MACHETE,
O
MÁGICO DO PALEIO GOVERNAMENTAL...
Brasilino
Godinho
01. Os portugueses vão-se
acostumando penosamente às sucessivas desgraças que procedem da
área governamental. E, geralmente - estando elas associadas aos
emblemáticos protagonistas e figurantes do insuportável elenco
teatral de marionetas, designado por governo e desenvolvendo-se
rotineiramente - acontece que os pacatos cidadãos nem se dão conta
que nelas se representam apuradas artes de prestidigitação, de
malabarismo e de contorcionismo físico e mental desses contumazes
acrobatas que se exibem no circo político que se reparte entre o
Largo de São Bento e o Terreiro do Paço, na alfacinha cidade.
Daí, que os deprimentes
espectáculos se repitam sem suscitarem a devida apreciação
repulsiva dos cidadãos contribuintes.
Tais representações de
obscurante, dramática e trágica teatralidade, vão arrastando o
país para o abismo e a maioria da população para o empobrecimento,
com todo o cortejo de sacríficios e tormentos que lhe são
subjacentes.
E se no campo material os
efeitos são tenebrosos, na área dos valoes atinentes à Moral, à
Ética, à Política, à Sociometria, à Democracia e à Cultura, as
consequências deletérias e calamitosas nem serão menos
devastadoras.
E aqui, temos de nos confrontar
com a perversa fala dos governantes: desvirtuadora da realidade,
ofensiva da inteligência do indígena, manipuldora das consciências
e mentirosa na formulação dos dados, dos comentários e dos relatos
ou declarações sobre factos da gestão dos negócios públicos e da
vida pessoal e profissional de cada grande finório da situação
político/governamental.
Desde
logo, sob este focado elemento - da mentira - do discurso
dos governantes, o destaque vai para o actual chefe do governo - e
para uma numerosa lista de governantes que o precederam. Outros
ministros da actual época do circo político e do folclore
governamental, como Miguel Relvas, Victor Gaspar, Paulo Portas, Maria
Luís Albuquerque, Rui Machete, têm sido acusados de mentir em
diversas instâncias do Poder e perante os órgãos da Comunicação
Social.
Neste preciso domínio das
vigentes impunidade e irresponsabilidade dos audaciosos governantes,
importa fazer um reparo muito simples: é indmissível que alguém
detentor de um alto cargo do Estado use a mentira para encobrir as
suas faltas, sejam elas quais forem. Uma pessoa que não tem coragem
e hombridade para assumir as suas responsabilidades não pode ser um
governante sério, digno, competente, isento, respeitável e
credenciado para o exercício das funções oficiais.
02. A primeira página do
Diário de Notícias, edição de hoje (domingo, 22 de Setembro de
2013), insere a seguinte informação:
"Machete
diz que negou ações da SLN por engano".
Também
atribuída a Machete a afirmação que circula pela Internet e órgãos
da Comunicação Social, de que houvera cometido uma "incorrecção
factual" ao
referir-se à acusação de que mentira no parlamento da República
sobre as suas relações e situação de accionista da Sociedade Lusa
de Negócios - a proprietária do falido banco BPN, de José Oliveira
Costa.
De concreto, estamos perante um
golpe mágico de linguagem que se antevê com profundas consequências
no devir da nação portuguesa.
Em primeiro lugar, é um achado
oportunístico e falaccioso, surpreendente, que se minta por engano.
Esta contingência de um indivíduo mentir por engano, se admitida em
consenso geral ou em articulado de código de conduta e (ou)
disposição legal, virá a ter muitas e graves implicações de
ordem sociológia e até judicial. Isto porque toda a gente erra e um
erro não é um acto ilícito. Logo, ficam abertos os campos da
improcedência e da impunidade em sede de julgamento judicial, visto
que os depoimentos poderão ser mentirosos e, uma vez considerados
formulados por engano, ainda que por distração inoportuna, deixam
de ser sancionados pelo código penal. A ministra da Justiça e a
Magistratura Judicial que se cuidem.
Todavia,
é na descoberta da
expressão "incorrecção factual"
como dessignativa da mentira
que Rui Machete atinge o paroxismo da imaginação criadora, o
esplendor da subtileza artificiosa e a plenitude da sageza
relacionada com a chamada esperteza saloia...
