Um texto sem tabus…
A PALAVRA DEMAGOGIA
E A CONFUSÃO DEMAGÓGICA…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
No tempo corrente em que a sociedade portuguesa está profundamente doente, defrontando-se com várias mazelas e bastantes desgraças, de forma assustadora, ela se mostra deprimida, inconformada.
Mais deplorável o estado de abulia, que releva de profunda insensatez. Sobremodo de desapego cívico. Acima de tudo de fragilidade cultural decorrente dos vários analfabetismos crónicos existentes na nação portuguesa.
Assim estão reunidas as indesejáveis condições para as pessoas serem sujeitas a todas as espécies de manipulações que, fatalmente, descambam em submissões dos indígenas e abusos dos diferentes poderes que dominam a sociedade.
Mercê deste estado de coisas Portugal transformou-se num paraíso para: maus governantes, medíocres políticos, imprestáveis deputados, numerosos oportunistas, desavergonhados vendedores de banha da cobra, habilidosos traficantes e mui precavidos e eficientes corruptos. O que a todos facilita as esplêndidas, regaladas, vidas.
Por haver no espaço que nos cerca e asfixia uma atmosfera favorável ao statu quo e nele estar instalado um complexo dispositivo apropriadamente guarnecido de redes compostas de ilustres corporações, de respeitáveis associações e de distintas, abençoadas, protecções - sempre que acontece vir alguém a público denunciar a situação levanta-se um coro de protestos, de insinuações e diatribes, procurando minimizar os estragos na área afectada e desacreditar ou mesmo silenciar os críticos e os acusadores.
Quando isso sucede as falsas virgens, mui pudicas e sensíveis; os atrevidos e desonestos prevaricadores e os seus homens de mão ou testas de ferro, por demais sobressaltados, apreensivos e desastrados; vêm pressurosos a terreiro lançar, urbi et orbi, com acinte pejorativo, o parvóide comentário, estafado lugar-comum da sua especial predilecção: “é uma atitude demagógica”.
Ora importa notar esta realidade: as palavras demagogia e demagogo estão completamente deslocadas quando inseridas num contexto de pretensa refutação de evidências por todos verificadas. Quem a elas recorre no quadro descrito revela confrangedora falta de argumentos na defesa “da dama”. Se é que não se trata de demonstração de condenável hipocrisia e de apurado cinismo. Quiçá manifestação de fraqueza mental.
Ainda recentemente registou-se um acontecimento que bem ilustra o acerto das precedentes considerações.
O novo bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, numa entrevista à RTP prestou declarações bastante significativas sobre o funcionamento da Justiça e sobre a corrupção que grassa no País. De repente, levantou-se uma enorme celeuma. O declarante foi atacado, censurado e… acusado de estar a ser demagogo.
O termo “demagogo” significa indivíduo que afecta defender os interesses do povo a fim de o dominar; o que professa teorias violentas para lisonjear ou excitar as ruins paixões populares. Demagogia – Excessos da democracia; diz-se de processos condenáveis empregados para captar o favor popular.
Daqui se infere que um cidadão quando se pronuncia em tom crítico através da fala ou da escrita sobre a má governação e relativamente a situações e factos lesivos do interesse público e violadores de regras e princípios fundamentais da sociedade, está a exercer um direito constitucional e a cumprir um dever de cidadania. De todo afastada a hipótese de pretender intrujar as pessoas; menos ainda que tenha o intuito de “captar o favor popular” com vista a atingir qualquer patamar de interesses pessoais.
Se muita gente sem escrúpulos com tanta ligeireza e voluntarismo chama à colação a demagogia nós teremos a obrigação ética de proceder a uma pertinente avaliação. Qual será a de a propaganda eleitoral corresponder a condenável processo empregado pelos actores da política à portuguesa para captar o favor popular; este traduzido no voto de eleição de trapaceiros que se apresentam como defensores dos interesses do povo a fim de o dominar. Portanto, os demagogos são todos que iludem o povo com promessas que não cumprem. A alguns deles já se ouviu dizer que “um político não deve dizer a verdade”. Observamos: a arrogância, a parvoíce, o sentido da impunidade e a desonestidade intelectual já atingiram estes elevados graus…
Atente-se que, pelo contrário, os cidadãos responsáveis que vêm à praça pública criticarem e apontarem a podridão existente nunca, por nunca ser, podem ser classificados de demagogos.
Todos teremos de inculcar nas nossas mentes a verdade exposta. E desmascararmos os “artistas” do circo político e os imbecis que se apresentam a querer “virar o bico ao prego”. Que haja o bom senso para distinguir o trigo do joio. Após o que aos impostores, oportunistas e sevandijas, lhes devemos consagrar a nossa repulsa e os correlativos desapoio e resistência às suas investidas.
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