Um texto sem tabus…
O Paulinho cresceu e é valente…
Logo, a política lusa está rica: tem Paulão!
Brasilino Godinho
http://quintalusitana.blogspot.com
Se alguém tinha dúvidas agora perdeu-as.
O conhecido Paulinho das Feiras, dos Mercados e das Lotas, que já tinha mostrado a sua garra de destemido moço ao tempo do semanário “Independente” no qual atacava e injuriava bastante gente e, posteriormente, não hesitava em beijocar as peixeiras e as vendedoras de hortaliças, dançar o vira com as moçoilas da Nazaré, meter-se em namoricos com a “tia” Cinha Jardim, lançar-se nas farras das discotecas algarvias e, em certas ocasiões solenes, podar ou fazer (para português pasmar) as vindimas na Bairrada com um largo sorriso de gozo estampado no franzino rosto, frente às câmaras das televisões, teve no dia 29 de Fevereiro de 2008 o seu esplêndido rasgo de emancipação varonil e de inopinada glória devidamente registado para a posteridade pelas oportunas filmagens das redes televisivas. Ele, Paulinho, jovem desembaraçado e frenético, deu um ar da sua incomensurável (des)graça enquanto decorria o debate com o primeiro-ministro, na Assembleia da República, acerca do transcendente assunto dos “calotes” – seus e do Ministério da Agricultura.
No meio da grande confusão que se estabeleceu com acusações mútuas, às tantas, o Paulinho, colérico, respirando fundo, olhar esgazeado, semblante terrífico, cabeça a oscilar como pêndulo do relógio de campanário da igreja dos Milagres, de pé, em riste, sem tento na língua, gritou: “Senhor primeiro-ministro não tenho medo de si”! A seguir, de pronto, atirou-lhe uma bujarrona de todo o tamanho: “Perdi o respeito por si senhor primeiro-ministro”.
Daí a breves instantes, o primeiro-ministro Sócrates erguendo-se, enchendo o peito de ar, apoiando a mão esquerda no tampo da bancada, curvando-se ligeiramente para a frente e com largos gestos coreográficos do membro superior direito a acentuar o tom da voz firme, respondeu desalmadamente ao Paulinho: “Também eu não tenho medo de si”!
Que grande gaita… – considerámos ao ver a reportagem televisiva.
De lamentar que nenhum dos contendores tivesse recorrido ao manguito que celebrizou o Zé-Povinho. A representação ficava mais conseguida na sua expressão artística… e era-lhe dada maior intensidade dramática… Factor não despiciendo num espectáculo teatral apresentado num das salas mais sumptuosas de Portugal.
Entretanto aquilo que, num ápice, se chegou a admitir – o confronto físico – não se verificou; com profundo desgosto dos que adoram presenciar uma dura briga ou entusiasmante combate de box. Uma frustração inconsolável. Assim considerando, foi pena…
Resultado: empate técnico… perante a estupefacção geral.
Aparte o aspecto negativo do caso, anote-se a dupla chatice da má sorte do agressor Paulinho e do agredido Sócrates. Como vão os dois coabitar na Assembleia sem o “respeito” do amargurado parlamentar centrista em má hora perdido e, provavelmente, de muito difícil achamento naquela casa mal assombrada.
Sim! Por que logo foi dado um péssimo sinal quanto à hipotética recuperação do inestimável endereço do Paulinho. Nenhum dos circunstantes esboçou um gesto de solidariedade e de conforto para com o Paulinho repentinamente colocado em posição de empobrecimento dos seus bens. Tão-pouco alguém manifestou disponibilidade para a busca do “respeito” que o travesso Paulinho perdera no ardor da luta travada com o chefe do Governo. Mais grave é que a própria Assembleia da República ficou prejudicada no seu património institucional com a lamentável perca do precioso “respeito” que integrava a herança familiar de um seu destacado membro.
Bem apreciada a cena, tratou-se de uma ocorrência excitante. Patética. Desengraçada. No “palco” exibiu-se uma peça dramática de literatura de cordel. Evocativa das cenas de bazófias infantis que normalmente acontecem nos recreios das escolas do ensino primário. Mas - convenhamos - apropriada ao local, às circunstâncias e ao estado da Nação. Se quase tudo em Portugal está ou se processa ao nível primário não nos admiremos destas cenas, eventualmente chocantes pela nítida caracterização primária, sucederem num local de lutas acesas e obscenas como é o hemiciclo da Assembleia da República.
Também se deve assinalar a importância de ficarmos habilitados a dormirmos tranquilos, sabendo que o inefável, inexcedível, inevitável, inextirpável, incrível, inimitável, Paulinho, cresceu, está um homenzinho. Embora um pouco desbocado, está por aí para as curvas. Ninguém lhe mete medo (nem o chefe do Governo) e, acima de tudo, não é nenhum “copinho de leite” que se atemorize com qualquer coisinha; mesmo que sejam uns “calotes” (grandes, médios ou pequenos) de mais rara espécie…
Por sua vez, o primeiro-ministro Sócrates demonstrou que não é ave de arribação que se atemorize com qualquer colorido espantalho que lhe surja pela frente, mesmo que representado na figura do Paulão - cognome a que, a partir desta data, o Paulinho tem direito de uso mercê da sua estupenda atitude de desafinação pessoal.
Ah! Não obstante os privilégios e resguardos inerentes a portas sempre escancaradas no tecido social da capital alfacinha, impõe-se uma recomendação para todos que se aproximem do novo papão da política à portuguesa: tenham cuidado em não lhe pisarem os calos. Precatem-se! Não percam de vista o imprevisível Paulão…
Todo o cuidado é pouco com gente de índole guerreira…
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