O ACTUAL DRAMA NACIONAL
Um presidente frouxo
Um governo medíocre, autoritário e destrutivo
Uma minoria mascarada de maioria parlamentar
Brasilino
Godinho
ACTOR
PRINCIPAL: Pedro Passos Coelho
Declamações
do artista:
Em
data recente: “QUE SE LIXEM AS ELEIÇÕES!”
Ontem:
“MANTEREI A MINHA MISSÃO QUE É DE CONDUZIR O GOVERNO ATÉ ÀS LEGISLATIVAS”.
ACTOR
SECUNDÁRIO: Rui Machete
Declamação
do artista:
Ontem:
“RESULTADO DAS EUROPEIAS MOSTRA “BONDADE” DAS
POLÍTICAS DO GOVERNO” (in
Diário Económico, manchete de 1.ª página).
Aqui,
no espaço antecedente, exposto um descritivo da novela em curso de exibição na
democracia formal vigente em Portugal.
E
antes de avançarmos com nossas considerações permitam-nos as leitoras e os
leitores dar-vos uma nota pessoal que ocorreu há instantes, quando lemos a
afirmação do artista secundário, ministro Machete.
É
que nunca nos aconteceu termos um ataque de riso face a uma manifestação de
humor negro, como quando lemos aquela hilariante referência de Machete à “bondade das políticas do governo”.
Isto aconteceu apesar do ministro Machete já nos ter habituado que a cada sua cavadela sai minhoca.
Isto aconteceu apesar do ministro Machete já nos ter habituado que a cada sua cavadela sai minhoca.
Desta
vez, a minhoca foi de todo o tamanho…
01. Sobre o drama nacional
A
essência do drama está bem presente na vida dos portugueses. Demais a mais,
sofredoramente vivido.
Dispensam-se
observações ou descrições.
02. Sobre o mestre de cena: presidente
frouxo
O
personagem está há muito consagrado como figura demasiado decorativa instalada
no Palácio de Belém e rodeado de uma corte bastante dispendiosa para os
explorados contribuintes
Dá
a impressão de o excelentíssimo presidente estar muito atento ao ambiente
caseiro da apalaçada residência oficial, outrossim discretamente contemplativo
da navegação no Tejo e bastante alheio ao que vai sucedendo em terras
circundantes. De todo, supostamente alheado das evoluções que ocorrem no
Terreiro do Paço; por sinal, bem próximo dos areais de Belém.
E
quanto a eleições europeias é como se elas se tivessem desenrolado na China,
onde há uma semana esteve de visita turística. A propósito: se calhar ainda não
recuperou, o físico e o ânimo, da cansativa viagem… Só que, dir-se-ia que quem
corre por gosto não cansa… nem desgosta.
03. Sobre o artista principal: Passos
Coelho
Já
este ano, se não nos falha a memória, Passos Coelho, durante um comício
partidário, exclamou: “Que se lixem as
eleições! “
Na
altura não se extraíram as ilações correspondentes a tão grave depreciação de
um instrumento essencial da democracia.
E
ontem veio ao de cima o alcance que Passos Coelho subentendia na referida
afirmação; ou seja: as eleições devem ser lixadas desde que não correspondam a
vitórias do partido que chefia. Ponto assente!
Também
no rescaldo da noite eleitoral, Passos Coelho disse que a sua missão é “conduzir o governo até às legislativas” – o que sendo de menor gosto, de mau perder, é
– também - de péssimo agoiro.
Perguntará
o leitor: Porquê? Pela simples razão que Coelho é um desastrado motorista.
Nota-se que, com o governo, se sucedem graves derrapagens causadoras de
irreparáveis danos no tecido social da sociedade portuguesa.
Alertemos
que para tão gravosas ocorrências: tolerância zero! Exige-se o máximo rigor na
aplicação do adequado código de estrada; seja qual for a utilizada por tão irregular
condutor… Os indígenas que se cuidem!
Lá
diz o ditado: ‘gato escaldado de água
fria tem medo’. E com tal motorista a conduzir o governo, toda a prevenção é
pouca.
Além
de que parece conveniente fazer-se a Coelho a seguinte advertência: se julga
ser essa actividade motorizada a sua verdadeira vocação, está profundamente
enganado. Haja entre o círculo dos seus amigos quem tenha a bondade (pegamos na
palavra do seu companheiro de maldades, tristezas, de cavadelas e de minhocas
(Perdão! Queríamos dizer: de víboras(…) governistas) de o despertar para a
realidade que teima em ignorar.
