Um texto sem tabus…
UMA ENTREVISTA TÃO IMPORTANTE, QUANTO PREOCUPANTE…
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Cidadão português, leitor do “Jornal de Notícias”, recebi no dia 07 de Abril de 2008, como milhares de portugueses, uma comunicação de Noronha de Nascimento, presidente do Supremo Tribunal de Justiça que, através de entrevista concedida àquele periódico, me forneceu preciosas indicações dos seus pontos de vista sobre a complexa matéria que é a Justiça em Portugal, suas orientações, seus instrumentos e modus faciendi.
Normalmente intui-se que quando alguém presta declarações aos jornalistas é porque deseja transmitir uma mensagem contendo algo de interesse para os leitores ou ouvintes dos órgãos de comunicação social. E tratando-se de uma pessoa que desempenha alta chefia de um órgão de soberania há que lhe dar a maior atenção.
Tal atitude de manifesta receptividade do vulgar cidadão não o dispensa ou inibe de analisar as questões postas pelo entrevistado e de exercer o direito do contraditório - aliás, por princípio, cultivado pelos magistrados – se julgar oportuno e adequado à clarificação das opiniões e dos assuntos expostos ao conhecimento do público.
Pela parte que me toca, acontece ter sido, num sentido positivo, a minha privacidade de leitor invadida pelo texto da entrevista que me caiu inopinadamente nas mãos, pespegada à frente dos olhos. Claro que peça abrangendo três páginas do “Jornal de Notícias”, imperativamente me despertou interesse, quase obrigação de a ler. Assim ficou, implicitamente, estabelecida a ligação do suposto voluntário que foi o jurista entrevistado e o forçado, que de certo modo fui, leitor da extensa conversa entre os dois dialogantes, quase sem no momento me dar conta da transcendência do facto. O que, conjugado com a ideia de que uma entrevista publicada é sempre uma expressão de diálogo estendido aos leitores, me leva a participar nele e a tecer breves considerações sobre algumas passagens das declarações da entidade em causa.
Verdade se diga que a entrevista é importante. Aborda muitos problemas que afectam a administração da Justiça. Há pontos tratados com alguma confusão. Sobretudo contendo abordagens feitas com muita reserva mental que terão de ser bem interpretadas por quem tenha algum traquejo de leitura nas entrelinhas. Estou a referir, especialmente, a parte da entrevista em que o presidente do Supremo Tribunal da Justiça é questionado sobre a influência da Maçonaria e Opus Dei na área da Justiça.
Que disse o presidente do Supremo Tribunal da Justiça em resposta às perguntas que a jornalista lhe fez sobre a dependência da Justiça face à Maçonaria e Opus Dei?
Algumas coisas que inquietam o vulgar cidadão. Das mais importantes esta afirmação: “Admito, é perfeitamente possível”.
Neste ponto todos estaremos inteiramente de acordo. Pela minha parte, nunca admiti que o fosse imperfeitamente. Quer a Maçonaria, quer a Opus Dei fazem tudo na perfeição no que toca às práticas e influências não visíveis...
A seguir, o entrevistado informa que há juízes que pertencem àquelas organizações secretas. Curiosidade: Como sabe?
Quando a jornalista lhe pergunta se “não vê problema na existência de juízes que façam parte da Maçonaria ou da Opus Dei”, o entrevistado - com impressionante candura - responde: “É o mesmo que fazer parte de um partido”.
Claro que como os partidos não são inteiros, no seu estado interessante de fragmentados, lá cabem (nas chamadas partes gagas) os maçons e os irmãos da prelatura de Josemaria Escrivá de Balaguer y Albás. Mas anote-se que Sua Excelência está errada.
A jornalista apercebendo-se da incongruência, contrapõe: “Estamos a falar da independência dos juízes e o direito dos cidadãos a uma Justiça isenta. De que forma é que a Justiça pode defender-se da influência de poderes ocultos?”.
O presidente do Supremo Tribunal de Justiça observa:
“Das duas uma: o juiz ou é um cidadão normal ou então não convive com ninguém. Não se pode coarctar toda a liberdade ao juiz, é impensável. Agora, o estatuto impõe certas reservas. Por exemplo, não pode ir a um comício falar, mas pode ser membro de um partido…”.
A resposta, algo agastada, tem a sua graça. E não se percebe bem a relação entre independência dos juízes e o não conviverem com ninguém. Todavia há que realçar que uma coisa é o juiz conviver normal e informalmente com outras pessoas e outra muito diferente e comprometedora é o “convívio” anormal, fraternal e condicionante do juiz no interior das “lojas” ou das “oficinas” da Franco-Maçonaria e capelas da Prelatura de Josemaria Escrivá de Balaguer y Albás. Não esquecendo a observância do que é determinado nas “pranchas”, a que estão obrigados os maçons. Sublinhe-se que se membro de um partido não pode ir a um comício falar à frente do público; no entanto, pressupõe-se que, no entendimento de Sua Excelência, se maçon poderá ir às lojas e oficinas falar às escondidas dos profanos…
Em contraposição à bondade de os juízes poderem estar ligados às organizações secretas, Maçonaria e Opus Dei, não podem estar ligados ao mundo do futebol que tem pouquíssimo de secretismos.
Interpelado: “O que tem o futebol de mal”? Explicou: “Sobre o futebol lançam-se anátemas, labéus. Então, é melhor as pessoas preservarem-se. Como há tanta desconfiança, é perfeitamente dispensável os juízes andarem no futebol”. Reforçou a ideia como a seguinte nota: “O Conselho Superior da Magistratura não gosta da aproximação dos juízes a clubes”.
Quer dizer: aproximar juízes a clubes é suspeito e torna-se necessário “as pessoas preservarem-se”; ou seja: ter bem presente que a mulher de César além de séria também o deve parecer. Em contraposição, ser “irmão” da Franco- Maçonaria ou da Opus Dei não dá azo ”a suspeitas que estragam tudo”… Nem importa aos juízes preservarem a sua imagem e isenção. Intrigante, tal raciocínio. Dá que pensar!
Concluindo
A entrevista do presidente do Supremo Tribunal da Justiça, por inerência também presidente do Conselho Superior da Magistratura, induz confirmação que:
01 - Os poderes ocultos estão infiltrados na Justiça – lá se sentem como peixes dentro de água. Nada, nem ninguém os incomoda.
Já do poder do futebol, porque fraquinho e exibicionista nos estádios, sem os recursos dos ajuramentados, dos jogos de sinais, das senhas misteriosas, das “pranchas”, dos cultos esotéricos que os condicionem e das lições iniciáticas que submeteriam os seus detentores, não se dirá o mesmo… O futebol é o mau da fita… A Justiça está com olho nele… E a espada erguida ao alto…
02 - Na Justiça, quer a Franco-Maçonaria, quer a Opus Dei, fazem uso e abuso de grande influência e poder.
03 - A influência e o poder das citadas associações secretas não tira, como se deduz, o sono aos respeitáveis cidadãos que exercem funções nos escalões máximos da administração da Justiça.
Portanto, têm cabimento as inquietantes dúvidas: O anónimo cidadão, se confrontado com a Justiça, pode confiar na sua “cegueira” facultada pela “venda” que, hipoteticamente, lhe tapa os olhos, no bom funcionamento da simbólica “balança” e… dormir descansado?
Infelizmente, nestas condições, está anulado ou irremediavelmente prejudicado o relevante papel que caberia à Justiça de ser a RESERVA MORAL da NAÇÃO.
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