Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, julho 19, 2011

Ao compasso do tempo…

A “AVENIDA”…

Prestadia… Vítima… Cobiçada…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blogspot.com

01. A “Avenida” entrou na gíria aveirense como designação abreviada da Avenida Dr. Lourenço Peixinho; a qual, durante bastantes décadas, foi a principal artéria da cidade de Aveiro.

Quando foi iniciada no dia 3 de Junho de 1918, a obra estava condicionada não só pela falta de recursos financeiros, mas pelos escassos e rudimentares meios operacionais existentes à época e, também, pelas insuficiências técnicas urbanistas então prevalecentes e pelos condicionalismos locais que, de alguma forma, delimitavam ou impediam o alcance de soluções mais qualificadas, extensas, e abrangentes, quaisquer que elas fossem perspectivadas para o futuro; este, encarado numa visão de evolução do desenvolvimento da urbe. Assim, a modos, do singular procedimento tido pelo Marquês de Pombal, arquitecto Eugénio dos Santos e engenheiro Manuel da Maia, relativamente à construção do Passeio Público que precedeu a actual Avenida da Liberdade, em Lisboa.

Apesar de todos os aspectos depreciativos com que actualmente se encara a sua situação, a “Avenida” ainda conserva funcionalidade, interesse turístico e a imagem de marca da cidade a nível nacional.

02. Pela minha parte, desde que a conheci no ano 1963 (altura em que fixei residência em Aveiro), que lhe devoto afeição e me despertou, por vezes, atenção particular; nomeadamente quando, nos meados da década de noventa, escrevi uma crónica em que sugeria o prolongamento da “Avenida” para além da estação ferroviária – sugestão que, ao tempo, se bem estive atento, só suscitou uma reacção negativa de alguém que, não se apercebendo da implícita hipótese de túnel, enviou carta ao director do “Diário de Aveiro” manifestando a sua indignação e dizendo que o cronista pretendia arrastar a demolição da estação da CP. Uns cinco ou seis anos depois era iniciada a construção do túnel. É uma obra importante.

03. A meu ver, o túnel não deveria ser aproveitado para entrada e (ou) saída de um qualquer parque de estacionamento. Antes, poderia ser uma ligação rodoviária entre a “Avenida” e o amplo espaço além da via férrea onde se radicaria uma natural área de expansão da cidade – a nova zona nobre da urbe aveirense que englobaria a Praça do Município e, nela construído, o imóvel que falta – os novos Paços do Concelho. Nada mais, nem menos, que o emblemático equipamento público, por excelência, que muito nobilitaria Aveiro.

04. Também, naquela época, escrevi que era do maior interesse construir uma variante da linha da CP que possibilitasse a remoção do troço que atravessa a cidade. E neste ponto, há que registar que a linha do TGV vai contemplar tal hipótese. E vem a talho de foice, com a maior pertinência, perguntar por que não construir uma variante à actual linha do Norte que, no atravessamento do território concelhio, acompanhasse em paralelo, o traçado da dita linha do TGV? Com este posicionamento tal variante comportaria um encargo financeiro algo acessível ao Erário e ao orçamento da CP. Causa-me uma certa perplexidade que as entidades oficiais do concelho e as forças mais representativas da sociedade aveirense, ainda não tenham acolhido essa possibilidade.

05. Claro que antecipo a rejeição do meu ponto de vista, uma vez que percebo que na fase actual de envolvimento da autarquia no processo dito de requalificação da “Avenida”, não haverá vontade para aceitar esta sugestão. Mas deixo o registo para a posterioridade. E, face à hipotética recusa, lamento!

Em primeiro lugar, porque qualquer das duas precedentes sugestões, se aceites, dariam azo a que não só a “Avenida” beneficiaria com o enquadramento zonal mas, outrossim, a cidade ficaria enriquecida com uma qualificada e excelente centralidade, desde que a sua planificação fosse de superior qualidade urbanística e deveras funcional. Depois, porque se houver precipitação de julgamento na apreciação da problemática em causa e não forem acautelados os superiores interesses da cidade e dos seus residentes, surgirão desagradáveis consequências num futuro, que - inequivocamente, se entenda - haverá sempre que projectar no devir acumulado das gerações que nos hão-de suceder. Assim acontecendo a rejeição do ora proposto, ter-se-ão desperdiçado oportunidades de adopção de instrumentos e de aquisição de equipamentos, uns e outros, susceptíveis de assegurar melhor qualidade de vida às populações e de muitíssimo valorizar a cidade. O que é uma tremenda responsabilidade de quantos são, na hora que passa, os detentores do Poder.

