NESTE DIA
Há 2 anos
Brasilino Godinho
ESCRITO HÁ DOIS ANOS COMO SE TIVESSE SIDO HOJE
A IRONIA DE UMA VARIEDADE DE CENTEIO
E A PERDA DE VALIDADE DE UM CONCEITO
01. O durão cidadão Barroso (conhecida variedade de centeio) - que no seu tempo áureo de político desta terceira república disse, em alto som, que Portugal estava no estado de tanga – é, agora, um capitalista que destoa da pelintrice em que então o país estava (e está) mergulhado. Um fenómeno com o seu quê de ironia, de singularidade franciscana e de austera pobreza(…) enriquecida com deslumbramento, pompa e circunstância europeia; fastos centrados em Bruxelas.
02. Em tempos recuados da monarquia dava-se como adquirida a certeza de que era na realeza que se situava a reserva moral de Portugal.
Passados anos de desvarios monárquicos passou-se a considerar que era na Igreja que se acolhia a reserva Moral da nação portuguesa.
Com o Estado Novo, no século XX, houve nova inflexão sobre a entidade que se deveria admitir como a famigerada reserva moral e a designação, a cargo dos corifeus do situacionismo, caiu de supetão nas forças armadas. Assim promovidas a um estatuto que premiava e enaltecia a lealdade a Oliveira Salazar e ao regime que ele dominava com mão de ferro; e usando cortinas várias de textura férrea.
E já na vigência da temporada do pós-25 de Abril, sem ninguém me ter feito encomenda do sermão dirigido às hostes, resolvi cometer o devaneio patriótico de afirmar publicamente que a reserva moral da sociedade portuguesa estava configurada na Magistratura Judicial.
Hoje reconheço que, infelizmente, me precipitei. Estou errado. Convencido por aquilo que é público e notório, digo: a minha ideia perdeu validade.
A reserva moral conectada com a Justiça, foi atingida por um fatídico ar que lhe deu ou que penetrou nas entranhas do corpo institucional que lhe facultava sustento e operacionalidade.
03. Agora, que dizer acerca de tudo isto?
Inevitavelmente há que ajuizar do estado moral em que se encontra a grei e do valor e aplicabilidade do conceito de reserva moral do país.
E sem grandes considerações, apurados estudos ou extensas análises, do que possamos designar por desgovernação, circo, mercado, teatro ou tragédia não grega, mas especificamente portuguesa, facilmente se conclui que a reserva moral decaiu para incrível e obsceno patamar de inépcia, descrédito e inanidade.
Praticamente, todos os dias, acontecem gritantes demonstrações da gravidade das patologias que estão corroendo o tecido sociopolítico da lusa nação.
O que é situação reflexa do colapso da Moral, do descrédito dos falsos moralistas e da degradação geral a que chegou Portugal. País mergulhado no pântano de que falava a guterreana criatura; esta, provavelmente colocada no alto observatório da ONU por cautelar providência de divino ser… convencido pela aguerrida dialéctica do político português.
04. Impõe-se questionar: Qual o futuro da nação portuguesa se nem sequer possui o arrimo de uma reserva moral a que recorrer para recuperar da letargia e da decadência que, com bastante intensidade, tanto se fazem sentir no quotidiano das suas gentes?
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