145. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
27 de Maio de 2018
A AMEAÇA DOS ROBOTS HUMANOS
01. Há oito dias fui ao Fórum de
Aveiro e, com desagradável surpresa, deparei com o espaço vazio onde estava
instalada a Livraria Bertrand.
Ela mudara para outro local,
cerca da sede da Câmara Municipal e ocupando área menor e de mais acanhada
acomodação dos escaparates.
Fiquei triste!
02. A Livraria Bertrand
sobressaía como lugar de cultura, em sítio de estabelecimentos de restauração.
Dir-se-ia uma catedral, qual templo de cultuar o Conhecimento, o Saber, a
Erudição e o Lazer.
Infelizmente é um mau prenúncio
do que a médio prazo lhe irá acontecer, em continuidade do que tem sucedido com
estabelecimentos similares.
E ilustrativo reflexo: quer do défice de cultura geral
prevalecente na sociedade portuguesa; quer da crise económico-financeira em que
o país está mergulhado.
03. Por outro ângulo de abordagem
deste negro quadro, há que reflectir sobre o cadente rumo das Humanidades.
Inevitavelmente, venho-me
convencendo que as Humanidades tendem a ser cada vez mais desprezadas e
atingidas pelas nefastas consequências decorrentes do preconceito de que a
Ciência é o factor decisivo (dir-se-ia único) de desenvolvimento do bem-estar
social.
04. Afinal, sentimento hostil gerado
no seio da própria instituição universitária – o que é um contra-senso em
desarmonia com a sua intrínseca universalidade, a altíssima valia das ciências
sociais e a suprema conveniência dos estudos culturais; factores
sobressalientes numa comunidade que se pretenderia ser sobremodo engrandecida e
amplamente valorizada e enriquecida dos valores culturais e sociais e mui
alicerçada nos imprescindíveis princípios morais e, éticos.
05. Estamos numa época em que,
através das universidades, se está processando a formação maciça de pessoas carecidas
de alma que, sem aprendizagem filosófica, sem cultura geral, sem hábitos de
leitura, serão seres insensíveis, e bastante limitados nas suas capacidades de
lucubração mental; pese, embora, que possam atingir graus de eficiência nas
suas especializações científicas. Dito de outra maneira: estamos a criar indivíduos
autómatos; quais robots humanos.
06. Certamente que tal orientação
vigente na governação e no sector universitário trará profundas, gravosas e
terríveis consequências para a humanidade em geral e, particularmente, em
Portugal. Aqui, nesta lusa terra, já se vão sentindo os maléficos efeitos.
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