José
Sócrates em estado de êxtase místico
NOVELA: O HÓSPEDE DA CELA 44
Brasilino Godinho
Estou
à vontade para falar do caso José Sócrates.
Enquanto
governou o “menino de ouro” do PS, bastante escrevi sobre a sua acção
governativa e a gravidade de que se revestiram as políticas implementadas pelo
governo sob sua chefia.
Aqui
- e agora que está na mó de baixo e é forçado hóspede da cela 44, do
estabelecimento prisional de Évora - não vou atacá-lo. Nem defendê-lo.
Vou
limitar-me a fazer um registo de factos concernentes ao que poderemos designar
por novela: O HÓSPEDE DA CELA 44.
A
qual tem início a 21 de Novembro de 2014, com a detenção da criatura socrática no
aeroporto da Portela, quando regressava de Paris.
A
partir da data da prisão do ex-primeiro ministro sucederam-se os episódios:
interrogatórios, visitas ao detido, declarações de advogados, dos amigos e
correligionários, manifestações de apoio, exibições de cartazes, etc,.
Mas,
sobrelevando todas essas variações mais ou menos mediáticas que, por vezes,
tomaram o cariz de espectáculos folclóricos, há a participação diária de certa
imprensa na divulgação dos chamados segredos de justiça.
Nessa
absorvente tarefa de exposição pública das peças do processo, destacam-se o
diário ‘Correio da Manhã’ e o semanário ‘SOL’. Dir-se-á que naqueles jornais se
instalou um ódio de estimação para com José Sócrates.
Aquele
diário todos os dias acrescenta uma novidade quanto ao rol dos ilícitos
atribuídos ao ex-primeiro ministro. O semanário com nome de estrela que é o
centro do nosso sistema planetário, não fica atrás do diário matinal e quase
todas as semanas traz achegas ao desenvolvimento dos episódios das fugas de
informação atinentes à violação dos segredos da justiça – que pelos vistos é
uma invulgar e particularizada justiça sem segredos.
Existe
a sensação que os dois jornais têm em mãos o desenrolar do processo de
condenação de José Sócrates no tribunal da opinião pública.
Com
a imensidade de textos acusatórios publicados no ‘Correio da Manhã’ e no ‘SOL’
já se poderia compor um livro com muitas centenas de páginas.
A
novela também inclui os sucessivos recursos interpostos para os tribunais da
Relação de Lisboa e Supremo Tribunal de Justiça.
Hoje,
pela Internet, ficámos sabendo que o último recurso referente à libertação de
Sócrates foi rejeitado pelo Tribunal da Relação de Lisboa, constituído pelas
juízas Maura Maurício, Teresa Féria e juiz José Reis. Este juiz votou vencido.
Da
declaração do juiz José Reis, aditada ao processo, destacamos:
“Não se pode fazer um juízo fundamentado
acerca da complexidade da investigação, sendo certo que não há complexidade
alguma em investigar o nada.”
“No fundo este tribunal fica sem saber o
que, concretamente, com relevância criminal se está a investigar.”
“Em momento algum o recorrente (José
Sócrates) foi confrontado com quaisquer factos ou indícios concretos
susceptíveis de integrar o crime de corrupção.”
Estas
declarações do juiz José Reis são de grande importância e demonstram que a
novela socrática está sendo muito mal contada.
E
duas lições se extraem:
Primeira
lição: abriu-se um mau precedente quando se prendeu uma pessoa para ser
investigada a sua conduta. E por falar em conduta pôs-se o carro à frente dos
bois. E se o carro foi, desordenado, em frente; os bois fizeram marcha atrás e
ninguém os deteve, na pachorrenta e incerta caminhada.
Segunda
lição: o preso José Sócrates, da cela 44, da cadeia de Évora, é suspeito de
fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção. Sem culpa apurada foi
dentro.
O
ex-banqueiro Ricardo Salgado suspeito de fraude fiscal, branqueamento de
capitais, corrupção, falência do banco e grupo BES, que terá causado a desgraça
de inúmeros clientes da instituição bancária, sem culpa formalizada em processo
penal, está fora, há largos meses. Nem sequer se antevê a hipótese de ir
dentro.
O pretexto
para a prisão de Sócrates seria haver perigo de fuga para o estrangeiro e de
poder dificultar o normal curso das investigações.
Já
quanto a Ricardo Salgado parece não haver perigo de escape para o estrangeiro,
nem o senhor DDT (“dono disto tudo”), um cativante paz de alma, se disporá a
complicar o desempenho profissional dos eventuais investigadores.
Enfim,
a Justiça portuguesa, impondo-se com recurso à dualidade de critérios e
contemplando-se no seu grande esplendor.
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