60. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
08 de Janeiro de 2018

MENS SANA IN CORPORE SANO

01. No p.p. mês de Outubro iniciou-se um novo ano lectivo. Estamos no limiar do 2018.

Pareceria apropriado que os portugueses, em geral, e os pais de alunos de todos os graus de ensino e os professores, em particular, se debruçassem sobre as cadentes questões que caracterizam a educação e o ensino em Portugal.

Infelizmente, tal extensa e complexa problemática está praticamente colocada â margem das preocupações de tão vastos sectores da sociedade portuguesa.

E no entanto se há factor importantíssimo a impor-se no nosso quotidiano é seguramente a educação das novas e velhas gerações; embora se saiba que a maioria dos adultos do nosso tempo têm redutora predisposição e, nalguns caos, nem reúnem básicas condições para corrigir defeitos ou adoptar comportamentos mais consentâneos com boas regras de educação, regulares normas de civilidade e com atitudes de harmoniosa participação na vivência da sociedade.

Há que referir a educação como um dos pilares da formação integral do ser humano.

02. No meu entendimento a formação integral do homem assenta em quatro pilares: educação, língua materna, filosofia e matemática.

A educação está muito desprezada logo no ponto de origem onde devia germinar e desenvolver-se: no seio da família. Muito pela confrangedora realidade de muitos pais terem dela grande carência. Depois, viria a escola primária a dar-lhe alguma complementaridade – o que não se verifica pelo facto de a generalidade dos professores concentrarem as suas actividades na área do ensino e bastantes se alhearem de todo em ministrarem conceitos básicos de educação cívica.

A língua pátria é de fundamental aquisição, contínua prática e firma consolidação, por motivações óbvias, aqui nem mencionadas para não alongar um texto que é de curta extensão.

Ela até é menosprezada logo na escola do ensino básico. Nalgumas escolas é mesmo preterida pelo inglês e pelo chinês.   

A filosofia tem um papel importantíssimo na estruturação e ordenamento do pensamento e na interpretação dos conceitos; quer no seu acolhimento, quer na sua formulação e que se geram em nós ou se expressam como representações mentais, abstractas ou gerais de tudo que nos rodeia no diversificado mundo em que estamos inseridos. No século XX o ensino da Filosofia foi reduzido. As nefastas consequências estão à vista. Basta ver, ler e ouvir certos políticos e alguns letrados, nas suas desastradas intervenções funcionais e públicas.

Nota de reparo: No século XIX para se aceder ao curso de Medicina havia que frequentar a disciplina de Filosofia. O que propiciou o surgimento de grandes pensadores, pedagogos e escritores, na classe médica - como sucedeu com o eminente Professor Doutor Serras e Silva, pioneiro dos Estudos Sociológicos em Portugal.

A matemática é uma disciplina que exercita o pensamento na prática da análise, da esquematização, da dedução, com relevante incidência no campo das entidades abstractas. De certo modo, complementa a função e alcance da filosofia.

03. A precedente composição textual assinala a precariedade de uma situação nacional anómala, extremamente danosa para a Nação: o vazio do preceito latino: MENS SANA IN CORPORE SANO (alma sã em corpo são).

Até meados do século XX esta era uma norma de procedimento bastantes vezes citada na imprensa. Hoje quem a vê por aí escrita? É sintomático do abandono que lhe é dado pelos governantes e pela sociedade.

Curioso é que no tempo de Salazar a expressão latina aqui citada era bastante inserida em textos de opinião publicados nos jornais. Assim a modos de pôr em cheque as actividades da Mocidade Portuguesa.

Recordo-me que muitas vezes era reproduzida a afirmação de Serras e Silva que foi, no seu tempo, das pessoas que mais se ocupou da formação integral do homem, do seguinte teor:

“Formar homens importa muito mais do que divertir o público com marchas empertigadas em que se afecta um vigor que não existe e uma mentalidade que é apenas exterior e coreográfica.”