BRASILINO
GODINHO
201. APONTAMENTO
12 de Março de 2019
201. APONTAMENTO
12 de Março de 2019
DESDE JOVEM ENVOLVIDO EM LUTAS CONTRA TABUS
Porque
autoproposto candidato a deputado da Assembleia da República, enfrentando a
impossibilidade de o ser, directamente - como independente - o que se
representa como um autêntico tabu implícito na Constituição da República
Portuguesa; veio-me a lembrança de que as minhas lutas contra os tabus vêm
desde o tempo da transição da infância para a adolescência.
Aqui
e continuando amanhã, vou trazer informações sobre os primeiros tabus que se me
depararam nesse período da minha vida.
Eu,
Brasilino da Costa Godinho, nasci no dia 25 de Outubro de 1931, na freguesia de
S. João Baptista, cidade e concelho de Tomar. Em princípios de Outubro de 1938
dei entrada na Escola Central, do Ensino Primário, sita na Várzea Grande, em
Tomar.
Suponho
que na primeira semana de Julho de 1942 efectuei exame da 4.ª classe, na mesma
escola, com boa classificação. Chegado o mês de Setembro de 1942 impunha-se o
prosseguimento no Ensino Secundário (Liceu ou Curso Industrial ou Curso
Comercial).
Naquela
época os liceus só existiam nas capitais dos distritos. Em Tomar havia o
Colégio Nun’Álvares (propriedade do grande pedagogo Dr. Raúl Lopes e de grande
prestígio em Portugal e Colónias) e a Escola Industrial e Comercial Jácome
Ratton, cujos cursos eram ministrados com elevada proficiência e sabedoria.
Então,
pôs-se o problema que rumo dar à escolaridade do Brasilino? Foi rápida a opção.
A família tinha fracos recursos, Não havia alternativa. O Brasilino foi
matriculado no Curso Industrial de Serralharia Mecânica, da Escola Industrial e
Comercial Jácome Ratton. Aliás, minha irmã, Carmen da Silva Godinho, no ano anterior
tinha-se transferido do curso liceal, do Colégio Nun’Álvares, para o curso
comercial do ensino profissional da Escola Jácome Ratton, então instalada na
Av. Cândido dos Reis. O que aconteceu por imperiosa exigência, decorrente da
escassez de meios financeiros, dos meus pais.
Confronto com o primeiro tabu
Neste
quadro circunstancial de adopção de um rumo de aprendizagem escolar esteve
configurado o primeiro tabu que, inopinadamente, se deparou a Brasilino
Godinho.
Aconteceu
que a escolha do Curso de Serralharia Mecânica, recaiu no percurso escolar que
estava ao alcance da família. Mas que era completamente inadequado para a
vocação e tendência natural do estudante Brasilino: letras e humanidades.
Essa
vocação tornou-se notada pelo seu professor, Faustino Jacinto Costa, que a
partir logo da segunda-classe, do Ensino Primário, lhe passou a ele e ao colega
Sá, filho de um oficial do Exército, em serviço no Quartel-General da III
Região Militar, com sede em Tomar, a tarefa de revisão/correcção dos ditados
feitos, em aula. O professor ditava o texto, após o que eram recolhidos os
cadernos. O mestre verificava os ditados do Brasilino e do Sá, (geralmente, sem
qualquer erro) após o que eram os três que faziam as correcções de todos os
cadernos restantes.
Para
ilustrar a falta de vocação para os trabalhos oficinais exemplifico o que
aconteceu com o primeiro que me foi distribuído na oficina mecânica: um pedaço
de chapa de ferro, quadrado, com 16 cm. de lado e 1 cm. de espessura, cujos
lados, ângulos e espessuras, deviam ser postos em esquadrias a 90º. O aluno
Brasilino, chateado como se admite que esteja um peru na véspera de Natal,
sabendo aquilo que o espera nessa altura, foi limando, limando, limando, sem
conseguir desempenhar-se devidamente da, por de mais, complicada tarefa para o
seu fraco engenho na arte dos trabalhos artesanais.
Posso
acrescentar – por que intensamente sentido – que, nas tardes dos cinco dias
semanais das respectivas aulas, sempre que transpus a entrada da porta da
oficina experimentava a sensação de que estava levando forte pancada na cabeça…
Pelo
que as notas classificativas se traduziram nos níveis baixos correlativos aos
trabalhos de mão e em níveis mais elevados em matérias de estudo e de aptidão
intelectual. Média final: 13 valores. Correspondência: a rondar o plano da
mediocridade.
De
mencionar que anos mais tarde, chefe de família e dois filhos criados, minha
mulher, por vezes, na brincadeira, mas com algum fundo de verdade, dizia
sorridente e com ternura, que eu nem para pregar um prego tinha habilidade. A
consequência é que Brasilino Godinho, desde de muito novo, detesta tudo que
seja actividade manual ou arte artesanal. Todavia para ela, desde que seja da
autoria de outrem, dispensa atenção, gosto, admiração, elogios e incentivos.
Se
frequentei o curso industrial por motivo de o outro possível (liceal) se
constituir per se como um tabu
irremovível da minha hora de dar sequência ao aprendizado escolar, também
identicamente se perfilou no meu horizonte dos anos passados no curso da Escola
Jácome Ratton como um detestável tabu impeditivo de desenvolver capacidades
cognitivas de maiores conhecimentos e desenvolvida formação na área das
humanidades que me era muito cara.
Digo
que por causa de tão malfadado tabu tive que decididamente iniciar e prosseguir
um porfiado e absorvente percurso de autodidacta.
Tabu
me bloqueou. Tabu me determinou decididamente a varre-lo com vigor e
determinação da minha testada.
E
a lutar sem desfalecimento contra todos os tabus que se atravessem no meu
caminho.
Passe
o que poderá parecer relativo exagero: mas quero, de forma irrevogável,
exterminá-los de vez. Tal é o asco que em mim geraram e que conservo
indefinidamente na minha alma.
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