NOTA PESSOAL
Obviamente que:
1.
Nunca se
tendo registado neste blogue, ao longo da sua existência, as práticas da
censura e da condenável omissão oportunista; estas, muitas vezes, também
revestidas com repugnante acinte de malvadeza e que lamentavelmente - sublinhe-se
- decorrem em certos órgãos da nossa comunicação social.
2.
“Fazer
vista grossa” e passar ao lado como se nada tivesse acontecido na vida do
titular deste blogue, seria uma esquisita atitude de menosprezo pelos(as)
estimados(as) leitores(as), um deplorável incumprimento do dever de os informar
e um fingimento, de todo, inadmissível e que não se coaduna com o seu carácter.
3.
Não
havendo razões de melindre, de devaneio ou de estulta vaidade do cidadão
Brasilino Godinho.
4.
Considerando
que a obtenção da sua recente licenciatura foi amplamente divulgada durante os
dois primeiros meses, do ano em curso, através dos programas das estações
televisivas (que vão discriminadas pela sucessão temporal das transmissões): SIC, RÁDIO TELEVISÃO PORTUGUESA (RTP1), CANAL
SUPERIOR, PORTO Canal; da AGÊNCIA LUSA; dos jornais: JORNAL ONLINE DA UA
(Universidade Aveiro) - edição de 07 de Janeiro de 2013, JORNAL DE NOTÍCIAS
(JN), DIÁRIO DE AVEIRO, A VOZ DE PORTUGAL; e do jornal online UCRUP – CONSELHO
DE REITORES DAS UNIVERSIDADES PORTUGUESAS (edição de 31 de Dezembro de 2012).
Entende,
no entanto, o signatário desta nota assistir-lhe a obrigação ética e o dever
cívico - associado ao interesse público – de aqui fazer o registo do facto. Por
isso, traz ao conhecimento dos fiéis (dos infiéis… e de todos quantos lhe são
hostis…) leitores deste blogue o texto inserto na edição de 07 de Janeiro de
2013, do JORNAL ONLINE DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO, que contempla a licenciatura
de Brasilino Godinho.
Assim,
com a devida vénia, transcrevo:
De ‘Engenheiro’ a Dr.
Brasilino Godinho: o topógrafo das palavras
A um mês de completar 77 anos, Brasilino Godinho cumpre um
sonho adiado: dirige-se sozinho aos Serviços de Gestão Académica da
Universidade de Aveiro (UA) e profere as palavras que esperaram uma vida
inteira para serem ditas: “pretendia frequentar a Universidade”. Quatro anos
volvidos sobre este episódio, o aluno da academia aveirense ´Maior de 23’
alcança o grau de licenciatura. O facto torna-o um dos alunos com mais idade a
frequentar uma Universidade, em regime ordinário, e constitui um exemplo de
tenacidade para toda a comunidade universitária.
Brasilino Godinho, 81 anos, pouco tem de comum com o perfil estereotipado
das pessoas com esta idade. Mas o conformismo não faz parte da sua maneira de
ser. O olhar vivo aliado a um sentido de humor apurado faz quase acreditar que
não tem a idade que, efetivamente, lhe está marcada no Bilhete de Identidade.
Utiliza no discurso direto um alter ego – produto de muita reflexão e
introspeção - uma espécie de consciência que o interroga acerca das principais
decisões de vida mas, também, uma voz que lhe aponta o caminho a seguir. Assim
foi, desde os tempos da escola, há seis décadas.O primeiro sonho foi ser engenheiro
O início desta história perde-se no tempo e recua ao século passado, com coordenadas da cidade de Tomar. É aí que faz a primária e, mais tarde, o curso de serralharia mecânica (1947), na Escola Industrial Jácome Ratton.
O convívio daquele jovem desenhador estagiário, sem remuneração, com outros profissionais, na edilidade local, semeia-lhe no pensamento outros sonhos – o de ser engenheiro. Essa vontade constituiu a sua primeira tentativa de “entrar para a Universidade”. A negação do avô em lhe custear os estudos “não foi fácil de aceitar”, conta emocionado. Contudo, foi este “Não” que me fez ser quem sou”, acrescenta Brasilino Godinho.
O percurso profissional que começou por ser de desenhador, naquela autarquia, a topógrafo até se fazer ‘engenheiro’, de forma autodidata, levou-o a percorrer o país, de norte a sul, nos vários projetos em que participou.
A Universidade, o apelo literário e o cidadão interventivo
Ao longo da vida a vontade em prosseguir estudos superiores assaltou-o por várias vezes, mas o dia-a-dia impunha-lhe sempre outra direção. O curso superior nunca passou de uma memória descritiva, num projeto de vida, sempre adiado, mas nunca abandonado.
