RECORDANDO
texto de há dois anos
19 de Março de 2018
Brasilino Godinho
UM FACTO INSÓLITO COM SEU QUÊ
DE PREMONITÓRIO
Quando naquela longínqua data de Junho de 1947, em
tempo de adolescência, forçado por colegas a envergar o traje académico e posto
em pose para fotografia junto à Charolinha, sita na Mata dos Sete Montes, cerca
do Convento de Cristo, em Tomar, jurei face ao altar algo altaneiro da minha
consciência de ser pensante, de que um dia haveria de usar de direito o adereço
universitário. Então, tive uma atitude algo temerária. E assumi avassaladora
responsabilidade perante mim próprio.
É que naquele momento determinante e histórico da
minha vida pessoal não fazia a mínima ideia como iria concretizar tal desígnio.
O futuro era uma incógnita. Os recursos financeiros inexistentes. E as
contingências da vivência ao compasso do tempo são indetermináveis e reservam,
muitas vezes, grandes surpresas que tendem a frustrar as melhores e mais
arreigadas intenções.
De facto, o decurso do tempo foi suscitando a
comprovação das dificuldades da tarefa que me propusera e a imensidade do
compromisso voluntariamente assumido em sede do meu imo.
No momento em que alinho as presentes considerações
posso expressar que tendo tido um percurso existencial multifacetado de várias
facetas profissionais e intelectuais hei sempre tomado as decisões e opções
correctas e adequadas para, num porvir incerto, alcançar a formação
universitária. A par disso também admito que elas e as circunstâncias que soube
aproveitar, também traduziram alguma influência do factor sorte; tais como as
andanças profissionais, o encontro de personalidades de alto valor
profissional, a ida para Ponta Delgada, Açores, em Maio de 1954, onde conheci a
adorável mulher da minha vida, a vinda para Aveiro em Fevereiro de 1963, a
criação da universidade aveirense. Enfim, bastantes acasos da existência
quotidiana de todo imprevisíveis mas que foram moldando um rumo, não obstante
muito preenchido de obstáculos que eram outros tantos bloqueios de aceder à
instituição universitária. Em muitas ocasiões, forçando opções prioritárias de
interesses pessoal e familiares - tais como a criação de família, as formaturas
em engenharia civil dos dois filhos - que, de todo, inviabilizavam o início da
minha carreira académica.
Início que teve lugar na Universidade de Aveiro, em
20 de Outubro de 2008, precisamente, cinco dias antes de perfazer 77 anos de
idade.
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