464. Apontamento
Brasilino Godinho
26/Julho/2020
A POBREZA FRANCISCANA DE LINGUAGEM
TIDA POR ALGUNS POLÍTICOS E JORNALISTAS
A Língua Portuguesa é possuidora de um enorme e
rico léxico.
Infelizmente cada vez mais ela é de uso limitado e
de confrangedora expressão: quer oral, quer escrita, por parte dos falantes
nativos de Portugal. O que é consequência do abandono e desprezo que lhe são
dedicados pelos governantes de País e da deficiente aprendizagem escolar da
Língua Portuguesa, processada desde os meados do século XX; em contraposição
com os expedientes oficiais de promoção e implementação das (impostas) aprendizagens
dos idiomas inglês e mandarim, nos três ciclos do Ensino em Portugal e que
tiveram incremente no início do século XXI.
Muito lamentável é que haja governantes e políticos
que fazem algum alarde em falar e escrever incorrectamente o português.
Fala-se mal. Escreve-se pior. As regras gramaticais
são ignoradas. O vocabulário cada vez mais reduzido no linguajar corrente,
sobretudo o das camadas jovens, recheado de frases sincopadas e de termos
ordinários, de calão e de ralé.
Algumas palavras estão perdendo toda a riqueza da
sua expressividade semântica.
Neste 464. Apontamento e concernente ao capítulo da
semântica, contemplando significação dos termos e das relações de sentido
estabelecidas entre eles, aponto quatro palavras extremamente empobrecidas e
objecto de adulterações que as desvirtuam por completo:
- 01. Democracia;
02. Política; 03. Justiça; 04. Garantia (ou Garante).
Qualquer delas, desacreditadas e correntemente
evocadas com total desvinculação significativa – e muitas vezes com acintosas
implicações de falsidade, hipocrisia e cinismo.
Também sem recorte de coerência factual ou de
correlação textual.
Sucintamente, explano:
01. Democracia
– Governo do povo, pelo povo e para o povo. Em Portugal temos uma
pseudodemocracia representativa. Os pretensos representantes do povo são
eleitos segundo um enviesado processo de eleição definido no sistema de
Partidocracia; criado e mantido para assegurar o predomínio e manutenção dos
clãs, denominados partidos políticos.
Como grupos herméticos desenvolvem no seu seio toda
uma engrenagem (“aparelho”) de domínio interno e de influência que tende a
criar focos de irregulares objectivos e a implementar subordinação total dos
seus membros ao partido, em desfavor da comunidade e dos superiores interesses
nacionais.
Dá-se a circunstância de qualquer governo
partidário que obtenha maioria absoluta de votantes numa eleição, nunca poderá
vangloriar-se de que teve o apoio da maioria dos portugueses; porquanto o
somatório dos não votantes e de quantos votaram nos outros partidos
representam, sim, a autêntica maioria dos portugueses.
Será sempre um governo que não poderá governar
atribuindo-se uma prerrogativa de mandato da esmagadora maioria dos
portugueses. Isto aqui escrito para apontar a falácia costumeira dos governos
que têm desgovernado o País, arvorando-se legitimidade que efectivamente não
possuem.
Pelo historial da PARTIDOCRACIA em Portugal todo
ele documentando quanto ela é desprovida de sentido objectivo de proveito
sociocultural e de operacionais políticas atinentes à DEMOCRACIA, se deve reconhecer
que a mesma tem sido, afinal, um sistema em que a autoridade e a falseada
política emana de directórios partidários que não se empenham em bem
contribuírem para a progressão de Portugal e elevação do nível de vida da
população portuguesa.
A PARTIDOCRACIA portuguesa é uma formulação de
rasteira política que abusivamente se representa disfarçada de Democracia – com
tal expediente obsceno traz iludida muita gente séria e honesta deste país.
02. POLÍTICA
– Verdadeiramente, em Portugal não se pratica POLÍTICA.
Neste nosso país quando se fala da POLÍTICA, ciência
ou arte de bem administrar a nação, melhor orientar o desenvolvimento do
território e criteriosamente zelar os superiores interesses de Portugal interna
e externamente, temos que escrever a palavra com maiúsculas para não se
confundir com a sua perversa deformação: designada política à portuguesa. A
qual, deverá ser inscrita com letras minúsculas.
Pelo que se tem visto e entendido os “políticos”
caseiros desconhecem tal ciência, nem se dispõem a apreender-lhe o conhecimento
e a operosidade – que, provavelmente, não lhes facilitaria a prática da
corrupção e tráfico de influências em que muitos estão envolvidos.
Acresce a circunstância de que se há coisa que os
DDT, DONOS DISTO TUDO, detestam com todas as ganas de perversidade é
seguramente a POLÍTICA.
Também, neste ponto, centrada a justificação de em
Portugal prosseguir impetuosamente a baixa política.
03. JUSTIÇA
– Aquilo que em Portugal se apresenta fantasiado de justiça é algo que nos
deixa deprimidos, ansiosos e bastante preocupados. Ninguém acredita nela. E
vegeta mal sobrevivendo na rua das nossas individuais e coletivas amarguras.
Incrível! Afrontosa da dignidade nacional! Logo ela, que dir-se-ia predestinada
a ser a Reserva Moral da Nação Portuguesa!
04. GARANTIA
(ou GARANTE) – Nunca, como nos últimos decénios as palavras garantia e garante foram tão desordenadamente proferidas e escritas pelos
políticos e jornalistas das novas vagas.
Hoje quando um político ou governante pateticamente
afirma que garante ou diz coisa em
que insinua qualquer acção futura, logo uma qualquer jovem praticante de
jornalismo ou um desenrascado aprendiz de jornalista, reporta ou escreve que
fulano, sicrano ou beltrana “garante”
que vai ser assim e assado.
Os jovens repórteres nem se interrogam: Qual
garantia? Onde e quando é apresentada? Uma “conversa fiada” é garantia de coisa
alguma?
Francamente! Que atrevimento bacoco”! Que falta de
maturidade! Que carência de espírito crítico e de discernimento! Confrange!
Quando ouço ou leio tais disparates, fico
elucidado: não há garantia nenhuma! Decerto que nada acontece; porventura
esquecido; quiçá, adiado ou o pior está para advir.
Concluindo: Democracia,
Política, Justiça, Garantia (ou Garante) quatro palavras que estão
desacreditadas em Portugal, por decorrência do péssimo uso que lhes subjaz de incorrecta,
negligente, aplicação da sua essência valorativa e ao arrepio da respectiva expressividade
semântica.
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