OS FULGORES DO DIVINO ESPÍRITO

INCIDEM SOBRE O FEMININO.

TARDOU! MAS ESTÁ ARRECADANDO...

Brasilino Godinho

Hoje, através do sítio da revista VISÂO, tomámos conhecimento da seguinte notícia:

"Papa Francisco eleito após 'sinais' divinos", diz cardeal Christoph Schönborn, de Viena.

Eis, seguidamente, a revelação que o ilustre prelado fez de um deles; o qual, com  marca pouco teológica, por acaso, ocorreu com a sua pessoa.

Depois da missa especial do conclave o cardeal Christoph encontrou um casal amigo da América Latina e pediu-lhe um conselho. A mulher segredou-lhe ao ouvido: 'Bergoglio'. Então ele percebeu: se estas pessoas dizem Bergoglio é uma indicação do Espírito Santo (nosso comentário: branco é, galinha o põe...).

É extremamente intrigante esta informação de Sua Eminência.

Vejamos.

Até a esta data, sempre - em todos os tempos - se foi proclamando que as eleições dos papas eram influenciadas pelo Divino Espírito Santo. Ente supremo que, vigilante e protector, intervinha sobre os cardeais concentrados nos conclaves. E ali se mantinham sem qualquer contacto com o mundo exterior.

Pelo que é relatado pelo cardeal de Viena essa regra foi quebrada, visto que o Santo Espírito Divino actuou fora do conclave e socorreu-se de uma mulher latino-americana para influenciar a mente do príncipe da Igreja na escolha do papa.

Qualquer ateu diria que aqui se não há gato, certamente que há gata...

Mas se o cardeal Chistoph se sentiu tocado pelo esplendor divino, configurado no sinal transmitido pela mulher da América Latina, ali encontrada por mercê da Divina Providência, como não considerar que isso também possa significar que a Igreja deve admitir as mulheres no sacerdócio e na sua hierarquia? Atente-se que as mulheres, no seio da Igreja Católica, têm sido  relegadas para um plano de subalternação e de sujeição ao machismo.

Pelo andamento da carruagem confiada aos videntes em foco, conclui-se que, provavelmente, neste início do século XXI, o Espírito Santo terá chegado à conclusão que o material feminino vem sendo desperdiçado e que é chegada a hora de reconhecer o seu enorme potencial de utilização e, também, de rapidamente e em força agir em conformidade de proveitos para a instituição religiosa.

Por outro lado, estranha-se que o cardeal tenha sido tão crédulo ou desprevenido que nem se tenha lembrado do que aconteceu com a maçã servida pela pecadora Eva a seu esposo Adão e não lhe tenha ocorrido que a dica da senhora amiga poderia ser uma tentação.

Igualmente, de assinalar dois aspectos invulgares: a amizade de um cardeal austríaco com um casal das Américas e a coincidência do encontro na hora, no dia e no lugar (Vaticano, cercanias do conclave). Um fenómeno estranho. Decerto milagroso. A condizer com a religiosidade do Estado do Vaticano.

Por falarmos em dicas, jamais se ouviu dizer que os cardeais reunidos em conclaves viessem à porta do Templo pedir conselhos aos primeiros passantes, como aconteceu agora com o cardeal austríaco. O cardeal estava assim  tão descrente das capacidades de revelação do Santo Espírito Divino? Esta ocorrência é de causar espanto a qualquer crente. Sobretudo, revela uma impressionante incoerência teológica, e uma grave infidelidade às normas decretadas pelo Concílio de Trento - o que não se aceita num cardeal que era um grande candidato ao lugar cimeiro da hierarquia católica.

Ainda outro aspecto relevante a considerar tem a ver com o papel crescente que, agora, as mulheres começam a ter no relacionamento com o Santo Espírito Divino.

Repare-se que no Vaticano a latino-americana, amiga do cardeal vienense, serviu de bendita correia de transmissão da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Enquanto em Lisboa a muito piedosa Senhora D. Maria de Cavaco Silva, imbuída do divino espírito, agiu como elo entre a Divindade e o seu augusto esposo Aníbal; o qual, se apresenta - razoavelmente encadernado. bem disposto, mas mal-parecido - como um vidente mui compenetrado da sua missão evangélica...

Enfim, tudo visto, lido e respigado, leva-nos a considerar que 'quando a esmola é grande, o pobre desconfia...'.