Uma
oportuna reposição…
Por Brasilino Godinho
No
passado dia 08 de Novembro de 2012 escrevemos uma crónica em que focávamos o
repugnante ataque do actual governo a uma grande parte da nação portuguesa.
Agora,
que foi conhecido o famigerado “estudo” de alguns técnicos do FMI que,
notoriamente, foi encomendado pelo executivo português e que serve para nele se
rever o seu ideário neo-liberal e a sua nefasta política de destruição do
tecido social do país, tem total cabimento que façamos a reposição do nosso documento
em que já, nessa altura, não só antevíamos o que está acontecendo, como
criticávamos os aspectos mais sombrios, mui desastrosos e acintosamente
ofensivos da dignidade da pessoa humana, constantes da actividade
governamental; os quais, vão merecendo a condenação da maior parte da
sacrificada população portuguesa.
Para
melhor se ajuizar da perversidade em curso de rédea à solta, basta anotar-se um
aspecto sobremodo elucidativo da duplicidade do governo: em dada altura do ano
transacto, começou por avançar com a ideia de despedir 40 000 funcionários;
depois, pela voz do ministro Relvas, recuou para entre os 15 000 e os 20 000;
para, actualmente, se “encantar” com a fixação no despedimento de 50 000 trabalhadores
da Função Pública.
E
acrescente-se aquele inqualificável episódio, há poucos dias protagonizado pelo
secretário de Estado, Moedas, que com um largo sorriso alarve, de satisfação,
anunciou, em conferência de imprensa, as gravosas medidas previstas no “estudo”
assinado por alguns técnicos do FMI. “Estudo” que, importa repetir, foi
convenientemente encomendado pelo governo português, com vista a fingir que
agia por imposição daquela instituição internacional.
Segue-se
a transcrição da crónica; a qual - sublinhe-se - conserva uma gritante
actualidade.
Quinta-feira, 08 de Novembro, 2012
Em tempo de compasso…
Um humilhante atestado
de:
01. Indigência técnica.
02. Cobardia política.
03. Perversidade funcional.
04. Esbanjamento financeiro.
Brasilino Godinho
Se o governo
que - sorte malvada! - nos saiu em rifa, no último bazar eleitoral, como prémio
de desconsolação, qual anacrónico pechisbeque tóxico, extremamente
infecto-contagioso para o tecido social, fosse um órgão de soberania credível,
certamente que hoje estaríamos a lamentar a inexistência de cidadãos
portugueses dotados de competência e seriedade para delinear o desenvolvimento
do pais e para bem gerir a nação. (Um parêntesis para anotar o seguinte:
felizmente que ainda há em Portugal cidadãos de elevada craveira intelectual,
de invulgar competência, da maior seriedade, que dignificam a pátria que lhes
serviu de berço).
Infelizmente,
não é o caso deste executivo que já regista no seu curto historial um
impressionante rol de promessas não cumpridas e de políticas demasiado ruinosas
para o país e para as suas gentes, sobretudo, as mais carentes e
desfavorecidas.
Isto escrito
a propósito de o famigerado timoneiro das Finanças ter decidido convocar
técnicos do Fundo Monetário Internacional para virem a Lisboa elaborar um
projecto de reforma do Estado – como se esta tarefa não estivesse ao alcance de
técnicos portugueses.
Com tal
iniciativa o executivo demitiu-se, ingloriamente, das suas atribuições. O que,
também, é um deprimente atestado, firmado pelo governo; decididamente:
Incrível! Ofensivo! Inaceitável! Repugnante!
Um humilhante atestado de:
- 01. Indigência técnica
Aqui e desde
logo, se realça a denotada impreparação dos ministros e secretários de Estado,
para as tarefas ministeriais. Depois, acrescente-se a carência de conhecimentos
e experiências da legião de “especialistas”, constituída por jovens de ambos os
sexos que, por mercê de despachos ministeriais e à semelhança da licenciatura
arrelvada, foram arvorados às respectivas “especialidades”; os quais, pelos
vistos, são peritos de coisa nenhuma. Não obstante: ocupam, enxameiam, decoram
e oneram, os gabinetes dos ministérios.
