461. Apontamento
Brasilino Godinho
24/Julho/2020
DE UNIVERSIDADES
PARA
AGÊNCIAS DE ENSINO SUPERIOR
(Continuação da Parte I)
Parte
II
04. Ainda sem desviar atenção dos “percursos
formativos personalizados de curta duração” devo confessar meu desconforto em
ter de reconhecer que as universidades subsidiárias das JOTAS (partidárias) ao
ministrarem cursos de licenciaturas arrelvadas, socráticas e felicianas, terão
sido pioneiras na concepção, concretização dos mesmos e nas aplicações
funcionais que têm vindo a ser registadas nos últimos anos; alcançando
clamoroso(…) aproveitamento dos licenciados que o foram; beneficiando das
facilidades que agora se apresentam como prioritárias para satisfazer os
desafios do mundo global que tudo subjuga no presente estádio da sociedade.
Também nesses badalados cursos se revelou a
pertinente dependência dos docentes, pois que foram eles que “impulsionaram a
inovação e transformação nos processos de ensino e aprendizagem” que tão brilhantes terão sido; como foi
conhecido urbi et orbi.
Exemplo do alcance desse pioneirismo está bem
patente, nos 70 gabinetes ministeriais do governo português, onde se encontram
confortavelmente abrigados muitas dezenas de licenciados admitidos como
especialistas de 1.ª classe - que verdade seja escrita: especialistas de coisa
nenhuma; porquanto a especialização não se adquire com cursos de reduzida
aprendizagem e só é obtida com tarimba, associada a aprofundado e continuado
estudo. Esta verdade tem de estar presente no espírito dos altos responsáveis
do Ensino em Portugal.
05. Outro importante aspecto a
anotar é que se dantes eram procuradas as pessoas com credenciadas habilitações
para preencherem os lugares; agora cresce a moda de se procurarem ou se criarem
os lugares com requisitos instalados ad
hoc para preencherem as pessoas e as suas formações flexíveis e
pessoalíssimas.
O que aqui antecede escrito sobre
os gabinetes ministeriais ilustra bem esse modismo, que me parece, de todo,
pernicioso e até com ressaibos de imoralidade e ao arrepio de elementar ética.
06. Considerando o apontado
modelo de ensino superior europeu envolvendo ampla colaboração entre regiões,
empresas e sociedade, centrado no estudante, interrogo-me quanto à
caracterização e modalidades das colaborações dispensadas pelas regiões e
sociedade, tendo em conta que no centro dos interesses estará saliente e
prioritário o estudante? Como se fará a conjugação? E a harmónica articulação?
Sobretudo - porque é pressuposta
a permissão de os estudantes personalizarem a formação e traçar o próprio rumo
em qualquer instituição e país - deduzo que grandes responsabilidades vão
recair sobre o estudante envolvido neste moderníssimo esquema que subverte o
papel do docente. E este, por sua vez vai ter uma carga de trabalhos, dado que
passa ele a ser orientado no que toca ao acompanhamento dos interesse e rumo
prosseguido pelo discente.
07. Tremenda confusão e
abrangência de matérias e particularidades lectivas imporão aprendizagens
partilhadas de alunos e professores. O que se traduzirá numa faceta peculiar do
novo Ensino; ou seja: os professores retrocedem à condição de mestres
aprendizes, dos estudantes e de si mesmos professores.
É algo de inédito. Complicado!
08. Não creio que os estudantes
reúnam condições de variadíssima ordem para facultarem “cruzamento e partilha
de saberes”.
Fundamento a crença numa
realidade inquestionável: a maioria
dos estudantes que entram nas universidades não se apresentam possuidores de
uma mínima cultura geral e cultura portuguesa. Não são capazes de formularem um
juízo crítico e consistente, nem interpretarem correctamente aquilo que lêem.
Falta-lhes o estudo de Filosofia.
Não têm hábitos de leitura. Nem
lhes é fácil sustentar uma conversa ou discussão em termos de estrutura
gramatical, de correlação semântica e de razoável contextura temática.
Precisamente o que seria suposto
eles irem adquirir, absorver e apreender, naturalmente, ao compasso do tempo,
durante as frequências dos cursos universitários.
09. Agora pretende-se inverter os
papéis. E em vez de diplomas, distribuem-se microcredenciais de formações
flexíveis e pessoalíssimas de curta duração.
Muito receio pelo futuro das universidades de Portugal.
Também fico receoso dos nocivos efeitos do novo Ensino.
Admito que a Pátria está em perigo de soçobrar.
10. Actualmente a Nação portuguesa enfrenta três ameaças:
- desprezo da língua portuguesa e seu colapso;
- morticínio da população, pelos efeitos devastadores da
Covid-19;
- novo Ensino arrastando a
impreparação e o declínio da formação científica das novas gerações. Novas
gerações que deveriam ser bem preparadas academicamente, para Bem da Nação.
11. Parece-me exagerado o empenho em acompanhar à la page tudo o que é novidade e de
exótico vai ocorrendo na Europa.
E dos políticos e burocratas de Bruxelas, União
Europeia, nem sempre nos chegam as indicações melhores para a nossa vivência
colectiva.
Nem é desejável a cega subordinação aos interesses
dos grupos de pressão que dominam a União Europeia e a vão explorando em
proveito próprio.
12. Repito: Não desejaria ver as Universidades
Portuguesas transformadas em Agências de Ensino Superior.
Finalmente, uma última dica
brasiliana: As universidades portuguesas têm potencialidades de eficaz funcionamento
que dispensam a adopção de figurinos estrangeiros.
É minha firme determinação
valorizar tudo que é Português. E a Universidade de Portugal faz jus a ser valorizada
e enaltecida. E sob esta visão destaco as Universidades de Aveiro e do Minho,
de que fui aluno octogenário, aplicado e reverencial para com ambas, no período
de 20 de Outubro de 2008 a 05 de Julho de 2017.
Brasilino Godinho
Licenciado pela Universidade de Aveiro (14 de Dezembro
2012)
Doutorado pelas Universidades de Aveiro e do Minho
(05 de Julho 2017)
Fim
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