.
Deixo de lado as partes
folclórica e desporto eleitoral, que integram a PARÓDIA DA PARADA DE MARIAZINHA, que são triviais, desinteressantes
e nem despertam curiosidade, para fixar atenção sobre a componente artística
que sobressai no divertimento eleitoral com que a malta indígena se vai entretendo…
Diga-se que componente artística
onde assenta, como arrendada luva branca na delicada mão de Mariazinha de
Belém, um mérito artístico que cabe por inteiro ao poeta Manuel; que sendo cidadão
triste por suposto feitio e hirta presença, é Alegre por condição identitária.
A Mariazinha de Belém, para além
de breves, brilhantes, intervenções na paródia da parada aqui focada, em que
vai, com zelo e determinação invulgares, protestando a sua virgindade política no
que concerne a matérias várias de presidenciais representações e noutras
indeterminadas suposições e imprecisas articulações, por mais abstractas ou
convencionais que hajam espaços de escrutínio nas cachimónias dos indígenas
afectos às direitas e desafectos às esquerdas e vice-versa; limita-se a marcar,
obstinadamente, presença e exuberância de riso, que mais realça e valoriza com
habilidosos movimentos de mãos, conforme mostra a fotografia abaixo inserida.
O vate aguedense andou mutos anos
a declamar a ‘TROVA DO VENTO QUE PASSA’ .
Mas há semanas o poeta Manuel
terá sido apanhado em contramão nas lisboetas Avenidas Novas por fãs (termo da
moda) da Mariazinha e convencido, a título de reconhecimento por antiga amizade
cultivada no Largo do Rato, em Lisboa e moderna deferência de âmbito eleitoral,
a ser emblemática figura tutelar da Mariazinha de Belém, enquanto esta atleta
do desporto político, actualmente inscrita na modalidade de atletismo eleitoral,
prosseguir em prova.
Tratou-se de investidura numa
complicada função e que levou Manuel Alegre, que tão habituado estava a
declamar a ‘TROVA DO VENTO QUE PASSA’, a ver-se constrangido, a recitar com
aquelo seu característico vozeirão a TROVA DO VENTO QUE NÃO PASSA PELA BELÉM DA
MARIAZINHA (quem diria que este desacerto da natureza naturada logo
havia de acontecer com a Mariazinha…) enquanto percorre as ruelas das velhas
Alfamas, Mourarias e Bairros Altos, da alfacinha cidade à beira-Tejo plantada,
razoavelmente integrado na PARÓDIA DA PARADA DE MARIAZINHA. Com uma vantagem de
Manuel Alegre, não despicienda: Até ao dia de hoje, ainda não suscitou qualquer
reclamação por mau ou deficiente desempenho do lugar que lhe destinaram na já
famosa PARÓDIA DA PARADA DE MARIAZINHA – uma façanha que o credita como
um grande artista bastante representativo em sede de paródias e de paradas…
Todavia, não custa pressentir que:
- Poeta Alegre, triste (embora às
vezes esboce um sorriso forçado de disfarce para o boneco fotográfico), sofre!...
- Atleta Mariazinha, risonha,
festeja-se…
Na circunstância, a certeza: não faltará algum fadista que, desvairado
e irrompendo de uma mal-assombrada esquina, grite para o empregado de tasca da
vizinhança: Saiam umas ginjinhas, para animar a malta!
Entretanto, como se o grupo
acompanhante do poeta Alegre e da atleta Mariazinha estivesse no Minho, alguém
em tom imperativo lança o brado: SIGA A RUSGA!
Por certo, a rusga seguiu. Porém,
foi tristíssimo abuso de linguagem e desatenção imperdoável. Devia ter gritado:
Siga a paródia! Ou mais precisa e reverentemente: Siga a PARÓDIA DA PARADA DE MARIAZINHA!
Talvez até que, por feliz acaso
de encontro, com imprevisto acompanhamento de Marcelo e de sua trupe alaranjada,
cantando a célebre canção:
Lá vamos, cantando e rindo (sublinhado aqui, significativamente, acrescentado ao
original)
Levados, levados, sim
Pela voz de som tremendo (voz de Manuel Alegre)
Das tubas, clamor sem fim.
Levados, levados, sim
Pela voz de som tremendo (voz de Manuel Alegre)
Das tubas, clamor sem fim.
Lá vamos, que o sonho é lindo!
Torres e torres erguendo.
Rasgões, clareiras, abrindo!
Tronco em flor estende
os ramos
Ao Marcelo e à Mariazinha
Ao Marcelo e à Mariazinha
Que passam curtindo…
Nestes dois últimos versos o regente de coro trocou Mocidade
por Marcelo e Mariazinha e acrescentou curtindo.
Visto, lido e respigado: fez, faz e fará sentido…
Meu registo:
Facto insólito e indício de
iliteracia cultural, o de ninguém se ter apercebido que Marcelo e seu grupo
cantavam o hino da Mocidade Portuguesa, dos tempos do jovem Marcelo… do Estado
Novo de António Oliveira Salazar e do Estado velho e carunchoso herdado por
Marcelo Alves Caetano.
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