Então, o
governo com tanto pessoal especializado não conseguiu (ou nem conseguiria)
estudar, no decurso de ano e meio de exercício das funções, o assunto e
programar a reforma do Estado? E agora o pessoal do FMI vai realizar a tarefa
numa semana? Ou, simplesmente, os técnicos do FMI vêm dar o aval a tudo aquilo
que esteja preparado pelos governantes portugueses?
Por outro
lado: Que está fazendo o governo, afinal? Que nem sequer desempenha a tarefa de
governar – o que, supostamente, é a sua obrigação principal.
- 02. Cobardia política
O governo
quando está a recorrer aos técnicos do FMI visa um objectivo: Enjeitar a
responsabilidade das mui gravosas consequências decorrentes das medidas que vai
impor arbitrariamente. Sem arte e sem engenho, fragilizado, pretende disfarçar
o inato autoritarismo, a consabida inoperância e a por demais sentida
agressividade sobre o funcionalismo público, a classe média, os pensionistas e
os marginalizados da sociedade. Com o maior despudor tentará justificar-se,
apresentando-se como mero executor de orientações determinadas pela entidade
tutora FMI.
A
concretizar-se esta atitude do governo estaremos perante uma inequívoca
cobardia. Porque não terá a coragem e a seriedade de assumir as suas
irrecusáveis responsabilidades.
- 03. Perversidade funcional
Esta
componente do modus faciendi do governo, na presente conjuntura, expressa-se na
concretização do propósito indiciado, desde o inicio do mandato, de introduzir
profundas alterações na estrutura funcional do Estado e nos domínios da
Política, da Economia, do Ensino e da Segurança Social, com maior enfoque na
revisão da Constituição da República Portuguesa. Não tendo conseguido realizar
o intento, o governo logra impor o seu desígnio através de um testa-de-ferro:
uma entidade estrangeira que comunga das mesmas ideias dos nossos actuais
governantes. Assim se juntam e coordenam as motivações políticas das duas
partes: governo e FMI. Claro que, em última análise, de forma tortuosa, ao
arrepio dos superiores interesses do povo português.
Tal
procedimento do governo só merece uma classificação: é uma perversidade,
dissonante da Democracia.
- 04. Esbanjamento de meios financeiros.
Naturalmente
que os trabalhos de elaboração do projecto da reforma do Estado e que todas as
actividades inerentes ao funcionamento da Administração Pública, devem ser
levados à prática pelo governo. Para isso, dispõe de serviços, direcções
gerais, inúmeros assessores jurídicos e, agora, de muitos e excepcionais(…)
“especialistas” de última e arregimentada apanha partidária. E assim sendo, não
há justificação para se gastarem balúrdios com pareceres e serviços de
entidades particulares.
Assinale-se
que, a acrescentar aos milhões de euros gastos anualmente com os governantes e
com os ditos “especialistas” dos gabinetes ministeriais, remuneratórios de algo
muito vago (segundo as evidências), serão pagos milhões de euros ao FMI
relativos aos chorudos honorários do pessoal destacado em Lisboa durante uma
semana.
O que traduz
um esbanjamento financeiro incompatível com a detestável austeridade, a carga
fiscal e os cortes de salários e subsídios na Função Pública e no sector
empresarial. Mais: O governo vai despedir 40 000 funcionários, enquanto que nos
últimos meses recrutou à toa, com o maior desplante, um enorme grupo composto
de “especialistas” de estranhas especializações, de assessores, secretários,
secretárias, motoristas, chefes de gabinetes, assistentes machos e fêmeas. E,
ainda, se permitiu o gozo de comprar carros de grandes cilindradas. Enfim, tem
sido uma grande demonstração de anarquias despesistas.
Noutro campo
de Democracia em que prevalecesse a Política (com maiúscula), a Ética, a Moral,
a Seriedade, a Respeitabilidade, o sentido de servir o Bem Comum, diríamos -
com alguma esperança: quer na modificação dos nocivos comportamentos, quer na
afirmação dos deveres cívicos - o seguinte: Haja decoro!
Aqui, neste
canto lusitano e agora, face ao mau ambiente, nem vale a pena fazer semelhante
exortação… Tal é a cegueira prevalecente…
Fim
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