VITRINA 6

DAS OBRAS DE BRASILINO GODINHO

20 de Março de 2021

 

“DONA GRAMÁTICA”

Opúsculo, texto apologético,10 p., 2019

 

01. A D. GRAMÁTICA impõe-se e dispõe-se…

A criatura que acorre ao chamamento pelo nome de GRAMÁTICA e, aqui, aparece adornada com a forma cortês de tratamento Dona, é de índole portuguesa. Goza da prerrogativa de ser muito conhecida e respeitada em Portugal e no mundo dos indivíduos, de algum modo, ligado à nação portuguesa e aos portugueses dos diversos lugares e dos mais variados e circunstanciais tempos de antanho e, ainda, das épocas mais recentes.

A digna senhora, gerada, crescida e apadrinhada no seio de numerosa e dispersa família que, deveras, a estimava, chegou aos nossos dias em grande forma física e não menor excelência de estado da alma. Ela, de aspecto austero, mas sempre mostrando-se acessível ou predisposta ao convívio com novos e velhos, sem distinções de classes, de raças, de credos e de sexos, aí está vigorosa e devidamente alinhada com as conveniências da vida social. O aspecto físico denota que não lhe pesam os anos. Dela se conhece a propensão para evoluir naturalmente ao compasso do tempo e para bem tratar as palavras e, através delas, tonificar a raiz do pensamento - o que, diga-se, é uma sublime tarefa. Aliás, em consonância com uma elevada forma de viver em sociedade.

Trata-se de uma magnífica figura que infunde respeito, veneração e à qual se confere o direito a reconhecimento geral e adoração particular explícita, face ao público ou acomodada no imo de cada um dos admiradores; porquanto, todos dela colhem ensinamentos e orientações tão necessárias e aplicáveis na vida da sociedade e, particularmente, no curso de existência do vulgar cidadão.

È interessante notar que ela se apresenta, à vista desarmada, saudável, bem nutrida, robusta, mui retocada e bastante guarnecida com adereços no vestuário; os quais, em vez de lhe darem um aspecto de burlesco espavento, pelo contrário, lhe conferem alguma graciosidade. Quando a famosa dama é observada mais de perto e tocada com todos os devidos, requintados, marcadores - o melhor jeito, a mais pura das intenções e a imprescindível solicitude - por qualquer indígena, é inevitável que o felizardo observador (mui diligente e… astuto tocador) fica sensibilizado com as suas harmoniosas e delicadas formas.

Particularidade ímpar da sua rica personalidade é a de ser muito culta, dir-se-ia que enciclopédica. Neste ponto, convém sublinhar que é especializada nas matérias que se consubstanciam na sua pessoa. Talvez por isso, jamais a acusaram de ter algo na manga. É que está tudo à vista - esteja esta, ingenuamente, desarmada ou acintosamente armada com preconceitos e aversões de melhor ou pior espécie…

02. BRASILINO GODINHO EXALTA D. GRAMÁTICA

A D. GRAMÁTICA é uma senhora bastante conhecida, de boa reputação social, de trato acessível, erudita, muito estimada por pessoas de bem.

Não obstante, é frequentemente maltratada. Há mesmo quem se obstine em dar-lhe pontapés que ela estoicamente aguenta, apesar de, por vezes, serem de grande violência. Porém, quando isso acontece, não fica de rastos, devido à forte robustez de que é possuída. Até dá a impressão que está muito calejada. 

Há muito tempo que conheço a D. GRAMÁTICA. Tive o privilégio de ma terem apresentado, se bem me lembro, no ano oitavo da minha infância. Recordo que, naquela altura, não me despertou especial deslumbramento; embora tivesse ficado algo impressionado com a sua envergadura corporal.

Ao compasso do tempo fui tendo frequentes contactos com a Senhora D. GRAMÁTICA que me ia despertando interesse pela pessoa e atracção face à natureza cativante da sua rica e multifacetada personalidade.

Vai daí, que…

Devo confessar: desde meus tempos de adolescente que estou apaixonado pela Senhora D. GRAMÁTICA. É um amor platónico. A convencional distância. Nunca formalmente declarado à Senhora D. GRAMÁTICA ou confidenciado a qualquer pessoa; dado que, por um lado, sempre foi patente que tão virtuosa Senhora é indefectível solteirona; e, por outro, o Brasilino Godinho jamais teve a veleidade de tentar conseguir demovê-la dos presumidos votos de celibato.

Pois fica aqui, em primeira mão, sem vergonha, divulgado esse meu amor reservado e escondido pela excelsa Senhora D. GRAMÁTICA.

Face a esta exposição de um sentimento tão íntimo, facilmente se intui que me caberia obrigação moral e dever cívico, de elaborar uma peça escrita de exaltação de tão nobre figura feminina da nossa melhor sociedade linguística e apresenta-la ao respeitável público. Fi-la com imenso prazer e desejo, ardentemente, que tal minha atitude de deferência desperte, em todos os leitores, a simpatia de que é merecedora a excelsa Senhora D. GRAMÁTICA.

03. “DONA GRAMÁTICA” É CASO ÚNICO NA LITERATURA DE PORTUGAL

A “DONA GRAMÁTICA”, veio preencher uma lacuna. E dela nos podemos lamentar se nos detivermos a analisar a situação da Língua Portuguesa em Portugal e no Mundo. Pois que, cada vez mais em Portugal, o idioma se usa deficientemente – o que decorre de a D. GRAMÁTICA, no meio escolar, ter vindo a ser menosprezada, desentendida e sido considerada como o patinho feio dos programas do Ensino.

O que converge no facto de aos estudantes suscitar alguma desconsideração, se não mesmo aversão.

No entanto, ela é parte inestimável e essencial do bom uso da linguagem falada e escrita.

Há muito tempo que se impunha fazer a apologia da GRAMÁTICA. Desde que ela fosse expressa em termos aliciantes que despertassem atenção e outro olhar favorável à consulta e aprendizagem da GRAMÁTICA. Ou seja: inculcar no espírito do estudante de português uma imagem bastante agradável.