Ministra Elisabeth Speaker, norueguesa, para Cavaco Silva:

Toma lá um bacalhau para a ceia de Natal.

E deixa-te de cantigas. Que aqui não colam.

Levas um belo exemplar e já vais com muita sorte.

Repare-se que Cavaco, com a mão direita bem firme sobre o bacalhau (como se dissesse: este já ninguém mo tira) e a manápula esquerda sobre o peito, contraído, nariz espetado, olhar mortiço, está meio atordoado…

Confirmadas as previsões dos resultados da grã

viagem turística de Cavaco, D. Maria e Comp.ª, L.ª,

à bela capital Oslo e, talvez, aos fiordes da Noruega

Brasilino Godinho

Com a devida vénia à agência Lusa e ao repórter António Cotrim, reproduzimos a foto de presidente Cavaco Silva no momento em que recebia o bacalhau das mãos da ministra norueguesa. A nota da fala de Elisabeth Speaker é de nossa livre tradução do teor que lográmos aperceber à considerável distância em que nos encontrávamos daquele enternecedor acontecimento…

Este documento fotográfico é muito importante porque denota a confirmação do resultado que antevíamos da digressão turística e comercial de Cavaco Silva e seus 70 acompanhantes à Noruega. Ontem, Cavaco acrescentou mais um epíteto à excursão: científica. Assinale-se que é a primeira vez que a excelência presidencial se enriquece a si própria com o adorno científico.

Desde já se diga que tudo leva a crer que o grande êxito de Cavaco Silva seja o bacalhau que obteve, por mercê e gesto simpático de consolação, da parte da generosa ministra do governo da Noruega. Tal e qual como prevíramos em crónica de anteontem.

Mas aqui entre nós, que também não vamos em cantigas cavacais, e como referência que todos hemos de reter em reserva intelectual e conforme à imprescindível prática de higiene mental que devemos impor a nós mesmos, nunca entrou em Portugal um bacalhau de custo tão elevado (o valor total das despesas com a ida, a estadia e o regresso da Noruega da numerosa comitiva formada por mais de 70 mamíferos, da classe dos vertebrados superiores, que se caracterizam por serem homotérmicos e terem mamas) como aquele exemplar de peixe teleósteo que Cavaco Silva vai ostentar como se fosse troféu de caça quando, no regresso, desembarcar no Aeroporto da Portela. Os repórteres fotográficos estejam atentos e não se esqueçam de bater as chapas para que fique registado para a posterioridade tão insólito e pinturesco acontecimento.

Assim seja!...

Nota marginal: Ir à Noruega e vir com um bacalhau - dir-se-ia que custeado a peso de ouro – é um benefício irrisório em contraposição a tamanho esbanjamento despesista. Não teria sido melhor e sem atingir as bolsas dos contribuintes portugueses, que Cavaco Silva e sua esposa D. Maria tivessem ido comprar um qualquer exemplar da mesma espécie no Pingo Doce, do amigo Alexandre Soares dos Santos? Que, se prevenido, até, talvez, daria ordem à caixa para não ser cobrada a respectiva importância