94. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
13 de Fevereiro de 2018
NOBRE E IMPERECÍVEL LIÇÃO
DO IMORTAL EÇA DE QUEIRÓS
(Continuação)
02. “Por outro lado, o esforço contínuo de um homem para se
exprimir, com genuína e exacta propriedade de construção e de acento, em
idiomas estranhos – isto é: o esforço para se confundir com gentes estranhas no
que elas têm de essencialmente característico, o Verbo – apaga nele toda a
individualidade nativa. Ao fim de anos, esse habilidoso, que chegou a falar
absolutamente bem outras línguas além da sua, perdeu toda a originalidade de
espírito, porque as suas ideias forçosamente devem ter a natureza
incaracterística e neutra que lhes permita serem indiferentemente adaptadas às
línguas mais opostas em carácter e génio. Devem, de facto, ser como aqueles
corpos de pobre, de que tão tristemente fala o povo, que cabem bem na roupa de
toda a gente. Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras
constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. Há aí, diante dele,
como o desejo servil de não sermos nós mesmos, de nos fundirmos nele, no que
ele tem de mais seu, de mais próprio – o Vocábulo. Ora isto é uma abdicação da
dignidade nacional.
Não, minha Senhora! Falemos
nobremente mal, as línguas dos outros!...”
Eça de Queirós (in “A Correspondência de Fradique Mendes”,
2.ª ed., Porto, 1902, p. 142)
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