Em tempo de compasso…
“O ANÚNCIO QUE CAIU MAL”…
E O ANÚNCIO EM FALTA, QUE CAIRIA BEM…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
No dia 07 de Outubro do corrente ano o povo ficou sobressaltado com a notícia de que a CIP “quer que o Governo convoque ‘rapidamente’ os parceiros sociais para uma reunião na Concertação Social para discutir o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN)”. Mais concludente, o presidente da CIP disse: “Esperemos que o Governo assuma as suas responsabilidades e convoque uma reunião da Concertação Social para discutir com profundidade este assunto”. Outra fonte patronal asseverou à Agência Lusa ”que o anúncio do Governo não caiu bem”.
Perante estas intervenções do “patrões” da CIP há que considerar alguns aspectos desinteressantes. Apontamos algumas notas.
Primeira - A CIP não pede ao Governo a reunião. Ela quer. O que equivale a exigir. Sente a força que possui e sabe que os governantes são pessoas compreensivas e indulgentes… Sobretudo, eles percebem que a sociedade em que a CIP se integra está convulsionada por força do impacto da crise. É uma classe que sofre. Logo, merece ser acarinhada, descomprimida, festejada e… protegida, como mandam as regras de bem cavalgar todo o melhor estar e o maior gozo da singular espécie.
Segunda – O anúncio do Governo “não caiu bem” junto das empresas”. Foi sugerido que terá havido, ao correr do tempo, outros anúncios que não caíram mal… Desta vez a coisa deu para o torto. Paciência - que, pelos vistos, nem quadra com a maneira de ser de cada sujeito da CIP. Todavia, pergunta-se: onde está a admiração? Quando há uma queda geralmente há quem se aleije ou fique combalido. No caso, os patrões da CIP acumulam mais uma chatice a juntar a tantas que os afligem. Isto acontece num oásis onde, “paredes meias”, existe muita fartura ao alcance do Zé-Povinho - um ceguinho de todo, que nem se dá conta de tanta felicidade que os homens da política e os governantes têm posto ao seu alcance. Reconsiderando: Ceguinho? Ou ingrato?...
Terceira – Os homens e mulheres da CIP esperam que o Governo assuma as suas responsabilidades. Portanto, face à gravidade da exigência, acreditamos que as dores da CIP são fortes e violentas. De modo que os males da prestimosa associação necessitam de urgente tratamento cirúrgico. Mas a CIP pode estar descansada. Apesar dos ministros viajarem muito, se empanturrarem nas jantaradas, terem um fraquinho pelas inaugurações e festividades folclóricas, se distraírem imenso e de a qualquer hora se babarem de gozo e felicidade a dizer banalidades e intrujices frente aos microfones das televisões, eles vão fazer um pequeno interregno nessas estafantes actividades e, certamente, vão dispensar a melhor atenção ao infortúnio que ora atingiu a destemperada instituição com sede
Quarta – Para além da questão posta pela CIP quanto ao aumento do Salário Mínimo Nacional e conhecendo os seus memoráveis hábitos temos de nos congratular que, pelo menos, haja uma pequena e afortunada franja da comunidade nacional capaz de pôr o Governo em sentido e de o forçar a que lhe dispense benevolência, apreço e protecção. O que constitui factor decisivo na batalha travada entre ricos e pobres.
Entrementes, no outro lado da barricada estão sitiados os indígenas, que levam alguma vantagem, visto que estão mais calejados e acomodados às agruras da existência e porque usufruem da não menor generosidade do Governo; esta traduzida no superior exercício de muito os desconsiderar e maltratar. Também se diga que o Governo põe o maior empenho: quer no propósito altruísta de incentivar os indígenas aos pagamentos dos impostos; quer na inapreciável magnanimidade de libertá-los das suas crónicas fraquezas e carências. Nesse sentido cria as indispensáveis condições para eles, não se atrasarem na caminhada final, sem retorno, em direcção ao jardim das tabuletas onde, em paz e silêncio, não perturbam ninguém. O que demonstra a extraordinária esperteza saloia do Governo em, desta ardilosa maneira, obter efeitos económicos e financeiros que levarão à diminuição do défice do Orçamento. Assim, sem criarem tempestades, os governantes facultam o campo livre de empecilhos aos cidadãos que muito se orgulham de ostentarem a marca CIP e outras de semelhante recorte; os quais, se sentiram ameaçados nos seus privilégios pelo desnorteamento do Governo em matéria salarial respeitante aos indígenas. Lamentável que o Governo não decretasse sobre o Aumento do Salário Máximo Nacional… Discriminação indecente… A que a CIP, destemida e habilidosa, vai dar volta por cima… por baixo… pelo lado traseiro… pela frente… de qualquer jeito…
Igualmente merece citação a perspicácia da CIP, sempre latente e comprovada em diversas ocasiões e que agora, provavelmente, se irá evidenciar com inevitável, oportuna, mui discreta, reunião dos seus associados. É que estando a CIP e seus apoiantes a viverem um agradável e compassado (porque medido e feito a compasso) período da sua brilhante existência, urge estar alerta e consolidar a estrutura, dar-lha maior fôlego e acrescer-lhe operacionalidade. Decerto que, com este objectivo e atendendo aos usuais procedimentos cautelares da CIP, se realizará a mencionada reunião num local especial: em sede de Desconcertação Social… Reunião que incluirá o ponto n.º 1, bastante relevante, a destacar-se na ordem de trabalhos. Ou seja: Deliberar sobre o imprescindível aumento do Salário Máximo Nacional (mencione-se que, como é notório, se trata de um tipo de salário só aplicado a um reduzido número de pessoas que dominam e exploram a famigerada “Quinta Lusitana”).
Tudo isto devido ao facto de, não estando a Nação feliz e favorecida pelo Governo, prevalecer o mau senso de o pequeno país dos agiotas e oportunistas ser refúgio de abastança, ócio e prazer, para a seleccionada minoria que irá sobreviver ao caos e às misérias em que estamos mergulhados. À sua frente, o campo está livre. À “Quinta Lusitana” chamaram-lhe um figo.
Presume-se que, situado algures nos confins do Universo, o Grande Arquitecto proclame: Bem-aventuradas gentes afins da área da CIP. Delas é, agora, o reino da bicharada, vigente em Portugal.
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