EU, BRASILINO GODINHO, PECADOR E INFECTADO,

ME CONFESSO:

INCORPORO A PESTE GRISALHA…

Se bem me lembro da data, terá sido há dois anos que um singular invertebrado, deputado do PSD, palrando na Assembleia da República, classificou os idosos portugueses de peste grisalha; assim a modos de peste suína africana ou peste bubónica, que causam devastadores prejuízos na sociedade.

Tal ocorrência provocou profunda indignação no campo onde se fixa o largo sector dos cidadãos de provectas idades.

Fui um idoso octogenário que se sentiu ultrajado e escrevi uma crónica na qual repudiava veementemente a afronta feita ao grupo etário que integro.

Passaram-se já muitas luas e hoje dei-me à pachorra de reflectir sobre tão esquisito assunto.

Feita a reflexão, considero de interesse nacional formular esta minha confissão.

Ela consiste em vir aqui admitir que, na reacção tida à época da declaração do deputado do PSD, não terei sido suficientemente perspicaz ao ponto de lhe dar objectivo sentido e de lhe recolher a subtil interpretação que lhe subjaz. Dou a mão à palmatória…

E para bem nos entendermos importa referir o actual e tenebroso quadro do descalabro da sociedade portuguesa.

Ora atendendo a esta aterradora circunstância - que facilita e incentiva a frequência de sugestivas manobras de diversão circense que levam à criação e proliferação dos factores de corrupção e de clientelismos partidários - há que reconhecer alguma pertinência ao tema.

Desde logo, devido à ameaça real ao sossego, liberdade e aproveitamentos despudorados, ambiciosos e repugnantes, de tais indivíduos e grupos – muitos deles sentados à mesa do ORÇAMENTO - que a peste grisalha de rija têmpera e de boa e saudável configuração morfológica, mental e intelectual, representa em alto grau de obstrução decorrente da sua existência e da alta valia de sua operosidade.

E assim posta a questão, tem-se como certa e indiscutível a existência da peste grisalha. Ela é per se, uma peste para tais sujeitos. Afinal, uma valorosa e benigna peste grisalha que se configura como grande estorvo, amarga resistência, e latente perigo, para toda essa gente que tão desvairadamente vem provocando o colapso de Portugal e a profunda desgraça e sofrimento da nação portuguesa.

E por tal considerar, confesso: sinto grande orgulho de estar incorporado na bendita peste grisalha!