Leitor,
Pare!
Leia!
Pondere!
Decida-se!

SE ACREDITA QUE A INTELIGÊNCIA

SE FIXOU TODINHA EM LISBOA

NAO ENTRE NESTE ESPAÇO...

Motivo: A "QUINTA LUSITANA "

ESTÁ SITUADA NA PROVÍNCIA...

QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É...

e cordialmente se subscreve,
Brasilino Godinho

quarta-feira, abril 09, 2008

Estimadas senhoras

Caros senhores

Junto um texto em que, a pretexto de conversar sobre Aveiro, formulamos considerações de âmbito geral sobre a situação do País.

Com os melhores cumprimentos.

Brasilino Godinho

Um texto sem tabus…

SOBRE AVEIRO, ANTES DE QUERER, HÁ QUE REVER…

II PARTE – UMA VISÃO CRÍTICA

FOCANDO ASPECTOS “ESQUECIDOS”…

Brasilino Godinho

brasilino.godinho@gmail.com

http://quintalusitana,blogspot.com

A situação é reconhecida. Com facilidade, sem esforço de apreciação, em cada canto, aldeia, vila, cidade. Geralmente aceite por todos que tenham olhos e discernimento. Sem reservas. Por tão evidente alguns, que a tentam ignorar ou fingir que não a apercebem, caem no ridículo e são apontados a dedo como cínicos, intrujões, grandes aproveitadores ou desavergonhados beneficiários.

Não obstante, há que repetir até à exaustão as referências às características do calamitoso estado de coisas, aos malefícios do sistema vigente, aos erros correntes da Administração e, até, às formas apática e negligente como a sociedade nuns casos não reage e noutros, simplesmente, se resigna por lhe faltar ânimo, coragem, saber e sentido crítico.

Por isso somos dos que não se cansam de falar e escrever sobre aspectos importantes que importa manter na ribalta em chama viva que desperte as consciências e as capacite de que urge dar novo rumo a Portugal.

Aqui, neste canto ocidental da Europa e no nosso tempo, perderam-se valores de referência moral e ética, renegaram-se princípios, subverteram-se normas, introduziram-se, atabalhoadamente, alterações avulsas na Administração e na Justiça. Na ânsia de renovar e fazer de novo perdeu-se, também, o sentido da contenção e sobretudo a perspectiva do Bem Comum. Esta se bem compreendida e melhor congeminada decerto se apoiaria no vasto e diversificado património existente. Este abrangendo os planos material, social, económico-financeiro e o capital humano.

Claro que, agora, no enquadramento do caos estabelecido e da desorientação geral se reúnem as condições propícias para a geminação de ideias absurdas e o fomento de interesses particulares propícios a todos os desmandos; sejam eles confinados nos comportamentos individuais ou nos desígnios das realizações materiais.

De tudo isto resultou a prevalência de uma falseada mentalidade democrática que é convenientemente alimentada por quantos estão no teatro das operações apostados em dela tirar o maior proveito sem olhar a meios e muito menos considerando as insuficientes condições de vida da maioria dos seus semelhantes.

Temos, assim, estabelecida, consagrada e aplaudida a confusão sobre a gestão democrática da sociedade.

É notória a perversidade que está associada à peregrina ideia de extravasar a concepção democrática da área da governação aos diferentes níveis do Poder Central e Local, para quaisquer outros peculiares sectores da organização do Estado e da área empresarial que, pela sua natureza, não podem ser eficazmente dirigidos por colectivos, nos quais, geralmente, se acomoda a ineficácia e se dilui a responsabilidade. Ao nível da própria estrutura cimeira do Estado é frequente ocorrerem situações em que ninguém assume responsabilidade pelos erros praticados. Por exemplo: na presidência do Conselho de Ministros, nos ministérios, nos tribunais, nos serviços fiscais, nos estabelecimentos hospitalares, nas escolas e nas câmaras municipais.

Estas pertinentes considerações levam-nos a retomar o “discurso” da primeira parte da presente crónica.

Para assinalarmos que nos decénios após 25 de Abril de 1974, no Município de Aveiro, os gestores autárquicos, sem rumos completamente definidos, actuaram como bombeiros que acorrem a extinguir fogos ou como cantoneiros chamados a tapar buracos. Aplicaram-se políticas inconsistentes e pontuais de desenvolvimento, falhas de planeamentos bem estruturados com horizontes a médio e a longo prazos e, sobretudo, traduzindo objectivos bem definidos quanto ao futuro da urbe. Futuro encarado numa perspectiva de definição da morfologia e das valências da cidade que se antevisse concretizada num prazo nunca inferior a 50 anos. Haveria que estabelecer sólidas bases de partida para, ao longo do tempo, se irem implementando ordenamentos do solo, equipamentos sociais, desportivos, de lazer, industriais, infra-estruturas viárias, de saneamento básico, meios de transporte, estabelecimentos de ensino, espaços verdes. Valências devidamente integradas de modo a proporcionarem complementaridade e o melhor funcionamento quer a nível zonal, quer na totalidade do perímetro urbano; sem se olvidar a envolvente rural.

