Eleição presidencial?
Ou eleição de Miss Portugal?
Brasilino Godinho
03-01-2016
Nunca
se viu coisa igual em Portugal. Sou levado a pensar que jamais no Mundo.
A
eleição presidencial está sendo transformada em algo absurdo e maquiavélico. À
semelhança de uma eleição de Miss Portugal. Encarnada na pessoa de Marcelo
Rebelo de Sousa; que admito não se sinta bem com essa figuração.
Mas
a verdade é que está criado o clima, fixada a encenação e arregimentados os
operadores e ajudantes das múltiplas tarefas envolvidas na difusão pública,
para além da região saloia de Lisboa e arredores, da retocada imagem pictural
de Marcelo Rebelo de Sousa.
Hoje
mesmo o jornal Público apresenta a
primeira página quase exclusivamente preenchida com a fotografia de corpo
inteiro de Marcelo Rebelo de Sousa, como se ele fosse candidato num concurso de
beleza. Só faltou apresentarem-no de bikini o que, provavelmente, ainda
causaria mais furor e fervor nos seus admiradores e amigos dos dois sexos… E
também esquecido o directo, veemente, espaventoso, apelo ao voto, direccionado
às claques…
Porém,
o jornal não esteve com meias medidas. Simultaneamente publica uma entrevista de
seis páginas, associada a um incrível e nada decente artigo de última página, extremamente
demolidor para os outros candidatos. Todo um pacote jornalístico elaborado em
termos de conjunção de data e de conteúdos, sob nítido intento promocional e propagandístico
do candidato presidencial Marcelo.
Factos
como este, não devem passar despercebidos às pessoas que navegam nas águas
límpidas da transparência, da seriedade e da ética. E têm de ser denunciados urbi et orbe, por muito que isso custe a
suportar ou muito incomode a quantos se comprazem nos exercícios das
aparências, nas práticas das mentiras e nos arremessos das barbaridades; as
quais cada vez mais se ouvem nas rádios e nas televisões e se lêem no Facebook
e nas folhas avulsas dos periódicos alinhados com os expedientes e subterfúgios
de grupos influentes e dominadores agregados num complexo sistema de obscura ambiência
que, apoiando-se na hipocrisia funcional, os tutela e (ou) os mantêm.
A
campanha eleitoral em curso está demonstrando que se desprezam ou se omitem os
valores que a deviam credibilizar. Concretizando: ela ser orientada no sentido
de possibilitar ao eleitorado a responsável escolha do candidato que reunisse
os imprescindíveis atributos que devem ser os de um digno e respeitado Chefe de
Estado. Este, Supremo Magistrado da Nação, necessariamente que tem de ser
detentor de capacidade intelectual, de inquestionáveis qualidades de carácter,
de seriedade, de isenção, de firmeza de convicções, e com tradição de práticas
e comportamentos de inequívoca moralidade, notória prevalência ética, explícita
coerência e de constante fidelidade aos ideais da República, da Democracia, compaginados
com o respeito e acatamento relativos à Constituição da República Portuguesa.
Mais: nele admitida a inteira
observância do normativo da Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Porém,
o que vemos exposto nos mais diversos espaços mediáticos é que se procura
incutir nos eleitores outras condicionantes da eleição, bastante primárias e redutoras,
como sejam: os graus de simpatia e
de conhecimento pessoal muitas vezes adquirido pelas ocasionais audições e
visualizações das conversas do
ex-comentador televisivo Marcelo, nos vários órgãos de comunicação social.
Estar
isto acontecendo em Portugal, é um drama nacional. Uma intolerável aberração
cívica. Um vergonhoso atraso cultural de um muito antigo Estado/Nação,
integrante da Europa. A caracterizar um Estado de Terceiro Mundo.
Nesta
foto de primeira página do Público, antes
citada, se confirma o nosso vaticínio,
repetidamente anotado em textos de opinião, de que Marcelo, se for eleito, vai
levar à cena - no Palácio de Belém e protagonizar, com recurso a linguagem
gestual de muitos sorrisos, trejeitos e piscar de olhos direccionado para o
sector chique da plateia - seleccionadas peças de teatro ligeiro de textura
político/partidária de que, como consagrado artista, tem larga experiência de
muitos anos de representações nos estúdios das Televisões…
Importa
destacar que Marcelo nunca foi cultor de teatro clássico. A sua inclinação é
toda para a comédia ligeira muito do agrado e aceitação dos seus indefectíveis
admiradores e correligionários… Claro que dessa predisposição e contínua prática
tem recolhido grandes e sonantes proventos materiais e fecundos índices de
popularidade. Aliás, geridos intensamente, em crescendo operacional, pelos
afeiçoados técnicos das sondagens e pelos compinchas profissionais dos órgãos
de comunicação social.
Fim
0 Comentários:
Enviar um comentário
<< Página Principal