Muitos anos depois, o perfil de ‘engenheiro’ confinava-se ao Brasilino Godinho profissional. O futuro aluno da UA tinha, entretanto, desenvolvido múltiplos interesses e outras tantas atividades. O Brasilino das letras, culturalmente ativo e cidadão interventivo, já se tinha sobreposto aos cálculos e números do ‘Engenheiro’ profissional que, mesmo sem formação académica, tinha progredido na carreira e estava agora reformado. O autodidata Brasilino tinha cumprido a sua missão.
A “escrita sempre fez parte da minha vida”, conta. Primeiro, uma colaboração técnica no jornal U&C – Urbanismo & Construção. Depois, Brasilino passou a assinar, de forma regular, textos de opinião nalguns diários, semanários e quinzenários da imprensa regional. O apelo literário interpelou-o também. Tem três livros publicados, dois deles, de poesia.
As novas tecnologias fazem parte das suas rotinas diárias. Mantém, desde 2006, um blogue onde publica textos de opinião sobre o mundo que o rodeia. É nessas linhas que emerge o Brasilino irónico e, até mordaz, que questiona o poder e as elites da decisão portuguesa que, na sua opinião, vão habitando a “Quinta Lusitana”. Usa as palavras de forma arguta, criteriosamente escolhidas para informar os leitores que o seguem, um pouco por todo o mundo.
Voltar à ‘escola’ sessenta e um anos depois
Só em 2008 volta a entrar numa sala de aulas. O primeiro dia “foi extraordinário”, recorda com um sorriso. E antes de acabar o tempo, pediu para intervir: “Fiz questão de dizer aos colegas que não queria tratamento diferente”, relata o antigo aluno da UA.
“Fui apenas um aluno mais velho a ouvir matérias”, assegura a este propósito. Nuno Rosmaninho é um dos professores que lembra pelo cuidado que tinha na transmissão dos conhecimentos. “Fale mais pausadamente, e um pouco mais alto, para o Brasilino ouvir”, pedia sempre este docente aos alunos, quando se tratava de trabalhos de grupo. A atitude “foi extraordinária”, refere Brasilino Godinho.
Brasilino Godinho terminou a licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas com média de 15 valores. Mas vencer etapas não foi fácil. O problema de audição agudizou-se e os conteúdos transmitidos pelos professores exigiram-lhe disciplina férrea e dedicação extra, a estudar, para superar os exames. Os últimos anos foram dedicados à Universidade. Em casa, Brasilino punha em dia, através dos livros e das pesquisas, aquilo que não conseguia captar nas aulas.
Este exemplo de tenacidade foi notado na academia aveirense. Uma das colegas divide com ele o pensamento: “Brasilino, quero dizer-lhe uma coisa. Eu já quis desistir várias vezes, mas depois, em cada uma dessas vezes, lembro-me de si e continuo”.
Os colegas, as praxes e a diferença entre gerações
Arredado das praxes universitárias, embora nunca se tenha negado a qualquer participação, fez um percurso solitário. A leitura que faz sobre o ensino em relação ao seu “tempo de bancos de escola” é um ensino muito mais humanizado, mais democrático, e com uma evolução notável, em relação ao uso das tecnologias de informação e comunicação.
A observação sobre o ambiente universitário vivido é peremtória: “Um clima de harmonia espantoso”. É otimista e deposita esperança nos jovens portugueses, uma geração tantas vezes apelidada de “rasca” por uns e, “à rasca” por outros. “O que noto na sociedade, grosso modo, é um nível baixo de cultura geral. Uma grande deficiência no Português, mais até na escrita. Devemos fazer um esforço nestas disciplinas”, aconselha Brasilino Godinho.
A Educação, o envelhecimento e o civismo
Refere a coincidência em ter concluído a licenciatura no Ano Europeu do Envelhecimento Ativo de forma emocionada. “Considero que os menos jovens têm que continuar a participar de forma ativa na construção da sociedade. A experiência e a sabedoria que advêm com o tempo têm que ser aproveitadas pela sociedade”.
Relembra Ramalho Ortigão, um dos seus autores portugueses favoritos, considerando que a educação, a prossecução dos estudos superiores, é um serviço cívico que se presta à sociedade: "O modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares o teu filho".
Sobre o futuro não tem grandes ilusões. Mas, enquanto sentir capacidades para pensar, decidir e participar, não desiste. Um doutoramento em Estudos Culturais, já lhe cruzou o pensamento e, de futuro, o recém-licenciado Brasilino pode ainda vir a ser o Doutor Brasilino.
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