Com a devida vénia
Do JN, edição de 05 de Fevereiro de 2008, transcrevemos a crónica do escritor Manuel António Pina designada “Abnegação injustiçada”.
“Aos poucos vai-se conhecendo a extraordinária dedicação dos ministros do CDS que passaram pelos inesquecíveis governos de Durão e Santana Lopes. Já se sabia que, antes de sair do Governo, Paulo Portas copiara 61 893 páginas de documentação que se encontrava no Ministério da Defesa. Agora veio nos jornais que Telmo Correia passou a madrugada do dia da posse de Sócrates metido no Ministério do Turismo a assinar despachos, 300 ao todo, entre os quais uma nova versão do parecer da IGJ que “oferece” à Estoril-Sol um edifício do Estado. Fazendo contas a seis horas a despachar (da meia-noite ao nascer do sol) dá 50 despachos à hora, quase um por minuto. Telmo Correia deve ter ficado com cãibras na mão, mas, em vez de receber uma medalha, vê o caso do prédio investigado pelo DCIAP, que está igualmente a investigar o negócio dos submarinos de Paulo Portas. Isto enquanto corre nos tribunais o “processo dos sobreiros” em que esteve envolvido – além do famoso militante Jacinto Leite Capelo Rego – outro ministro do CDS, e em que são arguidos o então director financeiro do partido e vários quadros do grupo Espírito Santo. Em Portugal, governar abnegadamente não compensa. Quem, como o CDS, só defende a “res publica” acaba sempre com a Polícia à perna”.
Nota marginal
Da façanha de Paulo Portas copiar páginas de documentos que, eventualmente, não estavam de passagem pelas instalações do Ministério da Defesa… nunca mais se soube nada. Parece que no Estado nem existe autoridade para investigar o caso. Não se tratou de um grave delito? É normal que um ministro nas vésperas de deixar o cargo ministerial copie 61 893 páginas de documentos oficiais? Fixe-se o número: 61 893. Se os documentos fossem pessoais, como alegou, por que haveria de copiá-los? Simplesmente, cabia-lhe o direito de os retirar. Não consta que o Ministério da Defesa sirva de depósito ou arquivo de papelada dos ministros que se vão sucedendo na função.
Brasilino Godinho
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