39. APONTAMENTO DE

BRASILINO GODINHO
07 de Dezembro de 2017

PRESENTE ENVENENADO

PARA O MÁRIO CENTENO

Quando a esmola é grande o pobre desconfia…

O inocente cordeiro português caiu nas garras

do insuportável, diabólico, falcão germâmico…

Com a eleição de Mário Centeno para presidir ao Euro-Grupo tocaram em Lisboa as trombetas e tiveram lugar as celebrações de patrioteira composição, a tecer loas de regozijo dito governamental e redito nacional. Da parte dos dois partidos da oposição terá havido grande satisfação devidamente exibida nos salões das respectivas sedes.

Porquê?

Na Comissão Europeia e no Euro-Grupo prevalecem as orientações políticas determinadas por poderosos interesses, a que se cingem os governos e os políticos que lhes são afectos.

O papel de Mário Centeno na presidência do Euro-Grupo está muito limitado e pouca será a margem de manobra para aplicar, no desempenho do elevado cargo, as políticas financeiras que em Portugal têm sido um êxito reconhecido internacionalmente.

É, precisamente, devido a esse previsível facto que Mário Centeno vai ter o nó górdio da sua acção como dirigente máximo do Euro-Grupo. Com negativas consequências para Portugal.

Quem tem acompanhado com atenção as reacções de Bruxelas à recuperação da economia e das finanças de Portugal sabe que ela embaraça a Comissão Europeia e contraria as drásticas medidas preconizadas de cega austeridade – o que se tornou insuportável para o poder da alemã Angela Merkel e dos tecnocratas e políticos de Bruxelas; dado que os resultados das políticas económicas e financeiras do actual governo português são eloquentes desmentidos a quantos afirmavam que não havia alternativa às determinações da Comissão Europeia, do Fundo Monetário Internacional e do Euro-Grupo.

Agora, o fim do mandato do actual ministro das Finanças holandês no Euro-Grupo, foi a altura ideal para o ministro alemão Wolfgang Schauble fazer a jogada política própria de grande mestre do embuste político.

Primeiro, preparou o terreno para oferecer a Mário Centeno o presente envenenado da presidência do Euro-Grupo; proclamando alto e bom som que Centeno era o Ronaldo do Ecofin e das Finanças. Depois, terá manobrado no sentido de convencer os outros ministros das Finanças de que colocando Mário Centeno a dirigir o Euro-Grupo era uma forma de o controlar e obstar que ele continuasse em Portugal a fazer estragos no âmbito da economia e do mercado financeiro da zona Euro, segundo o actual padrão comunitário – o que vinha comprometendo e pondo em cheque a prevalência das políticas das mais altas instâncias da Comunidade Europeia.

Sinal importante do que a Mário Centeno está reservado transpareceu da pronta iniciativa do ministro alemão ao convidar o português para, logo após a tomada de posse a 13 de Janeiro de presidente do Euro-Grupo, se deslocar a Berlim. Não perdeu tempo em mostrar que Berlim manda e comanda as operações e estabelece directrizes. E definiu o que pretende com o encontro:

«O objectivo, adiantou em Bruxelas, passa por falar sobre "as grandes questões do futuro", como a reforma da Zona Euro ou a conclusão da União Bancária.»

Assim, tão simples quanto o descrito, é aplicado a Mário Centeno um colete-de-forças com duplo alcance: primeiro, tê-lo em Bruxelas sob controle; segundo, essa situação significar que, também em Portugal, ele ficará manietado e na impossibilidade de aplicar medidas que desagradem a Bruxelas e a Berlim.

Uma última anotação: impossibilitar a evolução da política vigente em Portugal vem mesmo a calhar aos dois partidos da oposição; os quais se apressaram a proclamar essa possibilidade que muito desejam ver concretizada.

Conclusão a extrair do quadro desenhado em Bruxelas a partir de Janeiro: como se não bastasse ao inocente cordeiro português, Mário Centeno, ter que se haver com a astuta raposa alemã Angela Merkel, ainda lhe aconteceu a desgraça de cair nas garras do insuportável falcão germânico, Wolfgang Schauble. Ou seja: Em Berlim e Bruxelas já estão preparando a incómoda cama em que Mário Centeno se vai deitar muito desconfortavelmente…