Mais
uma cavacal orgia turística
de
caixeiro-viajante, na Noruega
Brasilino Godinho
01.
Desta vez, a partir de ontem (04/5/2015), Cavaco Silva, na admitida condição de
caixeiro-viajante, encontra-se na Noruega ocupadíssimo na ingente tarefa de
dar-se banhos mediáticos das televisões portuguesas e doutros órgãos de
comunicação social nacionais, com o anunciado propósito de: apresentando-se bem penteado, melhor vestido, finoriamente
calçado e profusamente adornado com todos os não recomendados e pouco vistosos endereços;
e, sobremodo, municiado com um arsenal de vulgares instrumentos de persuasão
física, mental e de outros característicos apetrechos de primária ou incipiente
arte malabarística; realizar grandes negócios com os crédulos noruegueses. Para
o transcendente efeito, fez-se acompanhar da esposa, de ajudantes e assistentes
de viagem e de 70 pessoas, segundo os dados que foram facultados à imprensa.
Assim, a cavacal excelência presidencial agindo; qual antecipado Pai Natal que,
fora da sua época, distribui brindes turísticos pela rapaziada amiga e por
alguns profissionais do comércio e da indústria que, ainda, sobrevivem no
pântano das falências; o qual, diga-se, é um emblemático espaço paisagístico
deste nosso Portugal destroçado.
A
estadia na Noruega segue-se à digressão turística que a mesma presidencial
figura, acolitada pela condescendente (que aparenta ser) e venerável Senhora D.
Maria (esposa do venerando Chefe do Estado) e por numerosa comitiva, fez em
data não muito afastada à China.
E
se dessa viagem ao longínquo país asiático Cavaco não deu aos portugueses cavaco
(relatório) nem amostragem de resultados, porque a mesma foi, sem margem para
dúvidas, uma digressão turística e mal parecia mencionar, sem disfarces,
eventos gastronómicos, de lazer e de digressões por diversas áreas; é de
esperar que, também agora, não haja referências sobre as contrapartidas do
rombo no Orçamento que comporta esta digressão turística, embora rotulada de
comercial, ao país dos fiordes e dos ‘bacalhaus
da Noruega’.
Tal
como sucedeu com as anteriores viagens de natureza lúdica do presidente Cavaco
e para não fugir à regra, o venerando chefe do Estado regressará de mãos a
abanar ou com elas enfiadas nos bolsos vazios das peças da vestimenta, sem
coisa nenhuma de importante para Portugal.
Porém,
eventualmente, com uma diferença: as bagagens do presidente e dos setenta
turistas virão recheadas de bacalhaus oferecidos por entidades norueguesas, a
título de reconhecimento pela atenção dispensada aos atractivos turísticos da
península escandinava.
Dá
a impressão que Cavaco vai estabelecendo contactos e treinando sem gastar uns
parcos cêntimos da sua carteira bancária para, pós termo da função
presidencial, prosseguir carreira de vendedor internacional. Temos de convir
que aos contribuintes não lhes cabe fazer tamanho financiamento de serôdia
aprendizagem especializada na área do comércio exterior.
Mais
de reprovar: por que encargos
financeiros tidos num tempo em que Portugal está de tanga e a maioria da população
em estado de pobreza, que não tem paralelo nos países da Comunidade Europeia.
O
que contraria frontalmente dois elementares preceitos: o dever do sentido de
Estado e a obrigação de contenção de despesas; a serem rigorosamente respeitados
pelos altos dignitários da República de Portugal.
Também,
no caso em apreço, evidencia-se uma inqualificável predisposição de
esbanjamentos e exibicionismos, ao arrepio dos superiores interesses da Nação. E
que a simples faculdade de bem ajuizar, inequivocamente, contraria ou
impossibilitaria.
Desgraça
nossa, a de termos a desgovernar-nos políticos que estão possuídos de uma
compulsiva tendência para o despesismo à pala do Orçamento do Estado.
02.
