Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

terça-feira, abril 15, 2008

Um texto sem tabus…

SOBRE AVEIRO, ANTES DE QUERER, HÁ QUE REVER…

III PARTE – CUIDAR DO PRESENTE

E ACAUTELAR O FUTURO…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana,blogspot.com

Neste dealbar do século XXI a cidade de Aveiro está tolhida na sua vivência pelos efeitos decorrentes dos estrangulamentos financeiros a que está sujeito o município. É evidente que se impõe arrumar a casa, pagar aos credores e fornecedores. Numa palavra: proceder ao saneamento financeiro. Enquanto este objectivo não for alcançado de poucas margens de manobra disporá a autarquia para sustentar uma política de gestão corrente. Também não haverá recursos, sejam financeiros, sejam operacionais, para se abalançar a iniciativas de grande fôlego apontadas à satisfação das necessidades rotineiras ou de provisão às ocasionais entretanto surgidas inopinadamente.

Não obstante as contrariedades e os bloqueios sobejamente conhecidos importará assegurar, apesar das condições prevalecentes, melhor qualidade de vida aos residentes e a todos que demandem Aveiro. O que implica cuidar do ar; manter a cidade limpa; garantir o normal funcionamento das redes de saneamento básico, de electricidade e de gás; reparar os pavimentos das faixas de rolagem e passeios das ruas e avenidas; zelar pela imagem da cidade como cartaz turístico; dispensar atenção ao funcionamento dos estabelecimentos de assistência hospitalar, de atendimentos urgentes e de primeiros socorros; dar incentivos ao comércio e indústria locais; proporcionar os meios solicitados pelos serviços dos bombeiros; apoiar as actividades das polícias de segurança pública; colaborar intensamente com as escolas e com a Universidade. Também acabar com os nojentos espectáculos dos edifícios que ameaçam ruína ou estão em adiantado estado de degradação.

Tudo isto parecendo pouco representará muito de esforço e aplicação das autoridades a quem cabe administrar a urbe aveirense. E não só. Também tem custos financeiros que exigem verbas com grande peso no orçamento municipal. Igualmente imprescindível o zelo, o acompanhamento de exigência, o aceno de rigor e a atitude de crítica construtiva do vulgar cidadão.

Enfim, cuidados, trabalhos e actividades, indispensáveis que significam estar “todo o mundo” aveirense atento ao presente e com os olhos postos no futuro. Assim procedendo, o colectivo dos cidadãos e a autarquia interagem; o que proporciona expedientes e mecanismos dinâmicos de gestão municipal mais acertada e responsável. De melhor modo se estará acautelando o porvir de Aveiro.

Entrementes, com a determinação de enfrentar o momento, há que pensar nos tempos que estão para vir. Neste ponto é que “a porca torce o rabo”. Difícil será manter estável o dito da fêmea do suíno…

Desde logo, ao nos debruçarmos sobre o complicado tema da preparação, abertura e consolidação da via por onde correrão os dias, as semanas, os meses, os anos e, até, os séculos, da existência da urbe aveirense, fica-se com a esquisita sensação que se nos depara não uma mas inúmeras porcas que, desalmadamente, torcem e retorcem os respectivos apêndices traseiros. Se aqui é permitida a expressão (e, por certo, ninguém se ofende…) – uma grande gaita!

Tão avantajada que, nem sequer, fazemos mínima ideia do tamanho e dificuldades em lhe dar a volta por cima ou por baixo…

Tal juízo faz todo o sentido se nos lembrarmos das vezes em que foram cometidos, com a maior ligeireza e voluntarismo, erros crassos que se constituíam ameaças de provocarem tremendos efeitos; os quais, felizmente, não foram concretizados em obras. Tomemos nota de alguns desses erros: a construção de uma torre, com dezenas de andares, no Cojo (chegou a ser lançada a primeira pedra no decorrer de pomposa cerimónia); a construção do ramal de caminho de ferro para o porto de Aveiro, no separador do IP (ideia designada como diabólica pelo engenheiro Zúquete, conceituado especialista em vias ferroviárias). Ou aqueloutras iniciativas menos danosas mas que envolveram gastos apreciáveis a seguir mencionadas: a instalação de semáforos na Ponte-Praça General Humberto Delgado; os táxis flutuantes na Ria; a pista de ciclistas no passeio central da Av. Lourenço Peixinho; os dispendiosos festejos da escandalosa falsa passagem do milénio; as construções de algumas rotundas mal concebidas sem apuro técnico; os contínuos desacertos nas programações dos planos de distribuição do trânsito motorizado; o parque subterrâneo da Praça de Marquês de Pombal; as incríveis novas avenidas que mais parecem ruas de aldeias em estádio de confrangedor atraso; o estupendo viaduto sobre o caminho-de-ferro da CP, ali para os lados da Esgueira, com os acessos tão inclinados que nos trazem a lembrança das montanhas russas dos carrosséis das feiras.