06. Vejo com a maior apreensão a ideia do parqueamento subterrâneo na “Avenida” ou na área alem da via-férrea. Existem na “Avenida” e espaços adjacentes, vários parques silos de estacionamento e outros poderão ser instalados em novas construções. Além de que os parques subterrâneos implicam grandes custos de construção e manutenção. Alguém já apurou a rentabilidade do parque subterrâneo da Praça Marquês de Pombal? O avultado encargo financeiro da construção já foi ressarcido? Qual a estatística da utilização que lhe é dada pelos automobilistas?

Se é preocupação das entidades envolvidas no famigerado processo, o “enobrecimento sério” que “conferisse modernidade” à “Avenida”, será que um parque de estacionamento subterrâneo lhe irá “devolver dignidade”?

07. Se já anotámos que a “Avenida” continua a ser prestimosa, há que referir que, ao correr do tempo, foi vítima de algumas agressões. Não vamos enumerá-las. Porém, importa dar menção de que as maiores terão sido perpetradas no seu edificado. Aliás, desastradamente e, também, por acinte, atentados decorrentes da peregrina ideia de que todos os edifícios antigos devem manter a traça das suas fachadas e ser inamovíveis, contrariando, até, as leis da natureza. E deste modo, esquecendo um princípio basilar: de que uma fachada de um edifício é a decorrência normal, geométrica, funcional e estética das soluções das respectivas plantas. E por manifesta ignorância ou não se haver respeitado este princípio básico, deparamos com a aberração da existência na “Avenida” e suas adjacências, de edifícios que designamos por os postiços (por exemplo: a sede da agência do Banif, com aquela fachada de traça da primitiva construção e sobre ela a sobrepor-se, num plano um pouco mais recuado, uma incrível e inestética “gaiola” que está ali “metida a martelo” ou aquele edifício incaracterístico ao qual foi encaixado um fingido frontispício de uma banalíssima e folclórica composição geométrica, como se tratasse de uma relíquia arquitectónica; o qual, está situado no gaveto da “Avenida” com o pequeno troço de extensão da Rua Eng.º Oudinot a ligar à rotunda).

Depois, a existência de edifícios degradados que se mantêm indefinidamente devolutos e abandonados, porque sendo antigos os respectivos proprietários estão impedidos de os substituírem por novas construções com gabaritos iguais aos que lhes são contíguos, constitui uma agressão extremamente grave à estética, à panorâmica, à segurança e ao ambiente urbano. Igualmente, uma abusiva, injusta, e absurda imposição que gratuitamente lesa os legítimos direitos dos respectivos proprietários.

08. Mas, também, encaro frontalmente algo que se pode conjecturar dos enunciados que têm vindo a público sobre a “Avenida”.

Parece-me intrigante que - em curto prazo e postos em movimentos uniformemente acelerados, que irromperam com inusitadas velocidades iniciais - tenham despertado, avassaladores, tão grandes empenhos pela chamada “requalificação da Avenida”, pela travessia do Albói e pela fantástica ponte pedonal do Rossio. Antevê-se que tantas e dispendiosas obras de ordenamento urbano possam representar um dispêndio de milhões de euros. Então, é concebível que perante o actual quadro - de avultado endividamento da câmara aveirense; de ocorrência de um tempo de profunda crise em que se recomenda contenção nas despesas, cortes salariais e drásticas reduções nas dotações financeiras advindas do Estado para as autarquias; e, sobretudo, com o país à beira da banca rota - a Câmara Municipal de Aveiro estabeleça um programa que contempla o início das obras da “Avenida”, sob projecto concebido e elaborado à pressa, já no próximo ano? Francamente, interrogo-me se neste território municipal não haverão outras prioridades. Porventura, demasiado gritantes? Como é possível vaticinar a revitalização do comércio na “Avenida” por obra e graça das referidas obras? Onde os comerciantes vão buscar o capital para os investimentos? O Fórum, ali postado à ilharga, não é um agradável espaço pedonal? Um pólo comercial de enorme relevância? Por favor, digam-me, se não representar grande incómodo e desassossego nas aquietadas, quiçá sonolentas, consciências ora solicitadas a pronunciarem-se, em que extraordinários recantos citadino ou nacional se vão encontrar os agentes com capacidade, sobretudo, financeira para arriscar investimentos, precisamente numa época de tantas carências e incertezas, em que sobreleva tudo aquilo que de nefasto e arrasador se vislumbra no imediato e curto período contado entre dois a seis anos?

09. As aparências que sobressaem no plano cívico e no tecido social, considerados os dados e parâmetros expostos ao público, insinuam que a “Avenida” é, afinal, mui cobiçada como meio interventivo e forma ostensiva de os mentores e operadores do projecto, se tentarem pela ideia de se reverem numa obra que os projecte para a posteridade. Se houver a disforme conformação e a desagradável confirmação, estaremos perante um quadro deplorável de abstracção dos interesses e direitos de cidadania da grei aveirense.