O DEBATE E O PÓS-DEBATE
NOTAS
SOLTAS
Brasilino Godinho
10 de Setembro de 2015
01. O debate da noite de ontem entre Passos Coelho e António Costa -
não tendo sido um pró-forma televisivo, como admitíamos na nossa crónica de
ontem à tarde, por culpa de Costa que se revelou um desmancha-prazeres de todos
quantos instalados no Reino das Mentiras (criado há quatro anos na formal
república portuguesa), vinham celebrando a estrondosa derrota de António Costa
- deu azo à consumação dos dois espectáculos que anunciávamos: o confronto
verbal entre os dois contendores e o teatro/circo que se lhe seguiu. No
espectáculo circense, com intermitências e desempenhos teatrais vários, notaram-se
as previstas actuações dos comentadores de serviço e apoio operacional aos
actuais governantes.
Caso para se reconhecer que, para
a rapaziada da corda sobre a qual
saltitam tantas personalidades das mais finas estirpes coelhal e paulina, foi
uma imprevista chatice.
02. Se abstrairmos a referida rapaziada
da corda que dirá sempre que Passos Coelho não perdeu, todos os milhões de
portugueses isentos e com algum discernimento afirmarão que o debate teve um
vencedor: António Costa – o qual superou o antagonista. Ele, António Costa,
causou uma enorme desilusão a todos os que davam por adquirida a arrasadora
vitória do ídolo, Passos Coelho, das claques de apoio à coligação da governança
e que, mais uma vez, se portaram como os fanáticos dos clubes de futebol.
03. E por falarmos em desilusão deu nas vistas a grande frustração
do famoso companheiro/correligionário de Passos Coelho, ex-chefe do PSD, professor
Marcelo Rebelo de Sousa – o grande profeta da derrota de António Costa que, não
obstante a terrível contrariedade, declarou preto no branco para quem o quis
ouvir nas televisões ou ler nos jornais:
“No geral, no total, António Costa
ganhou”.
04. Porém, apesar da nítida superioridade evidenciada por António
Costa, a máquina propagandista do grupo governamental e seus acólitos
acomodados nas televisões, na imprensa e, assaz, bem nutridos à mesa do ORÇAMENTO,
entraram de imediato em acção no sentido de encobrir o mau êxito de Passos Coelho
e denegrir a figura e a prestação de António Costa.
05. Além disso, repare-se:
Antes do debate os comentadores
avençados das televisões e da imprensa escrita diziam que o debate era decisivo
para determinar o sentido de voto dos eleitores.
A partir do final do debate e
para os mesmos artistas do malabarismo da discursata o encontro televisivo
deixou de ter relevância e os apregoados efeitos. E, descobriram uma suprema heresia:
pouco ou nada se falara do futuro da governação e de Portugal.
06. Assim, transpareceu uma decorrência da vitória de António
Costa. Para os corifeus e membros das claques de Coelho e de Portas, impôs-se
desde logo desvalorizar o triunfo de Costa. Assistiu-se a um obsceno
espectáculo de prestidigitação, sucedâneo daquele outro frustrado de tirar
coelho da cartola. Sobre o referido espectáculo, digamos a palavra
caracterizadora: Indecoroso!
07. O debate veio comprovar que a designada cassette do PC passou à história. O que está na berlinda, em sede
do conglomerado da coligação PSD-CDS/PP, são as cassettes de Passos Coelho e de Paulo Portas.
Se Portas se apresenta a todas as
horas com a cassette da sua actividade de eterno
caixeiro-viajante do governo, da situação da Grécia e do Syriza, Passos Coelho
foi para o debate com as cassettes de Sócrates, do governo socrático, da Grécia
e do Syriza.
Apesar - ou também pela saturação
causada pela contínua audição - das cassettes a coligação já conta (em menos de
uma semana) com duas expressivas derrotas:
os resultados dos debates de Catarina Martins com Paulo Portas e de Passos
Coelho com António Costa.
08. Quanto à repetida ladainha recitada pelos sacerdotes do templo
de Coelho e de Portas, de ter faltado discussão sobre o futuro, importa
desmistificar a falácia que lhe subjaz. Aliás, trata-se de um falso pressuposto
(eventualmente) inibidor e agora apresentado como desvalorizador do debate que
verdadeiramente era plausível e credível: a avaliação das desastradas políticas
de 4 anos do governo de Passos Coelho/Paulo Portas.
Certamente que programar e
discutir o futuro de Portugal e os programas de governação faria sentido em
contexto de normalidade sociopolítica e de vigência de um Estado de Direito.
Precisamente, circunstâncias inexistentes em Portugal.
Não há que negar a evidência das
coisas e loisas. Neste país, não há normalidade sociopolítica; nem vigora o
Estado de Direito. É que em Portugal está em prática institucionalizada, com o
patrocínio do presidente Cavaco Silva, o Reino da Mentira, instaurado por Passos
Coelho e por Paulo Portas e que coloca o país ao nível de um estado do terceiro
mundo.
