138. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
15 de Maio de 2018
BRASILINO GODINHO
15 de Maio de 2018
“QUEM SEMEIA VENTOS,
COLHE TEMPESTADES.”
01. O futebol em Portugal tem
evoluído muito na técnica, nas tácticas e nas estratégias. Até parece que
estamos tratando de uma linguagem própria de militares quando ocupados em
acções bélicas nos alargados campos de batalha.
Hoje vai-se tendo a noção de que
os campos de futebol são espaços de combate entre inimigos que pouco ligam às
convencionadas leis da guerra. E o pior é que são combates programados. Com o
gravame que as lutas geralmente não só preenchem as arenas onde se disputam as
pugnas mais acesas, mas também os espaços circundantes ocupados pelas falanges
que acompanham e incitam os contendores.
Muito aflige vermos as
reportagens das televisões em que multidões a caminho dos estádios são
enquadradas por forças militarizadas, equipadas como se elas mesmas estejam
mobilizadas para a guerra total.
Depois, enquanto se desenrolam os
combates nos arrelvados, irrompe no espaço envolvente todo um espectáculo de má
criação, de agressividade incontrolada manifesta nos impropérios e nas cenas de
pancadaria entre indivíduos que extravasam toda a maldade e ódio que ao longo
das semanas vão recalcando no seu íntimo.
Este deprimente quadro negro,
associado a práticas de corrupção, que é a imagem de marca do futebol português
denota a degradação cultural, a anarquia cívica, a imoralidade e a deseducação
geral, a que se chegou na terra portuguesa.
02. E se começámos por falar no
progresso técnico verificado na prática do futebol, temos que, necessariamente,
incluir a violência utilizada em campo de desvario futebolístico e… nos órgãos
de comunicação social.
Para além do confronto verbal e,
por vezes, físico, a própria profusão de mesas
redondas e… quadradas com que as televisões saturam os seus públicos, é uma
violência e releva a profunda influência e mentalização doentia que exerce
sobre as massas futebolísticas.
Embora que, para algumas escassas
pessoas, em cujo número nos incluímos, esses arrastados debates sobre o pontapé
e o encontrão dados a tempo ou fora de tempo pelo jogador fulano ou beltrano,
muitas vezes suscitem hilaridade e gozo, dado o tom sério e pretensamente académico
das intervenções de quem se leva muito a sério na defesa da sua dama
futebolística.
É um gozo! Mas que, afinal,
também enjoa e repugna – pelas inúmeras horas que ocupa nos programas das
televisões. Com assinalável quota-parte na desconformidade desportiva.
03. Outra característica do
futebol das competições nacionais é a gravíssima promiscuidade entre os clubes,
os poderdes políticos e a banca. Do que resulta os exagerados vencimentos, as
milionárias contratações de jogadores, vendidos e comprados como se fossem um
bem material ou um qualquer outro animal mamífero. A dignidade humana é
subvalorizada ou mesmo desprezada.
A ganância dos títulos leva a
todos os exageros possíveis ou imagináveis. E, claro, que é causa das atitudes
mais agressivas que, não raro, excedem as previsões mais pessimistas.
Acontecendo que dirigentes das
agremiações futebolísticas, sem decoro e sem moral, pelo que proclamam, são
agentes fautores das piores manifestações de violência que se sobrepõem a todas
as precauções tidas para as evitar ou para lhes opor resistência e efectivar
domínio.
04. O que hoje aconteceu em
Alcochete – segundo os relatos da imprensa - é um horrível caso de insegurança
pública, de crueldade e um alarmante aviso para o que de dramático se encaminha
a violência instalada no sector desportivo. Que de certo modo é reflexa do
clima de exasperação que está latente nas camadas mais carecidas da nação e que,
provavelmente, a médio prazo vai eclodir com extrema intensidade destruidora na
sociedade portuguesa.
05. Resumindo: o progresso
futebolístico redundou num complexo, obsceno, corrupto e agitado jogo sujo a
vários níveis e acompanha, imprimindo com intensidade crescente, uma evolução
negativa da sociedade portuguesa.
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