Todo este incompleto rol de “misérias” urbanísticas causa espanto. Igualmente, perplexidade. Como foi possível? Técnicos mal conceberam e pior elaboraram os projectos. Técnicos com displicência ou por incompetência os terão informado favoravelmente. Gestores políticos, distraídos ou negligentes, provavelmente ineptos, os apreciaram (saberiam fazê-lo?) e aprovaram. Todas estas enormidades processuais e factuais passaram por todos os crivos, não cumpriram normas, não acataram regulamentos, excederam orçamentos, ultrapassaram conveniências, sobrelevaram incompetências, desvalorizaram o interesse público, desdenharam da utilidade necessária, comprometeram na área financeira o porvir da instituição autárquica, apoiaram-se na ligeireza das decisões, confiaram cegamente na impunidade das iniciativas levianas e imponderadas e muitas delas induzem uma condenável indiferença pelas situações complicadíssimas de insolvência a que arrastaram os empreiteiros e os fornecedores. Tudo isto se fez - e há indícios que continuará a fazer-se - sem ninguém assumir responsabilidades efectivas e penalizadoras para os autores e promotores irresponsáveis. Nem cidadãos, órgãos dos poderes central e local, instâncias judiciais, vieram a terreiro interpelar os prevaricadores e cobrar-lhes as responsabilidades.

Isto citado como preâmbulo para anotarmos o disparate de três extravagâncias - quais enormes disparates - que estão anunciadas:

01 - A construção de um “metro” de superfície que é coisa incompatível com as características do tecido urbano da cidade de Aveiro. Todavia, se for ligação entre Aveiro e Águeda, muito bem. Se for para o incluir na malha viária urbana mais que mau, será péssimo. Os transportes colectivos por autocarros são os mais adaptados às condições geométricas da planimetria de Aveiro. Embora arrostando com algumas dificuldades resultantes dos estrangulamentos de perfis dos traçados em determinadas zonas da antiga centralidade da cidade.

02- A construção de um parque de estacionamento na Av. Lourenço Peixinho (só porque o cofre municipal precisa de verbas para as escolas, advindas através de permutas com os empreiteiros), qual fantasia estrambólica, inútil, precisamente num local quase paredes-meias com o amplo espaço de aparcamento de viaturas do Fórum. Esta, outra ideia diabólica que, se fosse concretizada seria mais uma excrescência no traçado da “avenida”, acentuando a desfiguração que lhe foi introduzida pela famigerada e raramente utilizada pista de ciclistas.

03.- A construção de um campo de golfe na zona desportiva a que, na região, se acrescentaria um (ou dois?) anunciado para a Vagueira, no concelho de Vagos.

Está generalizada a mania dos campos de golfe. Qualquer dia, em Portugal, haverá mais campos de golfe que praticantes da modalidade. É um dado adquirido que os campos de golfe absorvem grandes fornecimentos de água. Mais tomemos consciência que Portugal, de facto, está ameaçado de desertificação nos próximos 30 a 50 anos. Aliás ela já avança pelo Algarve e Alentejo e vai prosseguir pelo interior em direcção ao Norte, facilitada pelas alterações climatéricas em curso. Todos estes factores vão provocar crescente escassez do precioso líquido imprescindível à vida. Portanto, é um erro grosseiro criar mais campos de golfe. O Governo deve intervir neste específico domínio das actividades de lazer, travando a onda de insensatez e irresponsabilidade que se vai instalando um pouco por todo o território nacional.

Dando conclusão a esta crónica, repartida por três partes, manifestamos repulsa pelas decisões irreflectidas que, geralmente, concretizadas em políticas e em empreendimentos, são muito danosas para os interesses da comunidade.

Outrossim, lamentamos que os antecedentes e as práticas correntes na administração autárquica aveirense nos deixem - a todos quantos se interessam pelo bem-estar da sociedade - apreensivos e receosos das deliberações precipitadas e inconsistentes dos gestores autárquicos aveirenses.