TELEVISÕES “ENCHEM CHOURIÇOS”
COM OS PALAVROSOS FUTEBOIS …
Brasilino Godinho
14/Maio/2021
Como se não bastassem ser importunas, demasiado actuantes por tudo que é sítio televisivo, espaço radiofónico e papel jornalístico, as famigeradas mesas redondas, quadradas, oblíquas e desequilibradas, em que nelas por cima, por baixo e ao viés, se discute o futebol encarado como espécie de futebolite aguda, desvairada, facciosa, plena de seu muito quê de fanatismo, violência verbal e, muitas vezes, de grande malcriação; com que os espectadores são brindados, com despudor, sobranceria grotesca a todas as horas e inverosímeis circunstâncias parvóides; veio agora revelada, com nitidez inequívoca, a abjecta e intolerável promiscuidade entre as entidades: Liga de Futebol, Televisões e quejandas outras gremiais sociedades, quais instrumentos de Comunicação Social que operam actividades em Portugal.
Disso houve ontem demonstração convincente com o mediático anúncio de que ao treinador de futebol Sérgio Conceição, ao serviço do Futebol Clube do Porto, lhe fora instaurado processo disciplinar por… (imagine-se!) ter cometido grave falta: não comparecer a palestrar na véspera do jogo a disputar 24 horas depois, em termos de antevisão do que ele seria ou não seria e do que lhe estaria associado.
Pelo visto, os treinadores são obrigados, por imposição do organismo que superintende na área do futebol profissional, a perorar nas vésperas dos jogos sobre as hipotéticas equipas, tácticas, estratégicas guerreiras e quanto ao desenrolar das contendas futebolísticas do dia seguinte. Coisa absurda, desconforme e incongruente – expressiva idiotia! Que indispõe a inteligência do vulgar cidadão.
Melhor seria, por que mais adequado, à temática dos vaticínios, que ouvissem e relatassem as previsões de talentosos bruxos de Fafe… ou transmitissem, em horário nobre, as sábias e infalíveis marcações de cartas decifradas por esbeltas feiticeiras com consultórios na Linha de Cascais…
Faço parêntesis para introduzir uma observação pessoal: se apresentadas as esbeltas feiticeiras, quais tágides de fina raça e estonteante formosura, Brasilino Godinho, rendido a tão agradável e arrebatadora visão, decerto que exclamaria: Que graciosidade! Que beleza! Que encanto! Fascinado, passaria a ser atento seguidor das emissões referentes aos desempenhos das atraentes bruxas…
Porém, dir-se-ia, por gente com alguma fantasiosa fama de perspicaz que, repentinamente, ele estaria interessado nas previsões das jornadas futebolísticas…
Em contraposição, assertiva, categórica, verdade seja dita que a pessoal repulsa da criatura brasiliana pelas conversas de chacha sobre os futebóis - elas, tão do agrado/conveniência das televisões - logo esfumar-se-ia no éter, à semelhança do fumo expelido por chaminé de fábrica que se dissipa no horizonte próximo, citadino…
Depreende-se que a disparatada imposição tenha sido acordada entre a citada agremiação futebolística e as Televisões, com vista a estas aproveitarem as patéticas, absurdas, previsões contidas nas exposições verbais dos treinadores - que agora se sabe serem obrigatórias - para “encher chouriços” nas programações televisivas.
Francamente, já não há paciência para sermos massacrados com estes desmandos futebolísticos e conivências das televisões e, também, dos jornais desportivos. Pelo que afirme-se sem papas na língua: a matéria da bola futeboleira causa insuportável enjoo a quem está desalinhado com ela.
E acrescente-se: importa-nos reiterar que os disparates e procedimentos vários, aqui enunciados, são repugnantes.
Perdida, está a paciência do espectador televisivo ou do leitor que “não vai à bola” com tais epifenómenos de crassa estupidez e deplorável irracionalidade.
Importa-nos realçar que tememos pelo desfecho do processo de incriminação do técnico portista.
Até porque além da gravidade per se da acusação, Sérgio Conceição, corre grande risco, dado que o seu caso abre notório precedente de arguição criminal em Portugal: ser-se incriminado e, eventualmente, condenado por não se dar publicamente opinião sobre matérias importantes.
Foi de modo discricionário admitido no caso de Sérgio Conceição que tudo que se relaciona com as futeboladas nacionais é importante; por de mais mantido sob vigilância e alçada da Justiça.
Pelo que formulamos votos de que o cidadão Sérgio Conceição - que não faz parte do nosso círculo de relações - agora arguido de tão gravíssimo(…) delito de falta de opinião, não seja condenado a pesada pena de prisão…
Oxalá que não lhe atribuam a obrigação de preencher, numa prisão, um dos lugares vagos que, em princípio, deveriam ser destinados a indivíduos Salgados, Rendeiros, Limas que, supostamente, eram possuídores de inaudíveis fortúnios; mas que, afinal, os mesmos pecavam por ser inautênticos…
Vade retro, Satana!
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