Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sexta-feira, janeiro 12, 2018



64. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
12 de Janeiro de 2018

UMA TRISTE NOTÍCIA

Acabo de ler no SAPO Online a notícia de que se prevê a transformação do DIÁRIO DE NOTÍCIAS num semanário. Lamento profundamente!
Este jornal é para mim como que um membro da minha família. Desde a infância.
Corria o ano de 1938. Contava 7 anos de vida em Outubro quando entrei na Escola Primária da Várzea Grande, em Tomar. E como tinha em casa todos os dias o jornal Diário de Noticias, que então custava 30 centavos, posso dizer que ele foi um precioso instrumento da minha aprendizagem de leitura. Primeiro, seduzido pelas imagens, depois praticando a soletração com a preciosa ajuda dos familiares. Também nessa altura se foi sedimentando a propensão para me manter desperto para os acontecimentos do quotidiano da sociedade portuguesa. Outrossim, o interesse pela actualidade internacional, que em 1938 e 1939 estava focada no desenrolar da Guerra Civil de Espanha. Conservo a lembrança dos filtrados (pela censura do Estado Novo) relatos dos correspondentes de guerra e a memória da visão do General Franco em várias fotos de cenários de destruição; os quais, feriam a sensibilidade da criança Brasilino.
A consulta quotidiana do Diário de Notícias manteve-se por largas dezenas de anos. Era como que um ritual que se cumpria com apetência e satisfação.
Isso não obstava a que, na sucessão dos tempos de vida, lesse diariamente o Século, O Primeiro de Janeiro e aos sábados o Século Ilustrado, a Flama e a Vida Mundial E já a meados do século XX lia com frequência o Diário Popular e o Diário de Lisboa.
A imprensa nacional no período entre 1938 e os anos sessenta, para além dos citados, comportava vários periódicos: O Jornal de Notícias, O Comércio do Porto (que por sinal, tido como germanófilo, era aquele que mais publicava as informações emanadas do Grande Quartel General do Fuhrer), República (quotidiano oposicionista), Voz (de tendência monárquica), Novidades (jornal da Igreja), Diário da Manhã (periódico situacionista); os quais (excepto o JN) se foram extinguindo ao compasso do tempo. Sempre que era possível lia-os todos.
Pelo que fica exposto o leitor compreenderá a razão de me sentir triste e preocupado em ver denegrir a imagem e a importância de um jornal que, tal como o JN, é uma relíquia de um período sui generis e de uma imprensa que, em circunstância difíceis e sujeita a severas restrições impostas pelo Estado Novo, representava diversas correntes de opinião e com altos e baixos expedientes mantinha viva a chama de informar o público.
Outrossim, que deu intento e alguma formação intelectual e cívica ao escriba que subscreve este escrito de lamento por um jornal que, provavelmente, após passar o cabo das tormentas inerente a um semanário, tenderá para o colapso como sucedeu a todos aqui mencionados e que eram o núcleo da imprensa de Lisboa e Porto.