SARAIVADAS… Ou as confissões do Arq.º Saraiva…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Tema: Saraiva regressa de umas férias em que terá trabalhado à matroca…
José António Saraiva regressou de férias. E tal como as iniciou, também voltou sem prévio aviso. Espera-se que, agora, sem as complicações que decorreram da ida. Estamos recordados que o arquitecto-jornalista se obrigou a interromper o período de descanso para acorrer solícito e, efusivamente, agradecido a uma admiradora que escrevera para a redacção a informar que entrara em estado de depressão por lhe terem faltado, abruptamente, as prosas de Saraiva que para ela, coitadinha da moça, era um alimento especial; do qual, afirmava não poder abdicar. Não obstante o cativante gesto da menina ter contribuído para alentar o ego de Saraiva, não deixou de ser um inesperado contratempo. Sugira-se que terá sido um hiato nas férias, que lhe soube a pouco. Certamente que Saraiva se sentiu muito lisonjeado com a devoção da leitora. Claro que acorrendo, pressuroso, salvou a honra do seu convento e prestou um inestimável serviço de assistência que, sensibilizando a desolada enferma, igualmente deixou enternecidas as admiradoras do invulgar jornalista da praça lisboeta. Até nós, pouco dados a sentimentalismos piegas, ficámos impressionados com as peripécias insolitamente motivadas pela falta do anúncio do interregno das laudas do director do semanário ligado à Opus Dei.
Porém, julgamos que Saraiva, em vez de dar descanso ao cérebro, se dedicou afanosamente a preparar a retoma das actividades jornalísticas em grande estilo – o famoso “estilo saraiva”.
Apresentou-se ao serviço com dois estudos. O primeiro: uma relação de factos estranhos a que deu o título “Uma família inglesa”. Inexplicavelmente inserida na rubrica “POLÍTICA A SÉRIO”. Interrogamo-nos: O que no rol se relaciona com a política a sério? Mistério… Aqui a letra não condiz com a careta. É mais uma das confusões de Saraiva. Pouco atento à forma, ao conteúdo e à interdependência entre uma e outro.
Atendendo àquilo que Saraiva nos informou sobre o elevado esforço que despende na escrita é de prever que o período de repouso foi desaproveitado no capítulo do descanso. Daí, que Saraiva tenha ficado exausto com tantas evoluções à deriva nesse tempo de presumida pausa orientada à recuperação da força física e ao rejuvenescimento da capacidade cerebral. A normalidade do período de descanso foi quebrada com o intempestivo atendimento de socorro à leitora
A extensa explanação da teoria sobre a riqueza da Europa é feita com muita confusão de ideias. Estas, associadas a situações colectivas e individuais, formando uma teia difícil de entender. Decerto, não assimilável pelos indígenas, no grupo dos quais nos integramos. Faz-se a leitura e pergunta-se: Onde quer o autor chegar?
Logo de início, José António Saraiva concentra-se nos meandros do futebol. Começa por asseverar que “todos os anos os preços e os ordenados dos futebolistas sobem”. Depois, parte ao encontro dos jogadores portugueses mais conhecidos que estão dispersos pela Europa ao serviço de equipas melhor cotadas no mundo do futebol. Divaga sobre uns e outros, refere aspectos correlativos como as vendas de camisolas, os milhões ganhos pelos atletas, o mundo de ilusões criado à volta do futebol. Refere que “os espectáculos são caprichosos como os deuses: exigem sacrifícios humanos”– diga-se que esta novidade de os deuses serem caprichosos e exigirem sacrifícios humanos, nos deixou estupefactos; mas que relevará de Saraiva estar bem relacionado com eles, nomeadamente através das ligações do semanário à Casa de Deus (Opus Dei). Anota o articulista Saraiva que os actores ou atletas vão vivendo na Lua, embriagados pelo esplendor do luxo e o fascínio da fortuna e que muitos deles voltam à Terra desgraçados, prosseguindo “um triste destino”.
Em dado passo, o arquitecto-jornalista, perspicaz quanto baste, cai na dura e preocupante verificação: o tempo é habitado. Precisamente, “habitado em grande parte por ídolos artificiais, que vivem efémeros sucessos artificiais, que criam uma realidade artificial que movimenta milhões que circulam artificialmente”. E com tanta artificialidade (à que não escapará o tempo…) ocupando-lhe a mente, Saraiva, às tantas, observa com ênfase: “A população da Europa rica parece a nobreza de outrora: diverte-se com o espectáculo mas perdeu o sentido da produção”.
A finalizar o estudo, Saraiva “agarra-se” a Cristiano Ronaldo para o apresentar como demonstração sintomática e expressiva da sua tese sobre “A riqueza da Europa”. Escreveu: “Cristiano Ronaldo valorizou-se muitos milhões, foi comprado por x e agora vale y, mas a que corresponde isso em termos de criação de riqueza?”. O autor lançou a pergunta, para de imediato, responder: “A nada: é exactamente a mesma pessoa. Evoluiu um bocadinho em termos tácticos ou físicos, mas é a mesma pessoa. Os preços dos jogadores aumentam todos os anos, o seu valor cresce em espiral, mas o produto basicamente é o mesmo”.
O trecho transcrito é uma charada que deixa atónito qualquer desprevenido cidadão. Põe várias questões, qual delas a mais intrigante.
Primeira: Cristiano Ronaldo não corresponde “em termos de criação de riqueza”. Fica-se sem perceber a que título: Pessoal? Nacional? Europeu? E quais os termos?
Segunda: Cristiano Ronaldo “é exactamente a mesma pessoa”. Pelos vistos, azar dele. Porém, aqui entre nós, arquitecto Saraiva, diga-nos em que pessoa se deveria transformar o Cristiano Ronaldo, segundo a sua opinião?
Terceira: Mas que raio de produto deveria ser o Cristiano Ronaldo, para não ser “basicamente o mesmo” que, por sinal, parece ser do desagrado de Saraiva?
Para concluir: Esclareçam-nos o que todo aquele palavreado de Saraiva à volta do futebol e dos seus praticantes nacionais mais famosos tem a ver com “A riqueza da Europa Mais: a temática da riqueza da Europa é determinada pelas questões futebolísticas?
Por favor e se não der muito incómodo, os leitores revejam-se na pele de escuteiros e façam a boa acção de nos abrir os olhos, a fim de podermos contemplar em todo o seu esplendor a claridade que, eventualmente, na peça em causa, emane da pena brilhante de Saraiva. Resplandecência, que nos passou despercebida – o que, inevitavelmente, será tomado em conta de nosso descrédito…
Fim
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