Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, abril 28, 2009

Ao compasso do tempo…

A CHAMADA CONSCIÊNCIA NACIONAL EXISTE?

Brasilino Godinho

O que é a consciência?

Decerto que uma resposta à pergunta, mui fundamentada, plenamente expendida, preencheria muitas laudas que alongariam a crónica para além do espaço que nos é concedido no jornal a que destinamos esta crónica: Diário de Aveiro. Por isso e para melhor avalizar as nossas considerações, nada melhor que recorrer ao dicionário. Ele nos elucida que:

- «A consciência é o conhecimento imediato da própria actividade psíquica; a faculdade de se conhecer intuitivamente; o sentimento de si mesmo; o conhecimento espontâneo e mais ou menos vago; parte da actividade psíquica de que o sujeito tem conhecimento intuitivo; estado no qual o sujeito se conhece enquanto tal e se distingue dos objectos que o rodeiam; faculdade de fazer juízos de valor sobre os próprios actos».

Mas seja a consciência o conhecimento da psique individual, a faculdade de alma, o sentimento do indivíduo de si mesmo, a parte da actividade psíquica, o estado em que o homem se reconhece a si próprio ou a capacidade de fazer juízos de valor, a verdade é que ela é uma formulação do pensamento, muito longe de atingir as potencialidades operativas dessa extraordinária faculdade de alma (o pensamento) em todas as áreas da vida humana. Como escreveu o professor Pires de Castro: “A palavra é a mais nobre expressão do pensamento, como o pensamento é o mais perfeito emblema espiritual da nossa superioridade sobre os outros seres da Criação”.

Quer isto dizer que a consciência não podendo ser identificada como criatura vivente ou elemento activo e propulsor de instrumentos próprios ou alheios vocacionados para dela mesmo darem provas concretas de operacionalidade e produção, a projectarem-se no tecido social é, apenas, um ente de razão (com exclusivo acolhimento na mente humana) e se circunscreve passivamente ou se auto limita, alojada no espírito do sujeito e remetida ao papel de, simplesmente, reagir a impulsos e sugestões que podemos considerar vindos da identidade do indivíduo que a encerra no seu imo. Isso acontece porque a consciência é coisa imaterial não representável em qualquer objecto. Ela é intrínseca da alma da pessoa humana, como se nela estivesse fechada a sete chaves.

É por demais evidente que, enquanto particularidade congénita de cada ser humano, a consciência não é transferível entre uns e outros dos indivíduos. Muito menos possível a ideia de ela se radicar numa entidade in illo tempore criada pela imaginação falaciosa de anónimo, certamente, pouco dado à reflexão filosófica: a consciência nacional, também designada consciência colectiva.

Chegados a este ponto, temos de trazer à colação a identidade nacional. É que enquanto a identidade nacional tem variadas formas de expressão que são símbolos, estandartes, objectos, monumentos e sinais de afirmação de um conjunto de cidadãos designado nação; a consciência sendo, como já vimos, limitada ao foro íntimo do indivíduo, dispensa e inviabiliza meios ou manifestações exteriores e, portanto, susceptíveis de visibilidade e de percepção imediata ou diferida no tempo.

De modo que é manifestamente impossível a transposição daquilo que é pessoal de natureza recatada e reservada, para um ser imaterial: o colectivo dos cidadãos - a Nação.

Nação, que mais não é que uma classificação taxinómica, resultante da busca efectuada pelo homem - no léxico da língua falada - de uma designação apropriada para o grupo dos íncolas, em que estava integrado, e que, depois, teve aplicação generalizada aos mais dispares povos e territórios.

Em abstracto, poder-se-ia admitir que a consciência nacional ou, se quisermos, a consciência colectiva, seria o somatório ou a síntese das consciências dos indivíduos do conjunto populacional (nação) que se fixaria na mente colectiva assim criada. Mas, desde logo, se poria a questão: Como fazer o somatório ou a síntese?

Depois, como se estabeleceria a mente específica do colectivo? Que real configuração a do colectivo?

Para além das questões anotadas, ainda se acrescentariam as seguintes: Que vida própria tem o colectivo, senão a que lhe é proporcionada, em tónica de absurdo, pelas inúmeras participações existenciais dos sujeitos integrantes da Nação? Com que possibilidades e eficácia, isso se concretizaria? Não se pode injectar vida a uma figura que é, afinal, de irreal presença, simplesmente metafórica, semelhante ao Zé-Povinho.

Ainda em relação à consciência nacional ponha-se a tónica da rejeição nos seguintes aspectos: Se ela é escrita, vale o que vale uma figura de estilo de um discurso inconsequente que, eventualmente, pode ser capcioso; quando falada, é uma descabida habilidade sociológica que o vento leva para nenhures…

Certamente que, pelas razões enunciadas nos precedentes, à nomeada consciência nacional - que jamais deixa de ser mera figuração mental, idealizada e confinada no exercício do absurdo – nunca se poderá atribuir-lhe funções que, de todo, lhe são inaplicáveis, até pela inanidade do hipotético ser.

Aliás, se houvesse consciência nacional, implicitamente, ela decorreria do pensamento nacional; o qual consumaria a existência de uma filosofia portuguesa.

E como não existem a consciência nacional e o pensamento português (pensamento colectivo da grei portuguesa), também não há uma filosofia nacional. Verdade, que no início do século XX, Leonardo Coimbra, Teixeira de Pascoaes, Sampaio Bruno e outros intelectuais produziram ensaios que apontavam para a formulação de uma filosofia portuguesa. A seguir, vieram Álvaro Ribeiro, José Marinho, (as duas figuras principais do Movimento da Filosofia Portuguesa) Afonso Botelho, Agostinho da Silva, Orlando Vitorino, Pinharanda Gomes, Sant’Ana Dionísio, António Quadros, que – sem forçarmos a nota – se podem considerar discípulos mais ou menos remotos de Leonardo Coimbra.

Claro que, em dada altura, os corifeus do Estado Novo, aproveitando a “boleia” dos intelectuais, procuraram tomar o “comboio” do portuguesismo e desenvolveram grandes esforços no sentido de fazerem crer que havia um pensamento nacional e uma filosofia portuguesa – necessariamente, um e outra, moldados segundo os princípios nacionalistas do regime.

Esforços em vão. Tarefa impossível. Porque todos se enredaram numa teia de enganos. É que fixando-se na cultura literária portuguesa, apoiando-se na “narrativa” histórica da nacionalidade e acostando-se à herança sociopolítica, pretenderam transfigurar o conjunto dessas importantes componentes da identidade nacional, numa amálgama inconsistente que designariam por filosofia portuguesa (de forma concisa: atente-se que Filosofia é a ciência universal dos princípios e das causas – a ciência do conhecimento). Tratou-se de um exercício de abstracção. Inevitavelmente sem lógica. Carecido de objectividade. Tal e qual. Obviamente!

Nota informativa – Informo os leitores que, por motivos da minha vida particular, vou interromper as crónicas a partir desta data. Conto regressar ao vosso convívio no dia 14 de Julho, do corrente ano.

Da parte dos meus leitores fiéis espero compreensão. Sobretudo, não fiquem “zangados”…

Quanto aos “infiéis”: provavelmente, ficarão aliviados… Aproveitem o descanso!