Agora, o caso
Sócrates faz espécie...
Brasilino
Godinho
Estou
à vontade para escrever sobre este caso, visto que bastantes vezes
critiquei o político José Sócrates.
A
prisão de José Sócrates ocorreu ontem cerca das 22h:30'. A
publicidade, o espectáculo folclórico que, de imediato, se lhe
seguiu e a própria detenção, suscitam muita estranheza.
Desde
logo, acontecerem nesta altura em que o governo está em transe
agónico. Também em coincidência com o congresso do Partido
Socialista.
Depois,
o facto insólito de ter a detenção, no aeroporto, sido filmada
pela SIC. Impressiona como as televisões estão bem informadas das
acções policiais envolvendo determinadas figuras públicas.
A
seguir, veio o comunicado da Procuradoria Geral da República
confirmar a prisão e citando o nome de José Sócrates, mas omitindo
os nomes de outros três detidos,*
cujas detenções não tiveram registos de reportagem por parte das
televisões.
Formulo
algumas pertinentes interrogações:
-
Porquê o nome de Sócrates foi, de chofre, mencionado e não os
nomes dos outros três detidos? Não houve qualquer explicação.
-
Porquê a televisão marcou presença na detenção de Sócrates e
não acompanhou as detenções dos outros três detidos?
-
Porquê, em início de investigação deste caso Sócrates, não
prevaleceu o segredo de justiça?
-
Porquê outros indivíduos envolvidos em processos de grandes delitos
não foram até agora presos?
-
Porquê continua a haver fugas de informação quanto a escutas e a
desenvolvimentos de alguns processos?
Porquê
ainda não vão decorridas vinte e quatros horas sobre a detenção
de José Sócrates já há jornais a publicar no Facebook detalhes do
processo de acusações que pesam sobre ele? Então o processo não
foi anunciado como estando sob segredo de Justiça?
-
Porquê tão espectacular transparência mediática com o caso de
Sócrates, enquanto em outros casos como os do BPN, BPP, BES e,
sobretudo, o da obscura compra dos dois submarinos que há anos está
encalhado, persistem bem
acauteladas as singulares opacidades?
-
Porquê o Estado, o Governo e a Justiça, num tempo de situação de
falência das contas públicas e de indecentes cortes de vencimentos
dos funcionários públicos e das pensões dos aposentados da Função
Pública, não se empenham em reaver os cinco milhões de euros das
luvas recebidas por anónima
entidade – um facto denunciado por Ricardo Salgado, ex-presidente
do Banco Espírito Santo (BES)?
- Porquê este desinteresse em descobrir a identidade de
quem se apropriou de cinco milhões de euros do Erário – ou seja:
dos dinheiros dos contribuintes?
Fica-se
pensando que, nesta altura, se montou um espectacular cenário
mediático para entreter o público e desviar-lhe a atenção dos
grandes problemas que afectam a sociedade portuguesa e de outras
grandes actividades criminosas que nem minimamente são penalizadas.
Dá
a impressão que há algo escondido e que só se pretende causar
alarido em torno de José Sócrates, talvez visando objectivos de
natureza político/partidária, com especial incidência no Partido
Socialista.
Se
bem julgo - e os usos e costumes do Estado a que chegámos,
geralmente, são concordantes com as minhas previsões – estão os
portugueses perante mais alguns mistérios, dos muitos que têm
marcado o dia-a-dia da sociedade portuguesa contemporânea.
Merece
realce o facto de que começa mal o desenrolar desta narrativa –
utilizando a expressão usada
por José Sócrates nalgumas intervenções televisivas.
Porém, faça-se Justiça! Se é que ela existe e ainda
se consegue impor neste Estado português a que chegámos; o qual,
não é de Direito, como temos assinalado nas nossas crónicas dos
últimos anos.
Para
já todos, leitores descomprometidos, atentos, à uma, digamos: Aqui
há gato! Que além de estar escondido até tem o cuidado de não
mostrar o rabo... Não vá alguém pisá-lo e o Diabo tecê-las...
* Esta
manhã, doze horas após a divulgação do comunicado da Procuradoria
Geral da República, foi dada informação sobre as identidades dos
três outros detidos. Só que pecou por tardia. Diferente teria sido
o sentido informativo (e a configuração interpretativa) se tivesse
ocorrido, em simultâneo, através do comunicado de ontem.
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