Entretanto, acentua-se a impressão de que em Portugal está criada uma nova
casta profissional constituída por indivíduos que exercem uma inovadora actividade
especificamente portuguesa, clandestina, de difícil e privilegiado acesso, como
se tratasse de uma segunda profissão (isenta de impostos…): a de acompanhante
dos presidentes da República e do Conselho e dos ministros e secretários de
Estado, nas inúmeras viagens de turismo (sublinhe-se que rotuladas de interesse
de Portugal) que todos eles fazem pelos diversos e mais ou menos distantes países
do planeta Terra.
E
não só tais personagens do Poder instalado. Pois já houve deputados que fizeram
confortáveis e dispendiosas viagens, designadas de serviço público, a diversos países
dos cinco continentes (África, América, Ásia, Europa e Oceânia), com suas companheiras,
sem sequer saírem de Portugal – o que foram proezas que não estão ao alcance de
qualquer indígena, mas que se creditam como sendo de inegável esplendor
artístico, de singular ubiquidade e de não menor relevância monetária a
reflectir-se nas contas bancárias de tão ilustres seres; quais parasitas que
infestam o palácio de São Bento.
03.
Facilmente se intui do que ficou explicitado que é absolutamente necessário e
da maior urgência informar o povo português da total dimensão dos enormes
gastos com as passeatas dos dirigentes governamentais que oneram, sobremaneira,
o Orçamento.
Aqui
está uma tarefa que suporíamos caber no âmbito das atribuições institucionais
do Tribunal de Contas.
04.
Porém, como o douto tribunal parece alhear-se desta problemática das sistemáticas
despesas excessivas e inúteis correlativas às fantasiosas viagens dos grandes
protagonistas da desgovernação em curso, sugerimos a quem for crente e esteja
bem relacionado no firmamento onde assenta a Divina Providência e, ainda, mostrando
propensão para zelar pelo bem comum e repudiando os abusos dos agentes da
desgovernação, faça uma imperiosa obra de misericórdia: interceda ao Grande Arquitecto do Universo e, em simultâneo, ponha
uma velinha a Nossa Senhora de Fátima, para que concedam ao sacrificado e
ofendido povo luso a mercê de inspirar e encaminhar alguém no sentido de, com
seriedade e competência, fazer rapidamente
e em força*(como diria o Oliveira Salazar da
outra democracia orgânica; que, por sinal, não era viciado em gastos com
passeatas em Portugal e excursões ao estrangeiro - o que, talvez, explique ter
deixado o Tesouro abarrotado de barras de ouro, muitas delas vindas da Alemanha
nazi em pagamento do volfrâmio fornecido por Portugal…) um rigoroso apuramento
de quantos milhões de euros do Erário foram gastos com as viagens ditas
oficiais, do venerando chefe do Estado Cavaco Silva, do agora (em coincidência
de época eleitoral) servilmente biografado presidente do Conselho, Passos
Coelho, do ecléctico ministro ajudante, incansável operador nocturno de
fotocopiadoras ministeriais, vendedor errante de grandes negócios estrangeiros
e irrevogável subalterno do grande chefe
do governo, Paulo Portas e dos restantes ministros, dos secretários de Estado e
dos deputados.
Viagens
que, na prática, são de turismo, promoção pessoal para inglês ver, de enriquecimento curricular de viajatas, de recreio e
de desvio das rotinas diárias.
Nos
casos cavacais, em apreço, talvez excursões de tirocínio na profissão de
caixeiro-viajante, visando alcançar credenciais de habilitação para ser émulo
do companheiro de andanças políticas, o irrequieto e palrador Portas e para actuar,
desinibido, no exterior – o que não é de excluir, porquanto estamos informados,
pela própria criatura presidencial, de que tem sido mal pago, que lhe cortaram
a reforma e que, ainda-por-cima, a esposa tem mísera pensão, pelo que,
facilmente, se presume que esteja endividado e nessa deplorável condição tenha
necessidade de novo emprego a partir dos meados de 2016, a-fim-de angariar
meios monetários de subsistência familiar e coleccionar materiais sonantes que,
também, lhe permitam liquidar eventuais compromissos financeiros intempestivamente
assumidos a contragosto.
* ”Para
Angola, rapidamente e em força!”- a frase de Oliveira Salazar proferida aos
microfones da RTP, numa alocução ao País, na noite de 13 de Abril de 1961; que
se pode apontar como decisivo marco histórico do início oficial da guerra
colonial.
Fim
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