E
já agora, se não é exigir muito a tão obstinada criatura, digam-lhe que está
equivocada quanto à missão que a si própria se atribuiu. Esta, agora apregoada,
nem terá nada a ver com o interesse do Zé-Povinho. A malta dispensa a tristonha
missão de muito bom grado. É sua! Para seu inconfundível proveito pessoal: de
penacho e ocupação de tempos livres de qualquer contradita oficial e de ocasional
controlo constitucional…
04. Os resultados eleitorais de ontem
Marinho
Pinto, foi o incontestável vencedor. Um político a quem se vaticina um
brilhante futuro. Oxalá que não se torne o Pierre Poujade* português.
O
PCP seguiu-o na escala vitoriosa. O PS teve uma amarga e incómoda vitória. A
coligação governamental perdeu com merecimento de causa.
Verdade
iniludível: os resultados eleitorais da eleição mostram que a parceria
detentora do Poder dispõe de uma escassa minoria de portugueses que a apoia.
Os
programas das televisões sobre as matérias eleitorais foram relativamente
fracos e pouco esclarecedores para o grande público. Sucederam-se enfadonhos
debates que, na generalidade, ocultaram com maior ou menor engenho o fulcro da
questão eleitoral.
Perderam-se
horas de antena a ‘chover no molhado’,
como diria o Zé Carioca: percentagens deste e daquele, vitórias e derrotas de
uns e de outros, vantagens e desvantagens para cada partido, a futurologia da
política à portuguesa e sempre repetidamente do mesmo, que cansa, enfastia e
suscita repulsa a quem já não tem pachorra para ouvir mais dos avençados dos
costumes das televisões.
05. O fulcro da questão eleitoral
Para
melhor nos fazermos entender chamemos-lhe o sustentáculo da questão. Ele incide
no colégio eleitoral formado pela totalidade de cidadãos eleitores inscritos
nos designados Cadernos Eleitorais.
Segundo
os dados de 2011 e descontado, por estimativa, um milhão de eleitores
emigrantes e mortos, pode-se considerar que, actualmente, sejam nove milhões de
eleitores habilitados a exercer o direito de voto, devidamente inscritos nos
Cadernos Eleitorais.
Os
resultados eleitorais de ontem indicam que desses nove milhões só votaram 33, 9%
o que se traduz no número de 3, 051 milhões.
Não
votaram 5, 949 milhões.
Dos
3, 051 milhões votantes houve 845, 127 mil eleitores que deram o voto à
coligação PSD/CDS (governamental) a que corresponde uma percentagem de 27,7%.
Portanto,
tome-se nota da insofismável realidade: o número de oitocentos e quarenta e
cinco mil eleitores votantes da coligação, confrontado no âmbito de um universo
eleitoral de nove milhões, é uma ínfima quantidade de portugueses apoiantes dos
actuais governantes.
Esta
realidade, tal como vai sendo habitual, foi sistematicamente escamoteada nas
emissões televisivas e nos tratamentos jornalísticos dos órgãos de comunicação
social.
Sobre
este perverso expediente de ocultação de dados muito precisos e esclarecedores
do facto eleitoral, que ajudam sobremodo a avaliar a natureza e alcance dos
resultados eleitorais, informamos os leitores mais jovens que é uma prática
herdada dos tempos do Estado Novo. Também, nessa época, as entidades oficiais e
os jornais se entretinham a jogar com as percentagens para iludir a realidade
da pequena participação dos eleitores e ocultando os quantitativos de votos
nulos e em branco; a qual, estava viciada, à partida, com o escasso número de
inscritos oficiosamente nos Cadernos Eleitorais.
No
nosso tempo, os Cadernos Eleitorais estão mais preenchidos, mas continua-se a
utilizar idênticos expedientes de se dar grande ênfase às percentagens, que
nada dizem de concreto sobre a verdadeira participação dos eleitores inscritos
e sobre os números de votos nulos e em branco.
Ora
este ‘habilidoso’ e simplório processo de enganar a população tem,
forçosamente de, precedido de denúncia, ser apercebido e repudiado pela maioria
dos portugueses. Dêem-se-lhe os nomes: INTRUJICE! HIPOCRISIA!
Fim
*
Pierre Poujade, foi um político francês que surgiu na cena política em 1953
como fundador de um movimento contestatário, que nas eleições legislativas de
1956 obteve o surpreendente resultado de 2 483 000 votos.
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