142. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
22 de Maio de 2018
AS CRISES, A AUSTERIDADE,
O CULTO DO FACILITISMO,
DÃO AZO A MUITOS MALES
Os jornais de hoje trazem uma
triste notícia: o Diário de Notícias
vai passar a semanário que, provavelmente, será a antecâmara do seu colapso final.
Para mim, que me lembro de com
ele ter, a partir do ano de 1938, iniciado a prática de ler e de naquela época
ele custar trinta centavos, a referida notícia é muito confrangedora.
O transe porque passa o Diário de
Notícias leva-me a reflectir sobre as causas da decadência dos periódicos de
papel que tem provocado a sucessão de falências das empresas jornalísticas.
É comum ler-se e ouvir-se que é a
internet, as edições em formato digital e as redes sociais, que estão
provocando o encerramento dos órgãos da imprensa escrita. O que tem alguma
parcela de fundamento.
E em reforço dessa teoria diz-se
que a facilidade e rapidez de leitura cativam o público e o predispõe para o
abandono dos jornais de papel. Também, sob este aspecto, assente algo de
verdade.
Porém, parece-me que importa
aprofundar a análise.
Antes de mais, há que considerar
que a crise da imprensa escrita tem a ver com o culto da facilidade que se
instalou na sociedade por força do impulso que lhe tem sido dado nos ensinos
básico, secundário. No ensino superior o facilitismo nem precisa de ser
estimulado nos alunos, por que neles já está enraizado pela prática que vem de
trás (do básico e do secundário) e à não aquisição de hábitos de leitura das
obras de bons autores. Os programas naqueles graus: primário e secundário, estão
gizados por forma de os estudantes se aterem a aprendizagens superficiais das
matérias, ao exagerado uso de máquinas de calcular e computadores; e sem a
assimilação só possível pela concentração e suficiente tempo de leitura em
livro. Precisamente o que a edição digital não faculta.
Depois, as sucessivas crises que
tantos estragos têm causado na nação portuguesa, e a persistente austeridade, fizeram
com que a maioria da população perdesse poder de compra, e não tendo dinheiro
para satisfazer necessidades básicas também ele lhe faltou para a compra dos
jornais, acarretando a progressiva redução das tiragens. Claro que em tempo de
generalizada pobreza, de deficitária economia, de falências no sector fabril, e
de enfraquecimento da actividade comercial, as empresas da comunicação social
perderam quotas de rendimento publicitário – o que afectou gravemente a gestão
corrente das suas unidades de produção jornalística.
Isto explanado sucintamente para
realçar que as extremas dificuldades que afectam os órgãos de comunicação
social são complexas e, sobretudo, decorrem das crises em que Portugal vem
estando mergulhado: as políticas; a
do ensino e educação; e a do clima de facilidades incompatíveis com o regular
funcionamento das instituições e com a imprescindível harmonização no tecido
social.
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