Ao compasso do tempo…
HUMANOIDES QUE SOMOS,
ARREIGADOS NO DESERTO
QUE HÁ NOME PORTUGAL…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Os portugueses, na sua maioria de milhões de seres mais ou menos racionais, mamíferos, primatas, quaisquer que sejam as suas raças, os seus traços fisionómicos, compleições físicas, cores de cabelos e de olhos, habilitações literárias, credos, profissões, conservam características comuns às espécies humanas de outros lugares da Terra, mormente as que habitam a Europa. Porventura, nem dos europeus se diferenciarão muito nas práticas de procriação, nos hábitos alimentares, no vestir, no calçar, na maneira de andar, nas rotinas de comportamentos civilizacionais, nas artes e nos ofícios. Todavia, hemos que exceptuar alguns maus costumes e retrógradas mentalidades, que constituem as suas desinteressantes imagens de marca, tais como: acérrimos maldizentes nos convívios das tertúlias; obstinados, mas inconsequentes acusadores dos governantes; grandes invejosos dos vizinhos; inveterados cuspidores na via pública; serem falhos de pontualidade; desprezarem, abandonarem e desvalorizarem, os idosos; vangloriarem-se da esperteza saloia; praticarem a subserviência perante o estrangeiro; e darem-se, servilmente, à obediência e veneração face ao senhor abade da paróquia que - diga-se - regra geral, é solteiro, não constitui família, nem suporta encargos com sustento e educação de filharada própria ou alheia (factor importante nestes tempos de crise e de misérias) e tem o gozo da fama de ser “bom rapaz”, embora pouco virtuoso e assaz pecador…
Mas, nas últimas décadas reportadas ao fim do século XIX e com realce desmesurado para o que se vai passando na actualidade do regime pomposamente rotulado de democrático, assistimos à progressiva desertificação de Portugal e à consequente passagem regressiva da superior qualidade de humanos para a baixa condição de humanóides; aqueles classificados como seres de 1.ª classe e estes últimos catalogados em duas subcategorias: a dos animais de 2.ª classe (quais resquícios da classe média) e os restantes como animalejos de 3.ª classe.
Sem olvidar a transfiguração física do território continental nas regiões algarvia e alentejana, temos que reconhecer que o país mais ocidental da Europa é um deserto - lugar onde não vive gente. Dito de outra maneira: neste canto ocidental europeu não vive multidão de pessoas; gente, que como tal se sinta. Estamos num deserto de almas. Num ermo onde, dificilmente, sobrevivem os humanóides lusos. Assim estabelecidos num estádio de menoridade e humanóides que somos a maioria dos seres vivos arreigados no rincão lusitano, permanecemos condenados a vegetar, enquanto quase todos se contemplam displicentemente nessa triste e desumana situação. Humanóides com semelhanças às criaturas de outras atrasadas paragens, que - para além de vegetarem ou por essa razão - não pensam, nem reagem às adversidades e aos estímulos. Desgraçadamente perdidos num turbilhão de perigos, de transtornos, de aberrantes carências e submetidos a inúmeros atropelos à dignidade do ser humano. Imensos indígenas não lêem, não se cultivam. Tão-pouco percebem o que ouvem, o que vêem e o pouquíssimo que vão soletrando com extrema dificuldade. É aterrador o quadro dos três analfabetismos crónicos instalados no seio da comunidade dos humanóides lusos: o primário, o funcional e o cultural. Tudo conjugado, deu nisto: estão abúlicos! Conservam-se pasmados. E, simplesmente, como seres amorfos que são, amocham! O panorama em que se enquadram é desolador. A Nação sucumbe a cada dia que passa e os indígenas, postergados os seus direitos de cidadania, permanecem indiferentes. Inclusive, estão perdendo a sua identidade que lhes é concernente através da linguagem escrita e falada. O Português está sendo, gradualmente, substituído pelo Inglês, por tudo que é sítio (por exemplo: Allgarve), estabelecimento, escola, universidade, colóquio, documento, livro, meio de comunicação social. Os governantes promovem a língua inglesa. Alguém os vê a incentivarem a aprendizagem do Português? Será um expediente para se desculpabilizarem do mau uso que fazem da Língua Portuguesa? Uma vergonha nacional! Um cataclismo social e identitário!
É justo referir que aos humanóides portugueses não se lhes podem assacar as maiores culpas pelas deploráveis situações que os demarcam, vergonhosamente, no mundo contemporâneo. Eles são vítimas dos sistemas políticos que se foram sucedendo e dos predomínios de forças e interesses ocultos que os cercam, os dominam, os manipulam, os atrofiam e os bloqueiam nas débeis tentativas de se libertarem das amarras das sujeições que os exploram e martirizam.
Entretanto, num ou noutros pequenos e selectos espaços que, significativamente, se designam por oásis, encontram-se acantonados alguns mamíferos (os tais seres de 1.ª classe) a gozarem, regaladamente, das bem-aventuranças, decerto conferidas por Deuses mal-intencionados, velhacos e pouco afeitos aos sentimentos humanos.
Todos sabemos que oásis é lugar onde existe água, que é fonte de vida, vegetação e culturas, que fornecem alimentação com que se nutrem os corpos e onde, também, se cria gado que serve de instrumento de trabalho e de nutrição aos donos. Ao fim e ao cabo, falamos de coisas agradáveis só ao alcance de privilegiados que se estão marimbando para as carências e sofrimentos dos humanóides que desgraçadamente, cada vez mais se vêm afastados das abastanças existentes nos oásis, repartidos pelo espaço nacional.
Porém, há um importante detalhe que devemos ponderar: esses oásis mais não são que lodaçais que, considerados no conjunto, formam o tal famoso pântano guterreano (lembram-se?). E nele chafurdam, desenvoltos e satisfeitos, vários animais asquerosos.
Também não esqueçamos que nas margens dos referidos oásis pousam aves raras compenetradas das suas prerrogativas e obrigações inerentes à espécie – o que, de certo modo, dá outro colorido à paisagem e contribui para algum desanuviamento do mau ambiente circundante…
Não obstante, elas mesmas correm perigo. Trata-se de uma espécie animal em vias de extinção.
Por todas as razões, que nos afligem, dissonantes da condição humana a que temos direito a aceder, a qual é incompatível com a falta de qualidade de vida de humanóides que somos (nunca é demais persistir na afirmativa desta incómoda referência), insistimos que haverá urgência em pôr ordem no sistema e, rapidamente, desbravar caminho até chegarmos aos famigerados oásis de algumas opulências, ora estranhas e indecentes, com localizações conhecidas e dispersas no imenso pântano de que falava o célebre António de Oliveira Guterres… Afinal, como antes acentuámos, são áreas onde existe e se regala uma fauna mal cheirosa e repelente…
Fim
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