Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

sábado, julho 17, 2010

Ao compasso do tempo…

ISALTINO – *´ISALTINADO´, MAS CONTENTE…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana.blog.spot.com

Isaltino Morais é um cidadão a quem na pia baptismal da igreja matriz da sua terra natal, sita algures em Trás-os-Montes, lhe terão posto o apelido Morais. Tratou-se de um acto premonitório daquilo que viria a ser uma característica peculiar da actual dominante, soberba, estirpe política; a qual, também é apanágio das nossas glórias nacionais contemporâneas… Ou seja: a Moral bem expressa num plural multifacetado… O que corresponde à condição de pessoa que não se limita a ter uma moral de matriz cristã, mas sim que pratica variegadas morais com específicas virtudes; todas elas de muitos agradáveis efeitos e de grandes proventos materiais e espirituais… Estes são factores importantes a ter presente na bondade exigível à apreciação dos inolvidáveis comportamentos das ilustres personagens de tristes novelas e dos actores-cantores de operetas de baixo nível cultural. Mais se deve ter na devida conta a incansável persistência e a invulgar audácia com que muitas vezes as esplêndidas morais são aplicadas, como parece ser verificável no caso ´isaltinado´ em apreço.

O magnífico ´isaltinado´ cidadão de origem humilde tornou-se, na fase adulta da sua existência, rico e poderoso. É um homem anafado, com o olhar incisivo, sombrio, impenetrável e assustador, a lembrar a inquietante carranca de “padrinho” da camorra napolitana. Faz-se passear nas avenidas novas, lá do burgo, em automóvel de elevada cilindrada, conduzido por motorista privativo. Veste elegantemente. Usa pêra e bigode grisalhos sempre bem delineados geometricamente em cercadura ovalizada. Representa-se com requinte e sabedoria (que suspeitosas almas classificam de maquiavélica) nos gabinetes e corredores dos Paços do Concelho de Oeiras e frequenta selectos locais de convívio, localizados na zona oriental da pinturesca região saloia de Lisboa. Outrossim se dá excelentemente com bons cidadãos de grandes figurações - guarnecidas de vistosos adornos - e melhores actividades logísticas.

O grande chefe de ´isaltinada´ indisposição e franqueada inocência, que é suposto ser delícia de pudicas virgens oeirenses, normalmente faz-se acompanhar de charuto enfiado no centro da sua boca, à vertical da ponta bicuda do nariz, segundo um plano axial certamente desenhado a compasso e esquadro, que se mantém inalterável em obediência a uma lógica de ritual - o qual se prefigura rigoroso e sujeito a regras muito precisas. Aliás, dir-se-ia que o ritual se complementa e sublima com o expressivo recurso aos dois dedos da mão esquerda; os quais, como se fossem tenazes, estrategicamente alinhados em V, apertam pelas extremidades, em contacto com a pêra, o bigode e os lábios carnudos furta-cores, o charuto. Este gracioso pormenor do gesto de colocação dos dedos sobre o charuto, a que recorre frequentemente, tem significados mui relevantes. Desde logo, evoca a emissão de sinais de fumo dos índios norte-americanos, mas que no caso em apreço, entre outros tipos de códigos, indicia que a criatura ´isaltinada´ está a transmitir, para os seus amigos, a mensagem cifrada anunciadora de vitória sobre a justiça que a tem trazido debaixo de olho.

E por falar em olho e atendendo ao facto deste seu órgão visual ser muito vivo, estava faltando a referência ao uso que Isaltino faz dos óculos, provavelmente municiados com potentíssimas lentes de longo alcance, que lhe darão a possibilidade de, em combates singulares, se esquivar a tempo das arremetidas dos agentes de autoridade, que porfiam em o meter entre grades. É que estando acusado de uma “grave conduta”, de ser autor de mais umas tantas desinteressantes falcatruas e, ainda, se dermos crédito às más-línguas, de ter cometido abuso de confiança do irmão ao introduzir, pela “porta do cavalo”, na conta dele, aberta em banco suíço, grossas maquias de material sonante e tendo sido julgado e condenado, agora os zelosos justiceiros consideram que “o arguido só não continuará a fazer o mesmo se não puder” - como relatava o semanário SOL, na edição do p.p. dia 16 de Julho.

Todavia, nesta embrulhada dos julgamentos, prescrições, adiamentos, anulações, reduções de penas e condenações de última hora, do cidadão Isaltino há um pequeno problema que se traduz numa charada de todo o tamanho: é que o autarca de tão transparentes morais (que deslumbram tantos incautos), espertalhaço, voluntarioso, genuíno exemplar da classe política que desgoverna a nação portuguesa, como se não bastasse proclamar a sua inocência a todos os instantes para tentar convencer a estúpida malta, ainda por cima e à força de tanta insistência já se auto-convenceu que está definitivamente inocente. Uma dupla desgraça! São dois azares, convergentes entre si, que nos deixam baralhados…

Claro que o famoso Isaltino possuído de uma inteligência brilhante, dispondo de grande desenvoltura anímica e evidenciando uma impressionante mobilidade e extraordinária ligeireza de cintura, vai poder (sim, senhor!) e continuar a fazer o mesmo, aproveitando a sugestiva dica da entidade judicial, acima transcrita. Até porque não seria de bom-tom que ele não correspondesse ao judicioso vaticínio e assim - numa descabida atitude de renúncia - causar o descrédito do sistema... Aliás, com oportunidade e sentido das conveniências recomendáveis, a justiça já lhe deu uma mãozinha, concedendo-lhe uma graça providencial: deixa-o conservar o exercício do mandato de autarca - o que poderá ser um apropriado, útil e interessante meio caminho andado… para a prevista continuidade do “mesmo”. De aplaudir!...

Por tudo isto, que aqui fica exposto ou subentendido, podemos acreditar nos emblemáticos atributos da ´isaltinada´ figura. Esta, agora, tem condições para afastar da mente a horripilante visão do luxuoso e confortável aposento da penitenciária que gente prestável, generosa e sobretudo previdente, já lhe estaria reservando… E, ainda, benesse suprema, poderá dormir descansada, feliz, contente, sobre o nobre leito assente na alcatifa do imponente salão presidencial da Câmara Municipal de Oeiras…

E o que se passará com a justiça portuguesa? Obviamente, exausta e incompreendida, em tempo de veraneio, vai de férias…

* isaltinado (adjectivo) incomodado, agastado, aborrecido, irritado, enfurecido, zangado.