Um texto sem tabus…
UMA ATITUDE LOUVÁVEL DE SANTANA.
Mas… Porém… Todavia…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Tenho sido um crítico persistente de Santana Lopes. Precisamente no domínio dos seus desempenhos nas áreas da política e da governação. Geralmente, manifestando desacordo e reprovação. Esta minha posição mantém-se inalterável.
Isto afirmado para acentuar que estou à-vontade para o saudar e aplaudir pela atitude que tomou no decurso da última entrevista que concedeu à estação de televisão SIC. Por sinal, muito comentada na imprensa.
Não assisti, mas li os relatos do que se passou.
O caso reporta ao facto de, durante a entrevista, a interlocutora se ter permitido o desplante e a deselegância de, a mando da direcção dos serviços de informação, ter interrompido o diálogo para uma ligação ao Aeroporto da Portela onde estava chegando o treinador de futebol José Mourinho. Deu-se a apropriada circunstância que ele nem prestou quaisquer declarações. Diria o actor Badaró: Toma, e embrulha!
Goradas as intenções da SIC de ouvir o treinador Mourinho – que entendeu (e bem) não se justificarem quaisquer declarações, só porque empenhado em regressar ao torrão natal para gozar férias com a família – e restabelecida a emissão do estúdio, dispõe-se a jornalista a retomar o diálogo. Então, Santana Lopes observou-lhe com naturalidade e firmeza que não aceitava o enxovalho e a falta de consideração da SIC pelo seu convidado. Não terá dito algo referente às elementares normas de cortesia, mas poderia ter dado ênfase à falta de educação sempre patente quando alguém interrompe, sem pedir licença, uma conversa entre duas pessoas.
Enalteço e aplaudo o correcto e imprescindível procedimento de Santana Lopes.
Mas…
Dizia imprescindível procedimento atendendo a que vivemos uns tempos de desaforo, de permissividade, de desprezo de valores de cidadania, que urge contrariar. Aqui, também sobressaindo um propósito que deve ser objectivado com sentido pedagógico. Tanto mais premente, quanto naquele momento era evidenciada a rotina da má-criação e da falta de respeito pelas normas cívicas. Afere-se essa implicação também pelo alarido que o acontecimento causou nos órgãos da Comunicação Social e na generalidade da população portuguesa.
Uma repercussão que nem teria acontecido se fossem outros e melhores os hábitos de relacionamento cívico prevalecentes.
Caso isolado e excepcional de coragem e de afirmação pessoal deu azo à estupefacção e a pano para se tecerem disparatadas mangas onde encaixaram abstracções idiotas de petulantes entidades da região lisboeta…
Porém…
Santana Lopes falhou ao desabafar: “Acho que o País está doido”. Confusão de Santana Lopes. O País não padece de doidice. O País encontra-se doente e desalentado. E tem sido instruído pelas mais destrambelhadas cartilhas exibidas nas televisões, estampadas nos jornais e exemplificadas pelos comportamentos dos políticos, governantes e “inteligentes”, “sábios”, mentores radicados nos cenáculos alfacinhas, que levaram o povo a um estado de ausência de vontade, de resignação, de abastardamento moral e desconchavo civilizacional. Sintetizando: O País está deseducado!
Se considerava haver motivos para a observação, Santana deveria ter sido mais corajoso e dito com todas as letras: Acho que a SIC está louca. Portanto, foi abusiva e desastrada a generalização ao País de uma demência que, a existir, se circunscrevia àquela casa onde se encontrava. Foi um deslize que tirou algum brilho ao acontecimento que protagonizou.
Todavia…
Este caso destaca as formas desordenadas e arrogantes como as televisões e determinados profissionais do jornalismo lidam com as pessoas. Não respeitam os convidados e os espectadores. Tratam estes, como se fossem todos mentecaptos e não tivessem a real noção daquilo que vêem e ouvem. Sobretudo, evidenciam a ignorância, a escassez de educação, a petulância, o desconhecimento das regras de relacionamento cortês entre os indivíduos e gritantes desvios de natureza deontológica. Há muitos anos que vimos assistindo nas televisões à ocorrência de comportamentos lesivos da dignidade dos cidadãos e a que estes não reagem, sujeitando-se, impávidos, a todas as espécies de agressões. Era mais que tempo de alguém dizer: Basta!
Claro que sendo este o quadro de referências porque se rege grande parte do sector da Comunicação Social – e não só – nem admira a inqualificável reacção de Ricardo Costa, da direcção de informação da SIC. Como se não bastasse o disparate, a leviandade, a insensatez, a desconsideração ofensiva do convidado, permitiu-se a insolência de classificar a atitude de Santana Lopes como “inusitada e desproporcionada”. Digo: Ainda bem que rara. Desproporcionada? Nem por isso! Perfeitamente ajustada. E, como foi apreciada por muita gente, merecedora dos mais rasgados elogios.
Enfim, este episódio SIC representou mais uma achega que nos encaminha para uma solução ideal: o País dispor de uma Televisão, com a sede na Província, independente, livre dos grandes interesses instalados na sociedade portuguesa, que se pautasse por critérios de seriedade, de isenção, de rigor e de idoneidade cívica. Acima de tudo, orientada para ser de utilidade pública. Igualmente, preocupada com a elevação do nível intelectual dos portugueses mais desfavorecidos.
Também, tendo em vista deixar as televisões de Lisboa, contemplativas das suas vãs glórias; a recrearem-se entre si; a transmitirem para as clientelas que as frequentam, as sustentam e as aplaudem e para quantos oportunistas delas recebem benefícios de projecção mediática e de promoções profissionais, políticas ou empresariais.
Enquanto o Zé-Povinho as saudava com o singular manguito…
Um dia, isso será possível?
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