45. APONTAMENTO DE
BRASILINO GODINHO
12. de Dezembro de 2017
12. de Dezembro de 2017
O TEMPO DE PIO DE BRAGANÇA
DESTA VEZ NÃO FOI DE ANTENA
MAS SIM CONVERSA DE JORNAL
Duarte Pio de Bragança zeloso dos
pergaminhos da velha e ultrapassada realeza de que se intitula herdeiro, e que
a Divina Providencia - segundo bem julgamos - conservará a sossegado recato nos
seus celestiais domínios, veio agora cumprir a rotina anual de mostrar ao
público que conserva a sua proverbial capacidade de se exprimir em longas
páginas de formato A4 e com a suprema arte de repetir os seus conhecidos e
selectos lugares-comuns que tanto agradam aos seus fiéis seguidores do mundo
marialva da alfacinha cidade.
É verdade que não traz novidades
bombásticas. Nem isso se deve esperar de nobre criatura que está possuída de
tantas certezas sobre a bondade da monarquia. E que nem admite dúvidas acerca
da clarividência, saber e superior visão, que se atribui a ele próprio.
Por tudo que fica exposto e que
generosamente o chefe da Casa de Bragança nos faculta, é já nosso costume
lermos com atenção as suas produções que, a qualquer um, proporcionam risonha
descontracção e assinalável divertimento.
É nossa predilecção descobrir nas
falas e nas prosas de Duarte de Bragança aquele subtil pio que disfarça a sua
veia cómica; esta, por sinal, sempre escondida ora num semblante sério, ora num
riso contrafeito e a despropósito.
Se Duarte de Bragança não trouxe
novidades bombásticas apresentou-se como atirador de lança-chamas e de granadas
de gás lacrimogéneo e de gás hilariante.
No primeiro caso: “As forças
Armadas estavam proibidas de participar no combate porque, segundo a versão de
governos anteriores, é uma concorrência desleal contra as empresas privadas de
combate aos incêndios florestais…”
Imagine-se a confusão que irá por
aí, decorrente do lançamento das chamas que se prevêem alterosas…
No segundo caso: “Aqui os
políticos não me ouvem muito. Não lamento.”
Acabou lamentando. Talvez com
lágrima no olho… E não informou quanto à probabilidade de também as senhoras políticas
não o ouvirem: nem muito, nem pouco. O que seria bastante penoso e de irreprimível
lacrimal…
No terceiro caso: “O rei da
Bélgica, Suécia, Dinamarca e Reino Unido, conversam com os políticos, ajudam a
criar consensos e acordos e previnem contra a corrupção. Sobretudo estão preocupados
que os netos herdam um país em condições.”
Quem diria que a Rainha Isabel do
Reino Unido passasse o tempo com tantas conversas. E até saber que tais reis e
rainhas consideram os respectivos países como suas propriedades privadas; e, “sobretudo,
preocupados que os netos herdam um país em condições.”
Pio esqueceu-se de indicar as
condições.
Outro arremesso de gás
hilariante: “E hoje, o único valor da nossa época é a democracia. Por isso, os
príncipes fazem casamentos democráticos.”
Há que perguntar: Por isso? O que
é um “casamento democrático”? O que tem a ver a democracia com a designação de
“casamento democrático”?
O ex-Rei Eduardo VIII, Duque de
Windsor, que esteve quase a fazer um casamento a três: ele, o amante e a Wallis
Simpson (divorciada duas vezes) teria consumado um “casamento democrático”?...
Para terminar, mais um reparo ao
entrevistado aqui em foco: “a Itália de Mussolini não foi a única monarquia
europeia que viveu um período pouco democrático.”
E nem precisamos de nos
alongarmos no tempo de pesquisa e no espaço europeu, para se ter a confirmação
do que assinalamos. Basta consultar-se a História da vizinha Espanha.
De registar que nas respectivas
épocas quando houve ditaduras lá foram à vela as conversas, os conselhos, as
prevenções e os acordos dos monarcas com os políticos, a que aludiu Duarte Pio
de Bragança, como supostas bases de valorização do regime monárquico e de
superioridade funcional relativamente ao regime republicano.
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