416. Apontamento
Brasilino Godinho
05/Maio/2020
Tema I – A MESQUINHA CELEBRAÇÃO
TEMA II - EU ANDAVA DESCONFIADO…
01. Tema I – DIA MUNDIAL DA
LÍNGUA PORTUGUESA
Hoje, 05 de Maio de 2020,
comemora-se o DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA, instituído pela UNESCO.
Uma língua falada por mais de 260
milhões de pessoas espalhadas pelos cinco continentes.
Com tão grande relevância
internacional é muito desprezada e desvalorizada a nível interno, sobretudo
pelas autoridades governamentais.
Tão desvalorizada que foi hoje,
dia da celebração, que se soube ser a data de exaltação da Língua Portuguesa a
nível mundial.
Nos últimos decénios os
governantes não só a marginalizam e apoucam, como dela fazem mau uso; quer na
linguagem falada, quer na formulação escrita.
E foi a partir de 1990, com a
promulgação do aberrante Acordo Ortográfico, que se abriu o rumo de descalabro
e ostracismo da Língua Portuguesa.
Mesmo o crédito que a língua
pátria hoje desfruta no mundo deve-se, sobretudo, a países da CPLP – COMUNIDADE
DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, com relevo para o Brasil que tem mantido alguma
regularidade e eficiência operativa na promoção do Português como idioma de abrangência global.
Conhecem-se as dificuldades que, nalguns países, mesmo
naqueles onde existem numerosos grupos da diáspora portuguesa, sentem as
entidades interessadas na criação de cursos de Português. Geralmente deparam
com o alheamento e omissão das instituições e governantes de Portugal.
Ao Instituto Camões que deveria tomar como modelos a Alliance
Française e o British Council, no domínio da difusão e sedimentação do prestígio
da Língua Portuguesa cabe, por inerência de funções, nessa específica área,
desempenhar um importantíssimo papel. Infelizmente as suas actividades são
muito limitadas, pouco actuantes, praticamente inexpressivas.
Sendo a primeira vez que se consagrou o Dia Mundial da Língua
Portuguesa, confrange e é bastante revelador da displicência do governo
nacional que a celebração tenha sido tão redutora: uma breve intervenção oral
do chefe do Governo, na RTP, para dizer que… a Língua Portuguesa é falada por
260 milhões de pessoas dispersas pelo Mundo (apurei a vista e o ouvido… parecia
que estava vendo e ouvindo o Senhor De La Palisse). Na mesma emissão televisiva
o presidente do Instituto Camões também teceu algumas considerações de
generalista configuração retórica.
Muito lamento que as universidades portuguesas se tenham
alheado da singular ocorrência de exaltação da língua pátria.
Em contraposição, Inglês e Mandarim são objecto de deferência
e atencioso acolhimento nas nossas escolas e universidades e as suas
aprendizagens estimuladas com empenho e determinação pelas autoridades
educativas.
Desejaria que idênticos procedimentos fossem tidos relativamente ao ensino e uso corrente do Português; o qual, actualmente, é
encarado como o “patinho feio” das nossas instituições escolares, nos órgãos de
Comunicação Social e, desde há anos, pelo menos, na Faculdade de Economia, da
Universidade de Lisboa; também desprezado nalgumas escolas secundárias do país.
Muitas e diversificadas são as razões que deveriam impor a
festiva comemoração do DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA, precisamente, na
imperiosa proporcionalidade do elevado mérito que lhe subjaz.
02. Tema II – EU ANDAVA DESCONFIADO…
Há bastantes anos que ando desconfiado (entenda-se como
figura de estilo) de que os políticos, tendencialmente seleccionados para jogarem
forte e feio no tabuleiro do oportunismo político/administrativo, são cultores
de uma esquisita, antipática e intolerável relação antipatriótica com a minha
querida Pátria (para os indígenas; Mátria para as indígenas) que é a Língua
Portuguesa. E dela fazem obsceno alarde, demasiado exposto ao público.
Indício gritante dessa manifesta aversão - que dir-se-ia lhes
ser congénita - é a forma indecente como toda aquela gente vem defendendo e
usando a coisa abominável conhecida como Acordo Ortográfico de1990; a que
associam a não menos indecorosa prática de mal falarem e pior escreverem o
Português.
Nos últimos decénios, acentuou-se o abandalhamento geral do
Português: inúmeras pessoas e jovens não o lêem, não o compreendem no sentido
semântico, nem bem o interpretam nos contextos das falas e dos escritos, se o
escrevem cometem erros de palmatória, falam-no mal e porcamente, desvalorizam-no,
ignoram a gramática.
Isto acontece mesmo no seio das universidades. Incrível a
impreparação na língua nacional dos jovens que acedem ao Ensino Superior. É uma
desgraça linguística que compromete o futuro de Portugal como nação
independente, soberana de si mesma.
Pois agora devo dizer que é altura de afirmar que a classe
política que dispõe de poder executivo mantém escabrosa e desprezível relação inamistosa
com a pátria língua e dela faz deplorável mantença.
Nas últimas semanas, os ministros da Educação, da Saúde e de
Estado e Negócios Estrangeiros, deram ideia de disputarem campeonato de
disparates ofensivos da dignidade da Língua Portuguesa.
Por exemplo: O JN de hoje insere uma entrevista com o
ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. Em dado passo, sua excelência
disse que, no que concerne ao relacionamento entre o Chefe do Governo e o
Presidente da República, “as coisas correram optimamente bem”.
Parafraseando o
governante, eu comento: que sua excelência assim se expressando, resulta que ao
senhor ministro as coisas ditas, “optimamente bem”, afinal, lhe correm pessimamente mal.
Dada a abrangência
da iliteracia, com foco na Língua Portuguesa, deveria ser obrigatório que os actuais
governantes voltassem à escola secundária para reciclarem o Português e só
retornarem aos exercícios dos cargos, munidos dos respectivos certificados de
habilitação.
Pois que é uma vergonha, uma aberração cívica, um clamoroso
descrédito para a função governativa do sector educativo e uma altissonante
falha de autoridade funcional, que ministros da Educação e do Ensino mal falem,
pior escrevam o Português e muito maltratem a Dona Gramática; uma respeitável
Senhora que deve ser tratada com grande respeito e a maior veneração.
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