O que, matéria congeminada por
Machete, está em sintonia com o denunciado sentir dos governantes
relativamente aos indígenas. Pois que as excelências governamentais
partem do pressuposto que os cidadãos são mentecaptos e permanecem
entorpecidos no pântano onde se acoita a parolice. E porque
supostamente radicados nesse estádio de debilidade mental não se
apercebem das prendadas e artificiosas elaborações, características
do paleio bacoco e hipócrita, a que se dedicam as inteligências que
tão proficientemente(...) desgovernam e nos prodigalizam
desatenções, agravos e inúmeras violências de múltiplas
naturezas e formatos.
Sintetizando:
a ministra Paulinha da justiça à portuguesa - esta, a complexada
gémea da injustiça - que passa pelas ruas das muito sentidas
armaguras do nosso quotidiano e os magistrados a quem cabe a ingrata
tarefa condicionada de a administrar, enfrentam mais uma
contrariedade de suma dificuldade para ultrapassar e um complicado
quebra-cabeças para resolver, face às implicações que advirão da
prevalência da incorrecção factual em sucedàneo da
mentira que se descortinam no
horizonte próximo.
03.
Realce-se: incorrecção factual -
essa grande e sublimada descoberta de Rui Machete, que, no exercício
das funções de ministro dos Negócios Estrangeiros, está
naturalmente predestinado para cometer incorrecções
factuais - eventualmente, com
graves danos para Portugal e a possibilidade de formatar, ao mais
alto nível da estrutura do Estado, uma deprimente imagem dos
portugueses. Neste ponto, o presidente Cavaco Silva deve estar a pau.
Em estdo de alerta para evitar que tenha de pôr a bandeira a
meia-haste - o que, a acontecer, seria reflexo de mais uma desgraça
nacional.
Uma
coisa é certa: Rui Machete fica com lugar marcado na história
pátria. Ninguém lhe vai tirar o título do português,
extraordinário mágico, inultrapassável alquimista, que conseguiu a
estupenda invenção da sua específica pedra filosofal -
ou seja: a substância milagrosa
que transforma (já transformou...) a rudeza metálica, cinzenta,
repugnante, da mentira, na suave, cativante, macieza aveludada de uma
agradável matéria plástica dourada que designou por incorreccão
factual.
Por
isso e definitivamente, fixemo-nos
nesta certeza: foi o governante Rui Machete que, parte interessada na
questão debatida em público, determinado e objectivo, criou os
conceitos de que se
mente por engano e que mentir
é, simplesmente, uma incorrecção factual. Insistimos:
Simplesmente, brilhante!...
Sem
pretensões de a Machete lhe ofuscar a celebridade e servir de
impedimento a eventuais proventos da descoberta, deixamos uma
sugestão que dará maior abrangência ao seu conceito de incorrecção
factual.
Propomos que a mentira também seja uma incorrecção
formal.
É
o caso de que com a incorrecção formal e em sede judicial, se
poupar na despesa da
justificação e se evitar o incómodo das explicações sobre os
factos. Muito simples, mais funcional e... supostamente bastante
compensatório e de cauteloso resguardo e protecção para os
atrevidos e desenrascados mentirosos.
Nota importante: Se nos é permitida a nossa condição
de português e contribuinte
aqui lançamos uma lembrança/recomendação ao
Supremo Magistrado da Nação.
À atenção
do Venerando Chefe do Estado,
professor,
doutor, Aníbal Cavaco Silva:
O
governante, cidadão Rui Machete, por natural e valorosa decorrência
do narrado feito de descoberta (ou achamento) da sua pedra filosofal,
é um sério candidato à outorga de condecoração da Ordem de
Cristo (mui ligada aos Descobrimentos) com o alto grau de Grande
Oficial, em próxima celebração do Dia da Raça, 10 de Junho.
A BEM DA
NAÇÃO
Esta crónica
foi escrita ao arrepio do novo acordo ortográfico.
Aliás,
todos os meus artigos são escritos nesta conformidade.
Brasilino
Godinho
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