Infelizmente o planeamento de Aveiro considerado na sua verdadeira, racional e necessária dimensão, jamais foi preocupação dos autarcas dos últimos 34 anos; para nos cingirmos só ao período pós 25 de Abril de 1974; qual data fetiche para muitos democratas das novas vagas que, desconhecendo o que houvera antes, teimam - e se deslumbram - em considerarem que nestes 34 anos é que aconteceu progresso em Portugal.

Neste ponto - e por que estamos à vontade para o dizermos relativamente ao regime do Estado Novo de que temos más recordações e que, sobremodo, bastante nos prejudicou – há que abrir um parêntesis e notar duas coisas:

- Primeira, o desenvolvimento de Portugal nestes últimos 34 anos deve-se aos financiamentos da União Europeu que, pela sua fartura, quase obrigavam as autarquias a fazerem obras para aplicar as verbas que lhes estavam consignadas. Nestas andanças da Administração quando há dinheiro facilmente surgem e se evidenciam os grandes artistas que, espertos como manhosas ratas de sacristia, não deixam os seus pessoais “créditos” por mãos alheias.

- Segunda, nas décadas de 50 a 70, sem auxílio estrangeiro, o regime promoveu grandes progressos nos meios rurais e urbanos por força das aplicações dos Planos de Fomento trienais; os quais, todos os anos sofriam actualizações consoante as indicações dadas pelas câmaras municipais. Através deles construíram-se escolas, arruamentos, estradas, redes de esgotos de águas pluviais e residuais domésticas, de abastecimento de água, de electricidade, cemitérios, igrejas, hospitais, estádios, quartéis de bombeiros, edifícios públicos como sedes de juntas de freguesia, os grandes empreendimentos hidroeléctricos (barragens do Castelo de Bode, Bouçã, Cabril, Picote, Caniçada, etc.) pontes (como a actual 25 de Abril, Arrábida, Vila Franca de Xira, etc.) dispersas por várias parcelas do continente e ilhas adjacentes (Madeira e Açores).

Isto, nesta crónica, referido pela razão de haver muito descaramento e bazófia da parte de gente que, na ignorância do passado - o tempo da ditadura salazarista (“democracia orgânica”) - que precedeu a actual ditadura maçónica (democracia formal, sem expressão real no colectivo dos cidadãos), se atreve, sistematicamente, a condená-lo com acinte, sectarismo, chegando ao ponto de negar as realizações das obras públicas e, em contraposição, nos “massacra” com o auto-elogio e a exaltação de predicados nem sempre existentes no actual sistema e no mundo dos gestores da Administração Pública. Claro que o regime salazarista teve muito de péssimo. Mas apontarmos a faceta terrível da política do Estado Novo, sofrida pela maioria dos portugueses, não inviabiliza o reconhecimento de algumas práticas de nítido interesse público, como sucedeu no sector das Obras Públicas e na área do Poder Local; onde, por exemplo, se distinguiram autarcas que imprimiram marcas indeléveis das suas enormes capacidades de visão estratégica para as suas cidades, como o Eng.º Duarte Pacheco e António Maria Santos da Cunha, respectivamente presidentes dos municípios de Lisboa e Braga em determinados períodos da vigência do Estado Novo.

Esta anotação reforça-se na circunstância de já não haver pachorra face a tanta pesporrência de muita rapaziada que anda por aí, constantemente, a encher a boca com as virtudes do Poder Local da actualidade que - diga-se - não sendo poucas, também não são de tal modo abrangentes que inibam a verificação de que incompetência e podridão nele permanecem instaladas.

Esclareça-se que as precedentes observações algo lisonjeiras sobre o Estado Novo não desculpabilizam o enorme atraso do País em diversos domínios, relativamente aos países europeus, devido às políticas retrógradas do ditador Salazar. O que foi executado ao abrigo dos Planos de Fomente mais não representou que uma tentativa de recuperação e ajustamento às contingências imperativas e decorrentes da evolução do espaço europeu que, rapidamente, evoluía de um estádio de destruição e miséria em 1945 (termo da segunda grande guerra mundial) para uma florescente situação de progresso e bem-estar social.

(Continua a terceira parte na crónica da próxima terça-feira)