Fixemos esta indesmentível
verdade: a POLÍTICA como arte ou ciência de bem administrar a nação é
incompatível com a mentira e com a participação de governantes mentirosos. Forçosamente,
a POLÍTICA terá dimensão ética. E apego à Moral. O que actualmente existe em
Portugal é uma mascarada política. Patética! Ridícula! Oportunista! Corrupta! Clientelista!
Agressiva! Destruidora!
O Estado de Direito per se repele a mentira, que considera
coisa abjecta e indigna de uma sociedade civilizada e bem estruturada.
Outrossim, estejamos atentos a
uma importante particularidade: a
mentira compartilha sempre parentesco, vizinhança ou proximidade com a
corrupção; geralmente, sede e prática com a mesma. E Portugal já tem vergonhosa
cotação internacional de ser um dos países mais corruptos da Europa.
09. Do debate entre Passos Coelho e António Costa se havia algo que
estava desajustado a reflexões (até as impedindo) dos contendores, era
precisamente discutir sobre os programas e medidas governamentais que ambos
prometeriam implementar durante a próxima legislatura.
Porquê? Por uma razão simples: Passos Coelho não proporciona nenhuma
credibilidade ao que diz, promete ou pretensamente garante (como gostosamente gostam de citar jornalistas e
comentadores alinhados com Coelho e Portas). E sendo assim, para quê ouvir mais
inverdades e mentiras de quem é useiro e vezeiro em lançar mentiras constantemente?
A prevalecer a ideia em causa e face aos acontecimentos antecedentes, só
estaria garantido o engano dos portugueses.
Impõe-se fazer o registo: Não há
memória de alguma vez, na História de Portugal ter havido um chefe de governo
que a toda a hora e em qualquer dia e lugar faltasse tão persistentemente à
verdade como Passos Coelho.
Daí, que debater o futuro com
Passos Coelho seria chover no molhado
e tempo ingloriamente consumido. Não seria útil, nem sequer recomendável; por
que corria-se o risco de ser altamente corrosivo da verdade e alienante de
milhões de portugueses.
A propósito sublinhe-se que os
portugueses deveriam praticar a higiene mental, dado que em tempo do Reino da
Mentira ela é um importante instrumento de salvaguarda para não se deixarem
enlear nos embustes dos vendedores da banha de cobra…
Todavia, compreendemos que toda a
gente que gravita em torno de Passos Coelho e Paulo Portas sinta uma grande
frustração em não ter sido aprofundada a questão do rumo de Portugal. É que
ficou perdida a oportunidade de Passos Coelho dar largas à exposição de um
manancial de mentiras que facilmente enganassem os portugueses e os levassem no
engodo eleitoral.
Mais: era uma forma ardilosa de
se desviar a atenção da parte essencial do debate, que era apreciar a
governação dos últimos 4 anos. Também aqui agregada mais uma chatice para o
grupo de milhares que seguem, veneram e aplaudem, o grande timoneiro, Passos
Coelho, promotor e mentor das bem-aventuranças terrenas dos seus discípulos, companheiros
e apoiantes, em simultaneidade com as desgraças de milhões de cidadãos
nacionais por si providenciadas com teimosia e grande insensibilidade,
10. De assinalar que o debate televisivo proporcionou a Passos
Coelho uma oportunidade de mais uma vez evidenciar a sua faceta de criador.
Ele que criou:
- generalizada pobreza na sociedade
portuguesa;
- condições soberbas de
enriquecimentos mais ou menos ilícitos e oportunistas a privilegiadas
criaturas;
- laços de fraternal amizade com Angela
Merkel;
- singular, irrevogável, comunhão
ideológica com o irrevogável Paulo Portas;
- fantasioso oásis coelhal (que
alternou com o oásis cavacal);
também ontem, no seu peculiar
estilo de pomposa retórica política sem conteúdo substancial, enriqueceu a linguagem
oral com a introdução da palavra austeritarismo que, solícito para com os espectadores
das televisões, teve a bondade de pronunciar duas vezes…
11. Durante a edição
extraordinária de ontem da Quadratura do Círculo foi referido por
Pacheco Pereira que havia conhecimento de que as últimas sondagens sobre as
próximas eleições legislativas de 04 de Outubro se estavam realizando com audição
de reduzido número de inquiridos (foi citado - se bem percebemos - que, num
caso, o número foi de aproximadamente 300 opiniões – o que num universo de uma
população de quase dez milhões de pessoas dá bem a ideia do nulo grau de
credibilidade de tais inquéritos eleitorais. Certamente sondagens usadas como
meio de manipular e influenciar os eleitores indecisos. Factos que, naturalmente,
estão a condizer com o Reino das Mentiras florescente em Portugal.
Fim
P. S. Este texto foi escrito com activo repúdio do novo Acordo
Ortográfico.
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