364. Apontamento
Brasilino Godinho
19/Fevereiro/ 2020
A DEFESA – A DESCOBERTA – A JUSTIFICAÇÃO
É sabido que as dificuldades, geralmente, suscitam nas pessoas inteligentes reacções extraordinárias em que aguçam o engenho, a arte e o sentido criativo altamente exponencial.
Por isso não fiquei espantado quando me confrontei na Internet com o relato a que aludo neste 364. Apontamento.
Terá sido o caso, que se intui, de ao Secretário de Estado das Comunicações ter chegado informação de que os pássaros tinham sido insultados (neste tempo em que estão na moda os insultos e agressões verbais) com a classificação de estúpidos. Apesar desta insólita agressão verbal às aves não ter chegado ao domínio público - segundo creio – o mencionado governante entendeu que, no exercício das suas elevadas funções, devia assumir a defesa do bom nome e dignidade dos pássaros, especialmente os que esvoaçam pelos ares do Montijo, Lisboa e arredores da grande capital lisboeta. Aves que, certamente, se mostrarão agradecidas, como lhes compete e é de bom-tom civilizacional...
Não esqueça o leitor que estou escrevendo sobre seres que “não são estúpidos” – sublinho!
Fica apercebido que o governante se empenhou afincadamente nessa nobre e altruísta tarefa a tal ponto de dedicação que lhe proporcionou ensejo para fazer uma extraordinária e sensacional descoberta: os pássaros não são estúpidos; se é que alguma vez o pareceram; mas que agora terão sido indecente e aleivosamente caluniados - talvez por profissionais das agressões verbais que são o pão nosso dos desafios futebolísticos.
De assinalar que com uma cajadada o governante matou três coelhos: defendeu as aves; fez a descoberta assertiva de que elas não são estúpidas; e, suprema glória, arranjou irrevogável justificação para a construção do aeroporto do Montijo…
Considerando que as aves, sendo comprovadamente inteligentes, irão entreter-se a jogar às escondidas com os avões ou a fintá-los como faz o Ronaldo (famoso jogador de futebol). Quiçá até a fazer-lhes faenas, imitando grandes toureiros como Manolete, Arruza e Manuel dos Santos.
Ficamos elucidados: perspectivam-se grandes espectáculos para gáudio de quantos passageiros transitarem pela gare do famigerado aeroporto.
Recomenda-se que quando houver imitação do toureio se faça ouvir um paso doble; pois que, provavelmente, os pássaros bem deveriam apreciar evoluir artisticamente ao som dos compassos da música espanhola…
O que na gare do aeroporto e enquanto aguardavam embarque, poderia ser secundado com pares que dançavam embalados ao som da música de tangos como o belo La Comparsita.
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