381. Apontamento
Brasilino Godinho
20/Março/2020
EM CONCORDÂNCIA COM
O DOUTOR JOSÉ M. POÇAS
01. Desde que em Dezembro de 2019
se tornou conhecido o surto do coronavírus na China foi alastrando em Portugal
uma onda de escritos e declarações em que predominou: quer a insensatez de não
lhe conferir perigosidade de maior relevância que uma vulgar estirpe de gripe;
quer mesmo apontando para a hipótese de a epidemia não chegar ao nosso país.
Para além disto traduzir uma inqualificável atitude de gente altamente
responsável da governação, assistiu-se a uma avalanche de opiniões e
comentários, que se devem classificar como grosseiras enormidades aberrantes e
inadmissíveis numa comunidade civilizada.
02. Não sou médico. Mas tenho
olhos para ver. Possuo faculdades de alma que me permitem discernir sobre
acontecimentos e causas. Prezo a verdade. Cultivo valores identitários que se
associam vigorosamente em termos expressivos de carácter, isenção, crítica
objectiva, frontalidade apontada ao Bem Comum e de intransigente respeito pela
pessoa que sou – o que, implicitamente, se afirma como concludente demonstração
do respeito que consagro ao próximo.
03. Dai que, com vida octogenária
multifacetada, bastante activa e interveniente na esfera pública, eu possa aqui
e agora declarar, de cabeça levantada, que não há, em parte alguma, registo ou
arquivo de: nalguma fala, numa crónica e num qualquer dos meus recentes
APONTAMENTOS, ter usado obscenidades e expressões injuriosas para com entidades
várias, amigos da onça, inimigos (felizmente que tenho tido uns poucos); não
obstante o rigor e, por vezes, alguma veemência com que exerço o meu direito de
criticar o que me parece que está mal ou desordenado no mundo em que estou
integrado.
04. Isto escrito, como preâmbulo
do que vou expor em letra de forma.
05. Mencionei no antecedente n.º1
as reacções perversas que se sucederam ao surgimento da Covid-19, em Dezembro
de 2019, na China.
Logo de imediato, escrevi nos meus
APONTAMENTOS a chamar a atenção dos meus leitores e das autoridades sanitárias
do nosso país para a perigosidade da epidemia e não me conformando com a apatia
e negligência que começavam a esboçar-se por parte das titulares dos cargos do Ministério
da Saúde e da Direcção Geral de Saúde, quanto à apreciação e forma de contrapor
à ameaça que permanecia latente; sublinhando a falta de meios e de preparação no
Serviço Nacional de Saúde, para a luta que se antevia surgir a breve prazo.
06. Nalguns desses meus escritos,
dei livre curso à ironia e a metáforas. Quem me conhece, principalmente os
leitores, sabem de antemão que tenho o inveterado hábito de mesmo contemplando temas
sérios e importante lhes introduzir as metáforas e a ironia mais ou menos explícita,
quando não simplesmente implícita, para ser lida nas entrelinhas.
07. À medida do compasso do tempo
fui escrevendo APONTAMENTOS em que, objectivamente e sem reticências e
ambiguidades, são criticadas as orientações das duas senhoras que são
detentoras das maiores responsabilidades pela extrema gravidade da enorme tragédia
com que hoje a nação portuguesa se confronta no dia-a-dia – a mortandade
causada pela Covid-19.
Manifestamente, a política
desordenada que tem sido aplicada releva de falta de inspiração, de programação
atempada, de acerto nas decisões.
08. Tentar dourar a amarga pílula
como fazem certos indivíduos conectados ao poder político é, indubitavelmente,
demonstração de desonestidade intelectual que, face à desgraça em curso, tem de
ser prontamente condenada pela opinião pública e pelas famílias atingidas pela
fatídica enfermidade.
09. Não me alongo mais para além
do que tenho escrito sobre esta muito nefasta matéria.
Até pela razão de que ultimamente
têm vindo publicadas declarações de médicos cujos teores, na generalidade,
correspondem às observações, críticas e juízos condenatórios feitos pelo não médico
Brasilino Godinho.
10. Confirmando o que precede no 09
transcrevo a seguir dois trechos da Carta Aberta, de 17 de Março de 2020, dirigida
à ministra da Saúde, pelo distinto médico Doutor José M. D. Poças:
“Não é possível esquecer que a China perdeu à volta de um mês para
fazer o reconhecimento oficial de que uma nova infeção tinha começado a
emergir, tal como em Portugal se levou um idêntico período de tempo a tomar as
medidas realmente necessárias, desde que a doença começou a fustigar a Itália.
Como é usual dizer-se: a história repete-se. Até quando? E com que
consequência, afinal?"
“Pergunto o
que terá levado as autoridades portuguesas a agirem como se pensassem que o que
surgiu na China e que atingiu a Itália poderia ser, aqui, muito diferente.
O que a
sociedade e os países necessitariam, em momentos tão particulares como este, é
de estadistas de gabarito e estatura.”
Doutor José
M. D. Poças
Médico
especialista em Medicina Interna, Doenças Infecciosas e Medicina de Viajante;
Director do Serviço de Infecciologia, presidente da Comissão Institucional para
a Infecção por Covid-19 do Centro Hospitalar de Setúbal e ex-membro da mesma
Comissão da Ordem dos Médicos.
11. Pela razão de que é um documento muito elucidativo
da forma desastrada como tem sido conduzida a guerra contra o coronavírus,
transcrevemos um documento que é o seu espelho:
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