EXIGE-SE MENOS HIPOCRISIA
E MAIS RESPEITO PELO CIDADÃO…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
01 - Está quase a virar-se a última folha do calendário referente ao ano de 2007.
Já lá vai o NATAL. Desta vez arrastando o “PAI” muito maltratado pelos poderes públicos que, velhacos, insensíveis e mal-humorados, lhe saltaram ao caminho. Molestaram-no e desrespeitaram-no. Vergado ao peso do infortúnio, o velho PAI NATAL apresentou-se frio, distante, triste, com o saco quase vazio…
Agora, à porta de entrada, o primeiro dia de Janeiro do novo ano de 2008.
Mais uma vez tivemos que aguentar com as piedosas mensagens de Natal do Cardeal Patriarca, do chefe do Governo e do dirigente máximo do PSD.
Enquanto do primeiro, D. José Policarpo, se considerará que faz parte do exercício da profissão de Pastor dirigir uma prédica às suas ovelhas; do primeiro-ministro, José Sócrates, só é possível admitir a sua intervenção televisiva no âmbito de uma “conversa em família”, com direito e aproveitamento de antena, especialmente dirigida às hostes socialistas que a apreciarão e nela se vão rever durante várias semanas. O mesmo se dirá de Luís Filipe Menezes relativamente aos seus correligionários.
Palavras ocas… Palavras sem viço… Palavras rançosas… Elas não deixam útil rasto… Ninguém delas vai conservar retenção ou arquivo…
Fácil se depreende que tais intervenções, pomposamente designadas como “mensagens de Natal” dirigidas aos portugueses, são chatas, insípidas, sem nexo com a realidade, não trazem nada de novo e galvanizador dos inúmeros portugueses que não se encontram abancados à mesa do Orçamento, nem se contam incluídos no selecto grupo daqueles outros insaciáveis adoradores do bezerro de ouro. Acresce que, na prática, as intervenções dos ditos conversadores têm um alcance muito limitado na medida em que visam alimentar e incentivar os fervores religiosos e partidários dos ouvintes seus companheiros e seguidores do múnus espiritual e da vivência política.
De modo idêntico se podem ajuizar as cambiantes da inevitável “mensagem aos portugueses e portuguesas” que, decerto, o presidente da República se prepara para proferir aos microfones das rádios e televisões à data da passagem de ano.
02 – Se há coisas inúteis e que não merecem a atenção da maioria dos portugueses são as mensagens de Natal e Ano Novo proferidas pelas entidades mencionadas. Os cidadãos já não têm paciência para “aturar” tais tempos de antena. É que elas mais não são que repetições de lugares-comuns sem conteúdo com algum interesse prático. Quer na ordem religiosa, quer na natureza política das palestras mais que as verborreias os portugueses gostariam de, todos os dias, sentir expressas a autenticidade na prática quotidiana dos valores e princípios apregoados. Hoje não se pode admitir que se “ordene” aos cidadãos: pratiquem o que eu digo; não reparem naquilo que eu faço. O exemplo da vida diária é a grande força moral que lança em crédito todas as mensagens: que emanam dos actos e atitudes correlativas à Moral, à Ética, à Solidariedade, à Igualdade, à Liberdade e ao Bem Comum; sejam elas de género evangélico ou de teor político. Na área religiosa serão os fiéis que das vidas dos pastores extrairão conclusões e se orientarão conforme os ditames das suas consciências. No campo da política somos todos destinatários do acto político e, inevitavelmente, estamos abrangidos pela forma de estar na política dos que dela fazem profissão e exercício de poder e influência no curso do viver da sociedade que integramos e da qual não nos devemos excluir porque partes interessadas em usufruí-la nas melhores condições possíveis. Condições que, boas ou más, nos são impostas por quantos são, hipoteticamente, nossos delegados ou representantes oficiais.
Por que os portugueses sentem no corpo e na alma a rudeza da existência que lhes é forçada pela natureza da situação em que estão mergulhados a qual decorre das políticas incompetentes, ultrajantes, insensatas, prosseguidas por governos que manifestam a maior indiferença pelo Bem Comum com total repúdio pelos princípios da Solidariedade, da Igualdade e da Liberdade é um disparate, um abuso de confiança e uma ofensa, virem suas excelências à praça pública fazer pregações, elogiar-se a si mesmas, formular vaticínios que todos pressentem inconsequentes e oferecer indesejáveis promessas que, vindas das bocas dos políticos expostos na montra do nosso desvalioso mercado político, jamais serão convincentes; exactamente porque, habitualmente, nunca cumpridas.
E tendo os portugueses a dolorosa experiência dos dúbios comportamentos dos políticos e das nefastas consequências das más governações que nos levaram à actual situação de descalabro social, miséria ética e de afundamento geral do País é, por demais, evidente que não há paciência para ouvir as respeitáveis criaturas do topo da hierarquia do Estado a fazerem com a maior desfaçatez lisonjeiras auto-avaliações sobre os seus próprios desempenhos e a debitarem sentenças sobre a evolução da conjuntura em consonância com o desacerto das conjecturas e ao arrepio das previsões mais realistas ou mais aconselháveis face às incertezas do devir.
Os cidadãos estão cansados e fartos de ouvir as insuportáveis “conversas da treta” dos políticos. Todos os dias a qualquer hora e nos mais diversos sítios se nos depara um artista palrador do circo político a proferir declarações aos jornalistas que parecem não terem mais que fazer senão a tarefa de acompanhá-los nas suas passeatas e actuações artísticas.
03 - A população de Portugal ronda os dez milhões de pessoas. Destes milhões, quantos se dispõem a dar atenção a interesseiros e pouco credíveis vendedores de ilusões e malabaristas das palavras?
É nosso dever de cidadania não lhes dar importância e deixá-los a falar e a sorrir como idiotas, em pose ridícula para o “boneco” do solícito fotógrafo.
Os portugueses não alinham nestas “conversas em família” que fazem lembrar as do Prof. Doutor Marcelo Caetano e as alocuções do almirante Américo Tomás; o qual era nem mais nem menos que o “venerando chefe do Estado” dos tempos da outra senhora que se finou em 25 de Abril de 1974.
O que é bom sinal de que se apercebem que nestas ocasiões se registam as mais flagrantes, desavergonhadas e ostensivas manifestações de hipocrisia.
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