A MINHA
CELEBRAÇÃO DE NATAL
IR AO ENCONTRO
DE EU MESMO
Brasilino
Godinho
10/Janeiro/2020
TOMO XI
COM EMOÇÃO E
DELEITE
PERCORRENDO OS
ESCANINHOS DA IDADE ADULTA
Regressado de Ponta Delgado e após
o gozo das férias apresentei-me ainda no ano de 1956 na Direcção de Urbanização
do Distrito de Leiria. Fixei residência na cidade leiriense. Nela nasceram os
meus dois filhos. Durante quase sete anos permaneci exercendo profissionalmente
naquele departamento governamental. Com agrado pessoal tido com o ambiente de
trabalho, quer relativamente à cidade. Uma estadia gratificante que me
proporcionou gratas recordações.
Entre várias, uma profissional de
indelével importância nos meus currículos de vida e de profissão.
Passados poucos meses de actividade
na Direcção de Urbanização do Distrito de Leiria, um dia, o director, distinto
engenheiro civil Egas de Fontes Pereira de Melo Monteiro de Barros, chama-me ao
gabinete e pergunta-me: Godinho, sabe topografia? Já trabalhou em projectos de
vias rodoviárias? Respondi: topografia sei um pouco; projectos, colaborei
nalguns, nos Açores.
A seguir, o Director observa:
temos, aqui, um ofício da Câmara Municipal de Ourém a solicitar o projecto de
um arruamento. E acrescenta: Amanhã, depois do almoço: vamos a Fátima dar
início ao projecto.
No dia seguinte, conforme o
previsto, depois do almoço, partimos para Fátima. Chegados ao local, fez-se uma
volta de reconhecimento do terreno e no sítio previsto no Plano de Urbanização
de Fátima logo, o director, ao meu lado, me diz vamos a isto! De pronto, coloco
o teodolito em estação e dou as primeiras indicações aos dois trabalhadores que
iriam servir de porta-mira e ajudante. Engenheiro Monteiro de Barros, atento,
observa o andamento dos trabalhos e decorrido um quarto de hora, anuncia “vou
retirar-me para Aveiro; já percebi que não precisa da minha presença”.
Tal facto marcou o início da minha
actividade projectista dos arruamentos de Fátima; cerca de metade da quantidade
dos existentes – excluindo as estradas nacionais que atravessam o aglomerado
urbano da cidade.
Importa anotar que naquela época
competia à Direcção de Urbanização de Leiria, superintender na implementação do
Plano de Urbanização de Fátima, de fiscalizar a sua aplicação por parte da
Câmara Municipal de Ourém e prestar assistência técnica a esta autarquia e ao
Santuário de Fátima.
Uma actividade oficial de Brasilino
Godinho que persistiu até 31 de Janeiro de 1963. Data de término do vínculo à
Direcção Geral dos Serviços de Urbanização; por motivo de logo a seguir tomar
posse do lugar de desenhador de 1.ª classe dos Serviços Técnicos de Fomento da
Junta Distrital de Aveiro, precedendo concurso público de admissão e ter obtido
o primeiro lugar de classificação das provas documentais e práticas efectudas.
É ainda em Leiria que também começo
a elaborar projectos de vias rodoviárias a título particular, trabalhando fora
das horas do horário da Função Pública.
Devo, posso, quero e orgulho-me de
reiterar afirmação que tenho feito de vez em quando: desde que iniciei
exercício de funções oficiais até à data em que tomei a reforma, dezenas de
anos decorridos, nunca executei qualquer trabalho particular durante o horário
oficial dos organismos a que estava servindo como funcionário público. Nem
sequer, uma simples operação aritmética. Foi sempre um ponto de honra,
voluntariamente assumido, que respeitei com determinação e sentido de
responsabilidade. Acima de tudo me tenho orientado na vida pelo respeito que me
devo a mim mesmo e que muitíssimo prezo.
Pois saiba o leitor que - tal minha
maneira de ser e de estar em sociedade com cabeça altiva e dignidade - causava
bastante incomodidade e ódio a vários engenheiros e arquitectos. Alguns deles,
prevalecendo-se dos seus graus universitários sentiam raiva pelos meus
desempenhos profissionais e pela frustração de não conseguirem surpreender o
Brasilino Godinho em qualquer acção de incumprimento dos seus deveres de
funcionário público.
Longa, vária e invulgar seria a
narrativa que um dia me propusesse escrever sobre o que foi a pertinaz
perseguição a que estive sujeito enquanto topógrafo-chefe dos Serviços Técnicos de Fomento da Junta
Distrital de Aveiro.
Havia presidentes de Câmaras
Municipais que conhecendo algumas maldades de tais criaturas se admiravam da
capacidade de resistência do Brasilino Godinho.
Um ou outro dos meus inimigos muito
me prejudicaram e à família.
Todavia, sempre considerei que,
felizmente tinha alguns inimigos.
Até pelo facto de existirem e serem
tão activos me estavam sendo úteis. E disso não se aperceberam. Faltou-lhes
perspicácia e inteligência.
É que pelas suas malévolas condutas
me incitavam a fazer-lhes face e a desenvolver a minha capacidade de
resistência e, ainda, mais sedimentar a determinação em prosseguir o trajecto
de vida idealizado na adolescência.
Pretendendo destruir-me, estavam
inconscientemente a fortalecer-me. Sem o quererem e o pressentirem, prestaram
um serviço a Brasilino Godinho. Com alguns danos materiais para ele. Só que se
configurou uma moeda com uma face positiva e outra negativa. Estive a altura de
a conservar a bom recato e dela fazer recurso operacional da minha
multifacetada existência octogenária.
Legendas:- Par amoroso, Brasilino e Luísa.
- Pais Brasilino, Luísa e filhote Jorge, em Leiria.
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