NESTE DIA
há 6 anos
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O MISTÉRIO DO FOTOCOPISTA PAULO PORTAS
E A NOITADA NO MINISTÉRIO DA DEFESA
A realidade que vamos expor tem a ver com o denso mistério do fotocopista Paulo Portas.
Ao tempo da saída de Paulo Portas do Ministério da Defesa Nacional alguns jornais noticiaram que o governante, na véspera do dia último de exercício das funções de ministro da Defesa Nacional, tinha passado a noite e a madrugada (entretido... será o termo apropriado?) a extrair milhares de fotocópias.
Uma actuação anómala, incompreensível e de contornos obscuros, porque não pode ser dissociada da corrupção assinalada na compra dos submarinos e de outros equipamentos militares. Anote-se que os corruptos alemães envolvidos no fraudulento negócio já foram condenados pelos tribunais germânicos, enquanto em Portugal decorrem há vários anos investigações sem fim à vista; provavelmente, programadas para se articularem com o regime das prescrições.
Ainda há poucos dias um jornalista do diário i deu informação de que, para além dos membros da família Espírito Santo, havia alguém que teria recebido milhões de luvas do negócio dos submarinos. Quem? Que diz a Justiça? Nada!
As autoridades judiciais estavam distraídas e alhearam-se da extrema gravidade delituosa que é de atribuir a tal actuação de Paulo Portas. Anote-se que nem um simples inquérito ou processo disciplinar foi realizado (a propósito: os ministros deviam estar sujeitos a processos disciplinares sempre que indiciados em ilícitos). Os jornalistas assobiaram para o lado. Os governantes e políticos de todos os partidos não lhe dispensaram a devida ponderação.
Há tempos apurou-se no Ministério da Defesa Nacional (repare-se: não é um qualquer ministério de somenos importância) que desapareceram documentos. Quais? Imagine-se: logo haviam de desaparecer os documentos relativos às compras de equipamentos militares, incluindo os famigerados submarinos.
Quer a actuação delituosa de Paulo Portas, quer o desaparecimento de documentos do ministério que chefiou, aconteceram impunemente sem ter havido séria e competente investigação sobre as duas esquisitas situações.
De registar que na semana transacta uma comissão da Assembleia da República concluiu um apelidado inquérito parlamentar que se limitou a isentar de responsabilidades os políticos que, de algum modo, lidaram com os processos de aquisição dos equipamentos militares. Aliás, uma conclusão prevista desde que devidamente compatibilizada com os expedientes de alijar responsabilidades, muito usuais na referida assembleia. Todos sabemos que os inquéritos parlamentares se traduzem em dois procedimentos: de condenar quantos investigados integrantes das minorias; de ilibar os prevaricadores pertencentes aos partidos da maioria.
Em vista disso e, a título de excepção, com um pouco de indulgência, dizemos aos deputados protagonistas dessas comédias dos inquéritos parlamentares o seguinte: contemplem-se na desfaçatez e festejem-se até à exaustão, no gozo das vossas incoerentes, ilógicas e falseadas decisões. Até a um dia... de higienização geral que tarda em chegar.
Pela nossa parte, caros e atentos leitores, deixemo-nos de tretas. Sejamos objectivos: se milhares de documentos foram no Ministério da Defesa Nacional abusivamente fotocopiados por Paulo Portas em violação de todos os preceitos regulamentares, das normas legais, de elementares regras da Ética e dos imperativos deveres concernentes à Deontologia Governativa, então por que nem admitir que nessa mesma madrugada tenham levado sumiço os tais documentos, porventura muito comprometedores? E se assim terá sido, qual o motivo por que a Paulo Portas não se atribuem todas as responsabilidades? E como não investigar com rigor o aludido procedimento de Paulo Portas? Quem de direito está à espera de quê? E porquê?
Uma última e crucial interrogação: A explicação do que se passou com a negociata dos submarinos e as contrapartidas previstas e nunca devidamente concretizadas, não terá a haver com esta história nunca bem contada das fotocópias do fotocopista Paulo Portas? Talvez que nela esteja fixada a grande matriz do escândalo que vai flutuando nas águas muito turvas e conspurcadas da política nacional.
Deixo as perguntas. Também declaro a minha convicção de que não virá a público nenhuma resposta.
Pela simples razão de Portugal ser um dos países onde:
- mais existe a corrupção;
- subjaz o compadrio e o clientelismo;
- bastante se valoriza a mediocridade e a ignorância encartada;
- muito se aplaude o oportunista e o vendedor de banha da cobra;
- está instalado o medo;
- prolifera a prática da perseguição e vingança por parte dos governantes;
- não há uma justiça que puna exemplarmente os poderosos pelos actos ilícitos;
- existe uma generalizada apatia face à gravíssima degradação sociopolítica vigente.
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